No plano federal os últimos dias foram muito agitados, especialmente com a subida consistente da cotação do dólar, apesar das sucessivas e fortes intervenções do Banco Central que nessa brincadeira torrou algo como 30 bilhões da moeda americana. São nossas reservas pagando a conta da incompetência e desacerto do governo Lula.
Estamos encerrando o ano num mar de incertezas e o mercado reflete isso. Ninguém parece estar disposto, a não ser recebendo juros estratosféricos, a comprar títulos do Brasil. A causa primária é, embora o Lula negue, de ordem fiscal. O governo não consegue sair da gastança desmesurada, com seus quase 40 ministérios esbanjadores e estatais a gerarem prejuízos seguidos. O pacote fiscal soou como piada, não corta nada além de aumento do salário-mínimo e aposentadorias, e recursos do BPC – Benefício de Prestação Continuada, que beneficia pessoas com deficiência e idosos, ou seja, foi no lombo do pobre. A rigor, a canetada no máximo diminui a velocidade do crescimento das despesas e joga um pouco mais para a frente o rombo contratado. Com isso, perde a confiança dos investidores e o ciclo se retroalimenta.
Como se trata de um projeto de poder sem projeto de país, enquanto faz toda M* na economia, Lula ensaboa votos no parlamento para aprovar seus projetos e evitar a formação de uma onda contrária. As emendas PIX foram transformadas, apesar do STF, em mensalão modernizado. Não tenho dúvidas de que no futuro essa jabuticaba vai levar gente a se explicar perante a justiça e o povo. Não é possível que dure para sempre essa drenagem de recursos públicos.
De sua parte, a “Justa” cumpre o papel acertado de garantir pela perseguição permanente, que os adversários do regime clepto-juristocrata se mantenham intimidados e em minoria no parlamento – único poder capaz de deter a escalada autoritária. Depois de prenderem ao largo do devido processo legal, generais e generais, o alvo principal, Jair Bolsonaro, está por um fio. O homem que ousou enfrentar o projeto do Foro de São Paulo pode ser preso a qualquer momento, a depender do humor que tenha ao acordar, o algoz da liberdade.
De todo modo, o ano de 2025 será muito difícil. Para os mais otimistas (governo) a inflação será alta, mas estará sob controle, o câmbio idem, juros idem e taxa de crescimento na meta. É muita boa vontade achar que o Brasil estará, como um doente em UTI, em estado grave, porém estável, dependendo de tempo e reza para melhorar e vir para o apartamento e, quem sabe, sair serelepe em 2026.
Para os realistas (mercado), sem reforma na reforma fiscal, os juros aumentarão para que a inflação não estoure, o câmbio se manterá no novo patamar (mais de R$6,0/US$) com viés de alta e o PIB não alcançará a meta. Em suma, o paciente Brasil não morrerá, mas não sairá da UTI em 2025. O mercado não acredita em orações.
Para os pessimistas (oposição), sem um choque de austeridade, pacificação política e um projeto nacional, a política fiscal do governo deteriorará as contas e a credibilidade do governo, os juros continuarão subindo, mesmo assim o dólar e a inflação seguirão com viés de alta. Com baixo investimento, o PIB ficará no raso. Uma mistura que lembra a estagflação dos anos 80. Neste caso, o paciente Brasil teria o quadro agravado e, quem sabe, se poderia pensar até em mudar a equipe médica antes de 2026.
Veremos quem tem razão. No Brasil “nada acontece” antes do carnaval, a não ser, de dois em dois anos, as eleições para as mesas da Câmara dos Deputados e do Senado. Pelo desenho atual, serão eleitos dois cozinheiros dos pratos palacianos. A tendência é ficar na mesma, com as duas atuando para conter a oposição e amasiadas ao executivo em troca escancarada de favores. Enquanto não tivermos presidentes das casas legislativas sem rabo preso no STF, a não ser por uma força incontrolável vinda das ruas (caso Dilma), o parlamento continuará genuflexo.
Não há esperanças para os brasileiros enquanto estivermos sob o governo desse conluio macabro. Em cada aeroporto deste país deveria haver como no “Inferno” de Dante, uma faixa com a frase “Lasciate ogne speranza, voi ch’intrate.”
*Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no DIÁRIO DO ACRE, no ACRENEWS, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.