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A “caixa” piorou em quatro anos

Maior parte dos usuários do sistema de transporte coletivo de Rio Branco não tem dúvidas: o serviço piorou na gestão de Bocalom
Por Itaan Arruda
A RBTrans, autarquia municipal responsável pela política de trânsito da Capital e pela fiscalização do sistema de transporte coletivo da cidade, calcula que entre 1 milhão e 1,2 milhão de passageiros utilizam ônibus em Rio Branco por mês. É a voz desses usuários que se ouvirá agora. Por ela, percebe-se que a imagem, preconceituosa e politicamente incorreta da “caixa preta”, criada pelo prefeito Tião Bocalom para conceituar o sistema piorou. Ou, para os otimistas, manteve-se com a mesma ineficiência. Iniciar a reportagem ouvindo o povo é uma forma de valorizar o que ele tem a dizer.
A jovem Ana Kethelyn (19) é acadêmica do curso de Economia da Universidade Federal do Acre. Em tempos de estudo sem greve, ela usa ônibus todos os dias, de segundas às sextas-feiras. Moradora do bairro Aeroporto Velho, muitas vezes teima para chegar no horário das aulas. “Muitas e muitas vezes, temos que sair do Aeroporto Velho e andar até a Estrada da Sobral porque a linha Cabreúva só tem um ônibus que atende a comunidade”, relata. “Se perder um, só vai entrar em outro ônibus duas horas depois”.

"Muitas vezes tem que andar do Aeroporto Velho até a Estrada da Sobral: apenas um ônibus na linha em qualquer horário"


“Piorou e muito”, indigna-se Rejane Souza Louredo (54). Moradora do Quixadá, ela disse que “se cansa” de tanto ver “ônibus se arrastando” para poder conseguir completar o itinerário. “Outro dia mesmo, o ônibus veio se arrastando (sic) lá de dentro mesmo do Quixadá até aqui”, se exalta em um dos bancos do Terminal Urbano. “E só chegou, eu lhe digo porque eu vi, porque o motorista era bom. A gente via o esforço dele de fazer o trabalho”. A constatação de que os ônibus “são velhos” é quase um consenso entre os usuários.

Ela também afirma que só há um ônibus que oferece os serviços para milhares de usuários. “Das cinco da manhã, quando o único ônibus inicia o trabalho até às seis horas da noite, só tem umas cinco ‘viagens’ por dia”, lamenta.


Rejane Louredo fala em nome da comunidade do Quixadá: apenas um ônibus em poucas “viagens” por dia. “Os ônibus se arrastam”


A cena não é diferente no maior conjunto habitacional do Acre, o Cidade do Povo. Milson Ribeiro da Silva (36) sabe o que diz. Usuário diário do sistema, relata os problemas com os ônibus que quebram rotineiramente. “A manutenção desses ônibus é feita para desrespeitar o passageiro”, afirma. “Em relação aos horários até que não tenho do que falar, mas em relação à manutenção… é impressionante”.


Milson Ribeiro da Silva mora no bairro Cidade do Povo e lamenta a qualidade dos ônibus: “Manutenção feita para desrespeitar o passageiro”


Moradora da Cohab do Bosque há mais de 60 anos, Venerama Marques de Lima e Silva, a “D. Gina” (80), foi a única pessoa que teve uma percepção que destoa completamente dos demais usuários ouvidos. “Melhorou”, avalia. “As pessoas têm que entender como a coisa estava e como está agora. Os ônibus que pego, por exemplo, quase nunca estão lotados. Eu avalio que agora melhorou”.

“As pessoas têm que ver como a coisa estava e como está agora. Melhorou”


Raimundo Fontes de Queiroz Neto (48) é funcionário do Tribunal de Justiça. Todos os dias sai do bairro Jorge Lavocat, onde mora, até a Cidade da Justiça. Calcula que se o sistema de integração funcionasse com precisão, diminuiria o tempo gasto no trajeto.
“Se a integração funcionasse bem, eu faria esse trajeto em uma hora e quinze minutos, uma hora e vinte”, calcula Neto. “Mas, normalmente, gasto duas horas dentro de ônibus e aqui no Terminal”. Comparado à época em que morava no Bairro 15, ele diminuiu o tempo de uso do sistema. “Quando eu morava no 15, demorava mais ainda. Mas gastar duas horas pra ir pro trabalho e duas horas para voltar é tempo demais”.

Outro aspecto que Neto também ressalta é quanto à manutenção dos ônibus. “As condições de uso desses ônibus são impressionantes. A impressão que se tem é que eles fazem uma maquiagem”.


Neto, do Jorge Lavocat: ônibus com “maquiagem”


RBTrans aposta mudança do atual cenário com licitação

Clendes Vilas Boas, superintendente da RBTrans, não esconde o entusiasmo com a licitação que está em andamento para, segundo ele, “mudar o quadro que está aí”. A direção da autarquia calcula que no final de junho ou, no máximo, “antes das eleições” todo o processo seja concluído.


Essa licitação a qual faz referência o superintendente Clendes Vilas Boas está em curso, mas tem duas impugnações formalizadas na Comissão Permanente de Licitação que estão sendo avaliadas, juntamente com uma recomendação do Tribunal de Contas do Estado. “Tudo será resolvido no tempo do devido processo legal. Não tenho dúvidas quanto a isso. A Procuradoria está avaliando cada movimento, nós aqui da RBTrans também, junto com o Gabinete do prefeito Bocalom. É preciso ter calma”.

