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Bioeconomia na ordem do dia. O que vem no horizonte?

Largo momentaneamente o debate político para tratar de uma questão bastante séria e que, de certo modo, deveria estar na ordem do dia. Tive a oportunidade de participar na última semana, mais precisamente nos dias 22, 23 e 24, do II Fórum de Bioeconomia da Amazônia, promovido pelo Governo do Estado, FUNTAC e SEBRAE, e também apoiado pelo Senador Alan Rick. Com presenças muito importantes, entre as quais destaco os palestrantes Israel Freitas, empresário da indústria farmacêutica – Sierra Pharma; João Mendes, empresário digital mais bem sucedido na América Latina, criador entre outras da NonStop; José Luiz de Paula Júnior, famoso designer olfativo e gráfico e Ângela Hirata, empreendedora responsável pelo posicionamento da marca ALPARGATAS no mercado global. Asseguro que os dirigentes, políticos e empresários acreanos, talvez envolvidos em “pedição de votos”, perderam uma excelente oportunidade de atualizar seus conhecimentos sobre o que está em voga fora de nossas limitadas atuações.


A bioeconomia se refere à produção e ao uso sustentável de recursos biológicos – plantas, animais e microrganismos, para gerar alimentos, energia, medicamentos e outros produtos que contribuem para o desenvolvimento econômico e social. No contexto amazônico, a bioeconomia tem o potencial de promover o desenvolvimento regional e global, ao mesmo tempo em que conserva a floresta. No entanto, a região enfrenta desafios significativos devido à escassez de tecnologia e à falta de investimento na promoção de produtos bioeconômicos.


O potencial da bioeconomia na Amazônia decorre obviamente da sua dimensão e diversidade, que se observa em diversas áreas, como a agricultura sustentável, a biotecnologia, a farmacologia e o ecoturismo. Produtos como frutas nativas ou adaptadas, óleos essenciais, resinas, fibras e plantas medicinais têm grande valor econômico se considerados perante o mundo cada vez mais interessado, concordemos ou não, em produtos que possam ser explorados de maneira sustentável.


A bioeconomia na Amazônia pode realmente ser vista como uma alternativa não substituta, mas aliada ao modelo econômico baseado na exploração livre dos recursos naturais, como a mineração e a agropecuária. Este modelo de desenvolvimento sustentável pode proporcionar uma fonte contínua de riqueza, ao mesmo tempo em que contém a pressão sobre a floresta, garantindo a conservação dos ecossistemas e a manutenção dos serviços ambientais que eles prestam como a conservação da água, por exemplo.


Das excelentes palestras desenvolvidas no Fórum, muitíssimo bem coordenado pela empresária e Diretora da FUNTAC, Mirla Miranda, sobra a convicção de que os principais desafios são tecnológicos, o que implica investimentos bem calibrados. A escassez de tecnologia adequada para o desenvolvimento de cadeias produtivas bioeconômicas se revela desde o inventário de possibilidades até a agregação de valor aos produtos da floresta, que poderiam transformar regiões atualmente deprimidas em focos de desenvolvimento a partir do processamento e embalagem locais.


Além disso, a falta de investimentos direcionados à promoção da bioeconomia é um problema crítico. Os recursos financeiros destinados à pesquisa, inovação e desenvolvimento de tecnologias apropriadas são escassos, o que compromete a capacidade da região de competir em mercados globais. Sem investimentos, as populações locais ficam dependentes de atividades econômicas de baixo valor agregado, como a agricultura de subsistência, perpetuando um ciclo de pobreza.


Outro desafio é a ausência de políticas públicas robustas que incentivem e regulamentem o desenvolvimento da bioeconomia na Amazônia. Espera-se que em breve seja suprida a falta de um marco regulatório claro e de incentivos fiscais para atividades, o que estimularia o investimento privado e a formação de parcerias público-privadas. Além disso, a fragilidade institucional na região dificulta a implementação de programas de capacitação e a transferência de tecnologia para as comunidades locais, limitando ainda mais o desenvolvimento de uma bioeconomia pujante.


Para superar esses desafios e promover a bioeconomia na Amazônia, é fundamental que se adotem estratégias que integrem tecnologia, investimentos e políticas públicas. Primeiramente, é necessário fortalecer a infraestrutura tecnológica da região, com vistas ao estudo e aproveitamento das várias possibilidades em bioeconomia. Centros regionais em parceria com universidades, institutos de pesquisa e empresas, tanto nacionais quanto internacionais, poderiam desenvolver tecnologias adaptadas às condições amazônicas e capacitar a mão de obra local.


Além disso, a atração de investimentos é crucial. Isso pode ser alcançado através de políticas fiscais, como a concessão de isenções e subsídios para empresas que atuam no setor de bioeconomia, bem como a criação de fundos de investimento voltados especificamente para o desenvolvimento da bioeconomia na Amazônia. Parcerias público-privadas também podem desempenhar um papel importante, unindo os recursos e expertise do setor privado com o compromisso social e ambiental do setor público.


No âmbito das políticas públicas, é essencial a implementação de programas de educação e capacitação para garantir que as populações locais possam se beneficiar das oportunidades oferecidas pela bioeconomia. Isso inclui a formação de cooperativas e associações que fortaleçam o poder de negociação dos pequenos produtores e garantam um retorno econômico justo.


Por fim, a promoção da bioeconomia na Amazônia também depende do fortalecimento das cadeias produtivas e do acesso a mercados nacionais e internacionais. Isso pode ser alcançado através da criação de selos de certificação para produtos bioeconômicos da Amazônia, que garantam a origem sustentável e agreguem valor aos produtos. O marketing e a divulgação desses produtos em mercados globais também são essenciais para aumentar a demanda e promover o desenvolvimento econômico da região.


É oportuno dizer que, diferentemente do que se possa pensar em rápida análise, a bioeconomia não é uma economia de nichos não escaláveis. Pelo contrário, há muitas possibilidades de crescimento da exploração e mesmo de adaptação de produtos convencionais a uma nova perspectiva, integradora e parcimoniosa com o meio ambiente. A Amazônia pode se tornar o centro global de bioeconomia sustentável, contribuindo efetivamente para a conservação da floresta e o bem-estar da sua população.



Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no site ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do Percival Puggina e outros sites.  Quem desejar adquirir seu último livro de contos “Pronto, Contei!” pode fazê-lo diretamente com o autor.