Passado o rebuliço inicial e as análises sôfregas, mas não inocentes, que antecipam em seis meses o resultado das eleições, os números das pesquisas de preferência divulgadas nesta quarta-feira (10/04) e neste domingo (14/04), realizadas pela Real Time Big Data e pelo Data Control respectivamente, tendo em vista a disputa eleitoral para a prefeitura de Rio Branco, precisam ser lidos com cautela. Vejamos:
- Indefinição do eleitorado – foi estimado que mais da metade dos eleitores ainda não fez a sua escolha, o que demonstra que há um longo caminho a percorrer por qualquer dos candidatos já colocados, ou mesmo por alguém que surja no cenário.
- Indefinição das candidaturas – com a posição ainda incerta do partido do Governador, entre manter a candidatura de Alysson Bestene, trocar o candidato ou se aliar a um dos grupos mais bem colocados, tudo parece possível.
- O comportamento dos dados – embora o candidato do PT/MDB se mantenha na dianteira, é certo, embora pouco divulgado, que do final de 2023 para cá os dois institutos capturaram uma queda vertiginosa do Marcus Alexandre e um crescimento equivalente do Tião Bocalom.
- Os outros candidatos patinam – é bastante visível que até aqui os outros candidatos ou nomes sugeridos não conseguem firmar-se no processo eleitoral e ameaçar os dianteiros. A continuar assim, em pouco tempo a disputa alcançará um nível de polarização tão elevado que eles correm o risco de serem praticamente expurgados, o que seria péssimo para seus projetos políticos.
- A alta popularidade do governador – mesmo com uma diminuição compreensível no decorrer do tempo, o governador Gladson Cameli mantém um alto grau de aprovação, o que em tese anima aquele a quem ele demonstrar apoio explícito e engajado.
- A alta popularidade de Jair Bolsonaro – para desespero dos paroquialistas, o ex-presidente tem altíssima popularidade em Rio Branco e é capaz, com estimativas próximas de 50%, de influenciar a decisão do eleitor. Seu antagonista, Lula, tem metade disso.
Sem acesso aos dados primários das pesquisas, são essas as informações mais relevantes trazidas a público. Deste ponto se pode fazer algumas indagações:
– O quadro está definido como polarizado entre Marcus e Bocalom? A rigor, não. Embora essa seja uma tendência inegável, se considerarmos que mais da metade dos eleitores ainda não sabem em quem votar e que o quadro ainda não está claro, há alguma chance de uma terceira opção se viabilizar. Surpreendente, mas não impossível.
– Esta será uma eleição puramente paroquial? Não. Os dados e o bom senso indicam que a polarização política nacional Bolsonaro/Lula tem influência significativa na formação da convicção do eleitor, de modo que se aliar ao esquerdismo não parece ser um bom negócio. Aliás, o próprio candidato do PT/MDB percebeu e dá demonstrações claras de querer fugir da sua ideologia, maquiar suas próprias origens e disfarçar o DNA petista.
– Na hipótese de recuo e composição, o apoio do Governador é decisivo? Depende. Embora esteja demonstrado que apenas no dedaço Gladson não consegue projetar seu candidato, o seu apoio pode ser importante se dirigido ao candidato certo, ou seja, àquele que não signifique uma contradição incompreensível ou inaceitável para seu eleitorado. Se tiver que justificar muito a sua opção, não fará grande diferença. Pelo visto, ele já notou isso.
– O apoio do governo federal à chapa progressista é fundamental? Não. Pelo que se viu recentemente, com a presença dos vários ministros e a ausência do Marcus Alexandre em todas as reuniões, percebe-se que ele não quer “se misturar” publicamente com seus amigos.
– Neste momento de vestiário, quem tem melhores perspectivas? Bocalom. Além de estar em curva ascendente, tendo vencido estresses iniciais e obtido atestado de eficiência em testes muito duros, como a pandemia e as alagações, o prefeito tem uma âncora política importante que é o conservadorismo representado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Fora isso, detém os meios de ação, ou seja, obras e serviços importantes que estão sendo realizados ou programados para toda a cidade ao longo do ano.
– O que esperar da campanha que está prestes a começar? A campanha propriamente dita ainda demora um pouco, mas, como no Brasil real ela é permanente, confirmada a tendência de polarização, pode-se vislumbrar um processo eleitoral extremamente ácido. São dois estilos divergentes, duas ideologias contrapostas e um cenário nacional praticamente conflagrado.
Enfim, as pesquisas dizem muito quando conhecidas em profundidade, contextualizadas e serenamente interpretadas, e dizem aquilo que queremos ou somos levados a querer, quando as vemos superficialmente ou seguimos raciocínios ligeiros e tendenciosos. Sugiro aos que possuam acesso a todos os dados levantados, que se dediquem a eles despidos de suas paixões e “certezas”, estabeleçam as correlações possíveis, diferenciem o que é associação e dependência e escapem de ilações e interpretações viciadas por interesses não confessados, embora evidentes.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor Percival Puggina e outros sites. Quem desejar adquirir seu livro mais recente “Pronto, Contei!” pode fazê-lo através do e-mail [email protected]