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Entre o caos e o progresso: um panorama dos hospitais de Rio Branco do ponto de vista dos pacientes

Falta de pediatra é a principal reclamação de pais e mães na UPA do 2º Distrito - Foto: Whidy Melo
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Por Leônidas Badaró – Saimo Martins e Whidy Melo


Nessa semana, veio à público a situação desumana que passam os pacientes em tratamento de fisioterapia no Instituto de Traumatologia e Ortopedia (Into) na capital acreana. Composta em grande parte por idosos, os pacientes são atendidos em uma sala sem climatização, onde, dependendo do dia, a sensação térmica ultrapassa os 40ºC. O ambiente insalubre já fez, inclusive, com que pacientes passassem mal por conta das condições extremas de calor.


O desrespeito aos pacientes e profissionais, que atendem no calor “infernal”, é causado por uma falha no projeto arquitetônico da unidade, que foi construída sem a previsão de instalação de ar-condicionado. Existem seis aparelhos comprados e guardados em uma sala na unidade de saúde, mas até hoje não foram instalados por falta de capacidade da subestação de energia.

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Para saber como está a realidade de outras unidades de saúde pública estadual, o ac24horas percorreu as principais unidades de saúde da capital acreana e conversou com usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). A constatação é de que a vida de quem precisa de atendimento nos hospitais não é fácil.


Banheiros sujos, pacientes nos corredores, demora em cirurgias e marcação de exames, médicos que chegam muito tarde no trabalho e falta de profissionais especializados foram as principais queixas. Mas, há também boas experiências, rapidez e elogios aos atendimentos oferecidos em algumas das unidades.


INTO – “Calor infernal, a gente pensa que vai morrer”, diz paciente de 61 anos.

Na sexta-feira, 1º, o ac24horas conferiude perto a situação dos pacientes atendidos no setor de fisioterapia do INTO. A situação, denunciada durante reunião na Assembleia Legislativa, foi confirmada pelos idosos que estavam sendo atendidos no local.


FOTO – JARDY LOPES

Mesmo não sendo um dos dias mais quentes da semana, a temperada no local onde os profissionais atendem os pacientes era de cerca de 38ºC.


Benedito Oliveira, de 58 anos, saiu cedo do bairro Santa Inês. Depois de atravessar a cidade em ônibus lotados, ainda teve que encarar a sessão de fisioterapia no calor extremo. “Aqui é um calor doido. Peço que os políticos olhem para gente. A doutora que faz o tratamento fica pingando de suor. Eu dependo de ônibus, já chego morrendo de calor e, às vezes, penso que vou passar mal”, diz.


Quem também reclama é Neuma de Araújo, 53 anos, moradora do bairro Rui Lino. “Tinha que ter uma sala climatizada. Já teve até gente que passou mal. Isso é desumano”, explica.


FOTO – JARDY LOPES

Apesar do calor insuportável, os pacientes foram unânimes em elogiar o trabalho dos profissionais que atendem na fisioterapia. “O atendimento não é ruim, os profissionais atendem bem, mas é muito quente e todo mundo sofre, inclusive eles”, diz Neuma.


Opinião compartilhada por dona Francisca Lima, de 61 anos. Para fazer a fisioterapia, ela percorre mais de 100 quilômetros, já que mora no Ramal Nabor Júnior, na região de Senador Guiomard. “Meu filho, só da Corrente até onde moro são mais de 80 quilômetros de ramal e quando eu chegou aqui, me sinto sufocada com tanto calor. Os profissionais atendem a gente muito bem, mas não adianta se a gente só falta morrer de tanta quentura”, desabafa.


Outro problema detectado na unidade, apesar da boa estrutura física, é uma piscina, que mesmo tendo sido construída para poder ser importante nos atendimentos aos pacientes, não funciona.


FOTO – JARDY LOPES

A boa notícia é que durante o tempo de permanência da reportagem, a equipe do ac24horas flagrou técnicos avaliando a instalação dos aparelhos de ar-condicionado, já que durante a reunião na Aleac foi pactuado um prazo de 10 dias para apresentar uma solução que possa garantir atendimento em um local climatizado.


Pronto-Socorro – Tempo de espera de 6 horas, corredores lotados, falta de macas e cadeiras de rodas

O Pronto-Socorro da capital acreana é a maior unidade de urgência e emergência do Acre. Por dia, são, em média, mais de 4,5 mil pessoas atendidas.


Entrada da maior unidade de urgência e emergência do Acre – Foto: Whidy Melo

É para o PS que não enviados pacientes graves de todos os municípios acreanos e também centenas de pacientes de cidades de estados vizinhos como Rondônia e Amazonas. Na unidade, a “correria” é para salvar vidas, sendo necessário um atendimento mais rápido e resolutivo. Exatamente por isso, é a  unidade de saúde onde ocorrem as maiores reclamações.

