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Um certo extremismo de fantasia

Quero compartilhar com os leitores uma conversa interessante que tive há alguns dias com uma sobrinha-neta de 17 anos, que se prepara este ano para o ENEM. O diálogo iniciou-se conforme se segue:


Ela – tio, o senhor é extremista de direita?


Eu – não, claro que não.


Ela – mas o senhor não votou no Bolsonaro?


Eu – sim, mas o que isso tem a ver?


Ela – o Bolsonaro não é extremista?


Eu – não, claro que não. Quem disse?


Ela – meu professor de história.


Eu – eu já desconfiava. Preste atenção que o tio aqui vai explicar essa história de extremismo de direita.


Daí em diante tentei ser didático e remover daquela mente juvenil o lixo que professores-militantes espalham sem culpa porque também foram assim doutrinados na faculdade. Convencido de que o esforço seria recompensado, reiniciei a conversa a partir da origem do antagonismo criado durante a revolução francesa, fiz um resumão do seu desenvolvimento com o surgimento do comunismo, da revolução russa, da guerra fria, das experiências socialistas, da queda do muro de Berlim, até chegar nos dias de hoje, quando novos elementos se somaram ao maniqueísmo ainda presente na maioria das análises políticas.


Para marcar a diferença entre direita e esquerda ao nível do ENEM, utilizei um esquema simples como abaixo:



Estabelecidos os critérios básicos para identificação do que sejam um e outro, fui com ela verificar aonde se situaria Bolsonaro e porque a militância de esquerda insiste nessa balela de extrema-direita, algo que no Brasil só existe como traço numa análise estatística. Embora a mídia esconda, há milhares de vezes mais idiotas de extrema-esquerda do que de extrema-direita. A “acusação” de extremista contra o Bolsonaro junta-se a outras tantas falácias (fascista, negacionista, golpista…), pregadas pela esquerda e pelo consórcio midiático como etiquetas para levá-lo ao descrédito, sem qualquer preocupação em apresentar mínimos fundamentos que as sustentem.


A tarefa de posicionar Bolsonaro no espectro político foi facilitada pelo próprio, quando ele propagou um “decálogo” de princípios que abraça em sua luta política. Os termos AQUI colocados, além de retratarem coerentemente sua passagem pela presidência, afirma suas convicções, servindo, desse modo, para uma apuração mais precisa. 


Respeito à Constituição;


Defesa dos valores da família;


Vida desde a concepção;


Liberdade de expressão;


Defesa da propriedade privada;


Legítimo direito à defesa;


Diminuição da carga tributária;


Liberdade econômica;


Defesa da agroindústria; e


Combate às drogas.


Como se vê, temos aí conservadorismo e liberdade econômica, não há na pauta apresentada pelo ex-Presidente razão mínima sequer para que ele ou seus correligionários sejam rotulados de extremistas (coisa que a minha sobrinha logo entendeu). Nem se arranha a xenofobia, o nacionalismo extremo, o racismo, o fundamentalismo religioso, ou qualquer critério que sinalize posições radicais descoladas da maioria do povo brasileiro. Ou seja, a não ser que se trate de militantes de esquerda aos quais tudo seja permitido, do tipo professor de história da minha sobrinha, o propalado extremismo de Bolsonaro é mesmo uma falácia e nada, além disso.


Alguns leitores poderão dizer, com razão, que esta é uma avaliação simplista, pois nos últimos anos, fugindo do plano horizontal, surgiram vários modelos de análise que integram novas manifestações e relações sociais e econômicas, cada um mais abrangente e complexo do que o outro. OK. Ocorre que quanto mais completo e minucioso, mais difícil é a sua aplicação fora do campo acadêmico e, portanto, menos adequado tendo em vista a informação das pessoas comuns. 


Considerando tudo isso, ainda que apresentando fragilidades e riscos, recomendo entre outros modelos o Diagrama de Nolan, como ficou conhecida a formulação criada pelo psicólogo Bob Altemeyer, amplamente difundida pelo cientista político David Fraser Nolan, fundador do Partido Libertário Americano. No diagrama modificado para identificar o Centro, situam-se cinco campos a partir de dois eixos:


1 – Direita (conservador) – situa os que defendem a liberdade econômica, mas com algumas restrições na ordem moral da sociedade.


2 – Esquerda (progressista) – situa os que defendem restrições estatais na economia e total liberdade em relação a questões morais


3 – Centrismo – neste campo estão os que apresentam um certo equilíbrio entre intervencionismo e liberdade.


4 – Liberalismo – neste campo estão aqueles favoráveis à liberdade máxima nas questões econômicas e morais.


5 – Estatismo (totalitarismo) – situam os elementos favoráveis à intervenção estatal nas questões econômicas e morais.


Pelo menos como exercício de aproximação, seria interessante que, respondendo honestamente a um dos vários testes disponíveis relacionados ao diagrama de Nolan (recomendo ESTE), cada um localizasse a si próprio no espectro político. Alguns se surpreenderão com o resultado.



Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no site ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor Percival Puggina e outros sites. Quem desejar adquirir seu livro “Desaforos e Desaforismos (politicamente incorretos)” pode fazê-lo por este LINK.