Quanto às reclamações dos usuários, Vilas Boas responde com tranquilidade. “Nenhuma dessas situações relatadas pelos usuários é novidade para nós. Sabemos dos problemas do sistema, mas temos que compreender o contexto em que essa empresa está operando. É preciso ter bom senso. Muitas dessas linhas, nem todas elas têm viabilidade econômica”, pondera Vilas Boas. “Pegamos um sistema todo quebrado, cheio de esquemas e estamos tentando ajustar as coisas, tudo dentro da lei, respeitando as instituições e os processos”.


Atualmente, a cidade de Rio Branco é atendida por apenas 105 ônibus. O número limitado da frota explica o que os usuários espalhados nos 231 bairros sentem diariamente. Vilas Boas gosta de repetir como um mantra o cenário herdado da gestão de Socorro Neri/Marcus Alexandre. “Na pandemia, ali por volta de fevereiro de 2022, o sistema era usado por cerca de 18 mil pessoas por dia. Hoje, estamos com cerca de 50 mil. Os funcionários do sistema ficavam de seis meses a um ano sem receber salário. Era o caos”, defende-se Vilas Boas. “Colocamos toda essa situação em um inquérito, reunimos todas as informações em um documento com setenta e quatro volumes, explicadas direitinho em mais de catorze mil páginas e está tudo no MP”.


Atualmente, o sistema opera com número de usuários que oscila entre 1 milhão a 1,2 milhão mensais. Após a licitação, a RBTrans estima que o número suba para 1,5 milhão. Com frota limitada, hoje, a Prefeitura de Rio Branco só não tem desgaste maior na administração do sistema porque o cidadão utiliza o transporte alternativo (mototáxis, táxis compartilhado, motociclistas por aplicativo e motoristas por aplicativo). Se não houvesse esses modais de transporte urbano, a pressão popular e política para que o sistema funcionasse seria muito maior.

Essa migração do usuário, que alivia a pressão em cima do Gabinete de Bocalom, responde pela escassez de usuário do sistema. Daí a fala do superintendente sobre “viabilidade econômica” de algumas linhas.


RBTrans entende que o usuário não traz viabilidade econômica ao sistema


Prefeitura vai construir o Terminal da Corrente

A administração de Bocalom vai construir um terminal de integração na região do Posto Policial da Corrente, no Segundo Distrito. A justificativa é a densidade populacional da região e a localização geográfica que irradia para diversos bairros da cidade por meio da Via Verde. “Vamos construir aí ao lado do Posto da Corrente para fazer integração com diversas regiões. Ali, sim, merece um mini-terminal”, sustenta o superintendente da RBTrans.


Os mini-terminais de integração foram uma herança polêmica. A gestão do prefeito Bocalom sempre criticou o sistema criado ainda na gestão de Marcus Alexandre. Dois terminais (o da Cidade do Povo e do Adalberto Sena) não tiveram a mesma eficácia demonstrada nos terminais da Baixada e da Ufac. A ociosidade destas duas unidades foi muito explorada politicamente por Bocalom, como demonstração do que ele chamava rotineiramente de “ingerência e incompetência da gestão anterior”.


Pagamento de FGTS e retomadas de benefícios sociais são demandas dos trabalhadores

O Sindicatos dos Trabalhadores em Transportes de Passageiros e Cargas tem três pontos de agenda em negociação com a Ricco, única empresa de ônibus que atua em Rio Branco. Antônio Neto da Silva Oliveira, presidente do Sinttpac, informa que os 250 trabalhadores do sistema não recebem o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.

“Via ofício, a direção da empresa garantiu que até segunda-feira, dia 13, ela irá depositar”, afirmou o presidente do Sinttpac, antes de avisar. “Caso isso não ocorra, nós vamos acionar o MP que deve exigir uma explicação da empresa. Se não resolver, judicializaremos”.


Outro ponto pendente na agenda com os trabalhadores é o atraso no pagamento. “Até o mês passado estava atrasado. Mas eles pagaram o salário dia 6 de maio agora”, esclarece Neto. A direção firmou compromisso de regularizar a situação do pagamento, até dia 20, junto com a cesta básica, o adiantamento de quarenta por cento do salário”.


Maio é o mês da data base dos trabalhadores que trabalham no sistema de transporte de passageiros. Eles pleiteiam reajuste salarial de 12% e 15% no vale alimentação. A categoria exige retorno do convênio para tratamento médico e odontológico. Esse convênio era no valor de R$ 15 mil. Os trabalhadores querem que a empresa retome ao menos com R$ 10 mil.

Motoristas devem ter respostas da empresa Ricco até segunda feira (13) sobre depósito do FGTS. Caso contrário, acionam o MP.


Terminal Urbano não consegue melhorar qualidade do serviço. Neste caso, muito em função da falta de educação do próprio usuário.
Equipe da Polícia Militar 24 horas no Terminal Urbano para evitar roubos, furtos e brigas.
Com apenas 105 ônibus para 231 bairros, muitas linhas trafegam lotadas, enquanto outras têm apenas um ônibus oferecido à comunidade.
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Itaan Arruda

Jornalista, apresentador do programa de rádio na web Jirau, do programa Gazeta em Manchete, na TV Gazeta, e redator do site ac24horas.


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