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No local, a insatisfação dos pacientes e acompanhantes são inúmeras, desde a demora do atendimento, alimentação e produtos de higiene, que andam escassos nos banheiros do hospital.


Luiz Mineiro, de 71 anos, não é profissional médico, mas conhece muito bem o local. Há mais de 20 anos atua no ponto de táxi do PS e ajuda na remoção de pacientes da unidade hospitalar. Ele conta que a principal reclamação dos pacientes é muito antiga e  nunca foi resolvida, que é o tempo de espera no atendimento. Segundo ele, a espera pode chegar a 6 horas. “Se a pessoa chegar às 5 da manhã, é atendida provavelmente às 11 horas”, diz.


Outra falha é com relação à falta de profissionais médicos. “É muita falta de médicos, sem falar que eles saem do plantão a hora que querem. Não tem cadeira de rodas, não tem macas e ainda tem a superlotação de pacientes”, reclamou.


Reportagem flagrou pacientes nos corredores do PS – Foto: Whidy Melo

A reportagem flagrou diversos depoimentos de pacientes e acompanhantes que confirmaram a demora no atendimento. Elias Silva, de 25 anos, morador do município de Boca do Acre, no Amazonas, reclamou da demora no atendimento da filha, Fernanda Silva, de 15 anos, que aguardava atendimento para retirada de apêndice desde às 16 horas do dia anterior “O médico só olhou, pediu exames e até agora nada. Ela já foi encaminhada para fazer cirurgia e esqueceram da menina”, afirmou.


Outro problema também verificado foram os pacientes que aguardam atendimento em macas pelos corredores da unidade de saúde. Um aposentado, que pediu para não ser identificado, reclamou. “Estou aqui há horas e não tenho retorno e nem avaliação médica. Não sei como está o meu quadro de saúde, mas quero ir embora”, disse o aposentado.


Condições dos banheiros foram alvo de reclamações no PS – Foto: Whidy Melo

Um outro fator de reclamação foi em relação à higienização dos banheiros. Apesar da reclamação de alguns pacientes, há os que elogiam o tratamento recebido.  Daniel Dias Mendes, 23 anos, demonstrou satisfação. Segundo ele, a consulta e exames ocorreram com zelo e rapidez. “Não tenho do que reclamar, os médicos me atenderam bem, fiz meu exame e já estou com o resultado, tudo em pouco mais de 3 horas”, declarou.


O que diz a direção

Depois de ouvir os reclames dos pacientes da unidade hospitalar, o diretor-geral do PS,  Lourenço Vasconcelos, recebeu a equipe do ac24horas na gerência do hospital e revelou que, de fato, a unidade está com uma grande demanda de pacientes, muito por conta das síndromes respiratórias que ocorrem nesta época do ano. Vasconcelos disse que a demanda teve um aumento superior a 50%. “Eu não posso mentir e dizer que está baixa. A demanda aumentou devido à época do ano, síndromes diarréicas e outros”, disse, reclamando que o aumento da demanda ocorre por conta do primeiro atendimento não ocorrer nas unidades de saúde básica do município. “Esses primeiros atendimentos devem ocorrer nas unidades primárias de saúde e até mesmo nas UPAs. Aí eles vêm pra cá por achar que terão atendimento mais rápido”, comentou.


O responsável por gerenciar o PS garantiu que, diariamente, mais de 8 médicos estão atendendo a demanda. “São dois clínicos nos ambulatórios, três clínicos atendendo nas emergências clínicas, temos três cirurgiões para emergência do trauma e tudo isso para atender pacientes graves”.


Com relação a superlotação nos corredores e ocupação de leitos, Vasconcelos disse que, de fato, há dias com bastante demanda, mas, na maioria, há poucos pacientes e corredores vazios. “Nossos servidores são guerreiros e estamos vencendo os desafios. Já a ocupação é grande devido a rotatividade de pacientes. Atendemos todos os municípios do Acre, Rondônia, Amazonas e a nossa vizinha Bolívia”, explicou.


Não houve reclamação em relação à climatização do local.


Fundhacre – Reclamação de horários dos médicos, laboratório lotado e demora para exames

A  primeira impressão que se tem ao chegar ao ambulatório da Fundação Hospitalar do Acre (Fundhacre) é a superlotação. São centenas de pacientes aguardando a serem chamados. O chamamento é pelo nome do médico e os pacientes marcados devem confirmar presença para serem encaminhados aos consultórios. Por incrível que pareça, a experiência das atendentes, algumas com mais de trinta anos de trabalho, faz com que o fluxo ocorra dentro da normalidade.


