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Faeac, CNA e a tabuada da exclusão

Foto: Reprodução

Do ponto de vista econômico, o pedido de socorro dos pecuaristas ao Governo Federal foi o fato mais importante na semana que acabou ontem (16). E o que há de relevante não foi apenas a formalização do pedido de ajuda por parte da Confederação Nacional da Agricultura junto ao ministério liderado por Carlos Fávaro, ele mesmo um defensor dos pecuaristas. O gesto traz a reboque os debates sobre modelos de desenvolvimento, plenos de paixão e de pouca razoabilidade.


A primeira necessidade para discutir “desenvolvimento” é relacionar essa ideia com outra muito mais complexa: “Cultura”. Toda vez que se evoca a ideia de desenvolver uma região é preciso, antes de tudo, buscar compreender (e respeitar) as culturas daquele determinado lugar. “Como vivem? O que produzem? Por que produzem desta forma e não daquela outra?” Tendo isso como referência, outra necessidade é a elaboração de “projetos”.


Tem-se, portanto, nesses dois breves parágrafos, três ideias-chave: desenvolvimento; cultura e projeto. Poucas são as lideranças e instituições que demonstram alguma paciência em discutir, com responsabilidade e consequência, as relações dessas três ideias. Bem ao contrário: a maioria já dobrou o joelho para a “economia de mercado” e considera superada a discussão. “É preciso produzir em escala e ponto final”.


O leitor, claro, já percebeu a armadilha dessa impaciência. É uma postura que, na verdade, não se dispõe a diminuir a concentração de renda; é uma postura que não se apresenta para reduzir as desigualdades. Deseja-se “produzir em escala” seja lá o que for (e da forma que for) para que as posições sociais permaneçam como estão.


E também tem a turma que classifica a ideia de “desenvolvimento” como ideológica, inventada pelo mundo rico para cristalizar o domínio sobre os países pobres. Esse grupo tem uma tendência a observar o agronegócio como instrumento para perpetuar a “maldição das commodities”, presente na História Econômica do Brasil há 523 anos.


Quem acompanhou os debates na sede da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre na última sexta-feira (15) pode não ter percebido, mas esse espectro teórico estava presente no auditório. Esses fundamentos de teorias econômicas estavam ali, no pires sustentado pela mão de Assuero Veronez, presidente da Faeac, diante da protocolar postura dos superintendentes dos bancos públicos.


É evidente que nada foi definido naquele encontro. Ninguém que foi à Faeac alimentou alguma esperança de que as soluções estariam construídas a partir de uma única conversa em um fórum regional. O que se concretizou ali foi pressão em duas frentes estratégicas: bancos e classe política.


A Faeac fez parte de um movimento orquestrado. Enquanto os pecuaristas do Acre apresentavam o rosário de prejuízos aos superintendentes do Banco da Amazônia, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, o presidente da Confederação Nacional da Agricultura, João Martins, protocolava uma nota técnica no Ministério da Agricultura justificando pedido de cinco medidas emergenciais “para amparar a produção nacional de leite e carne bovina”. A CNA, claro, não tinha apenas o Acre como alvo dos possíveis benefícios. A confederação fala em nome da pecuária brasileira.


Os números superlativos do mercado da carne de boi trazem dificuldades para que seus representantes tenham humildade. Difícil que se reconheça que estão “pedindo socorro ao governo”. Mas estão. O atual Palácio do Planalto, por sua vez, precisa reconstruir a relação com “o agro”. Tudo o que a presidência da República não quer, neste momento, é um novo “tratoraço” ou “caminhonaço” para reanimar a oposição. O potencial de estrago na seara política é um capital muito favorável aos pecuaristas.


Os donos do modesto plantel acreano de 4.568.389 cabeças olham de perto essa movimentação. O encontro de sexta-feira na Faeac mostra afinação com a agenda nacional. Quem fica boquiaberto, sem saber muito bem para qual rumo vai todo esse debate, são os 14.146 pequenos produtores de carne daqui. Com até 100 cabeças de gado na propriedade, eles já estão se acostumando com uma espécie de tabuada da exclusão. Para eles, “noves fora”… sempre resultou em nada.


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