Foto: Jardy Lopes

“A gente chega e se depara com esse mundaréu de gente, mas as senhoras fazem um trabalho muito bom e acolhem a gente muito bem”, conta Rosa Liberdade, que confirmava sua consulta.


No entanto, há reclamações, principalmente da demora por cirurgias e realização de exames. Antônia Costa, de 32 anos, moradora do bairro São Francisco, reclamou da demora para conseguir agendar um exame. “Essa marcação desses exames precisa ser mais rápida. Estou há dois dias tentando confirmar um exame e não consigo”, afirma.



No laboratório, o espaço, durante o horário de pico, nem sempre é suficiente para atender a demanda. Uma tenda foi instalada do lado de fora, mas os pacientes reclamam do calor. “Quando precisa esperar ser chamado e ficar aqui do lado de fora, o calor é insuportável. Quem senta dentro tem o ar funcionando. O espaço podia ser maior ou ter mais atendentes”, diz Paula Gonçalves.


O ac24horas flagrou também a reclamação de pacientes que afirmam que alguns médicos não cumprem o horário de trabalho. “Eu não quero me identificar porque sou paciente que faço tratamento quase todo mês, mas tem médico que chega antes das oito horas e começa a atender, mas tem outros que vão chegar 10 horas. Chega dói a bunda de tanto que a gente fica sentado esperando”, afirma um paciente à espera de consulta.


Outro questionamento é sobre a demora na marcação de cirurgias. “Se espera muito por uma cirurgia. Estou há um ano esperando por uma cirurgia de oftalmologia e acho que poderia ser mais rápido”, diz um paciente na fila de espera.


O que diz a gestão

O presidente da Fundação Hospital do Acre recebeu o ac24horas e pontuou as reclamações dos usuários. “Em relação à demora nas cirurgias é algo que temos, na atual gestão, diminuído muito com o nosso Mutirão de Cirurgias. Desde o ano passado, já fizemos quase 3 mil cirurgias em diversas especialidades para diminuir essa vazão”, diz.


Em relação aos atrasos de médicos, Silva afirma que, se acontecem, são casos pontuais, mas a gestão  adotará as providências, caso seja informada. “Nós temos um corpo clínico de médicos que são extremamente dedicados. Se há algum caso de atraso, as pessoas podem procurar os nossos servidores, a nossa ouvidoria, que vamos apurar, sem dúvidas”, afirma.


No caso dos exames, o número elevado, conforme João Paulo, é resultado de o laboratório ser “porta aberta”. Em relação aos exames, sabemos que há uma questão de estrutura, mas é que nosso laboratório é porta aberta e atendemos todos os pacientes que chegam com seus pedidos de exames. No caso, o correto seria atender apenas os internados e que fazem tratamento, mas para não prejudicar a população, atendemos a todos. Vamos trabalhar para melhorar e garantir um atendimento com mais qualidade e humanizado”, explica.


FOTO – JARDY LOPES

O grande problema, de acordo com a gestão da Fundação, é que o hospital foi construído há 30 anos e continua sendo a única unidade de referência para atendimento de média e alta complexidade do estado. A população aumentou, mas a estrutura física permanece a mesma há três décadas.


UPA do Segundo Distrito – Falta de pediatra é reclamação unânime

A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Segundo Distrito ficou marcada por um bom tempo, no auge da pandemia de Covid-19, como a unidade referência no atendimento da doença. Na época, com toda a situação que caracterizou a crise da saúde, a UPA sofreu inúmeras reclamações nos atendimentos.


Recepção e emergência da UPA do 2º Distrito – Foto: Whidy Melo

Passada a situação atípica, atualmente a realidade é bem mais tranquila. Durante a permanência da reportagem do ac24horas no local, os relatos dos pacientes foram favoráveis. Apesar de a recepção estar lotada, já que o horário da manhã é considerado de pico, o tempo de atendimento foi rápido, durando, no máximo, 45 minutos.


Uma reclamação comum na unidade é a falta de atendimento pediátrico, já que a procura de pais e mães por atendimento aos filhos é muito grande. “Já fomos à UPA da Sobral e agora aqui, mas não tem pediatra. Infelizmente é isso, ainda falta esse lugar de atendimento ambulatorial especializado para crianças”, diz Estefânio Dantas, que procurava atendimento para o bebê de uma sobrinha.


Ádalo Lima, gerente de assistência da UPA, disse que apesar do atendimento especializado em pediatria não ser uma das funções da Unidade, um médico que presta serviço geralmente às terças-feiras é pediatra. “Neste caso, nós tentamos direcionar as crianças para serem atendidas por ele. Na falta de pediatra, se for caso de urgência, o paciente é estabilizado e encaminhado para o médico especializado no tipo de atendimento necessário”, diz o gerente.


Uma reclamação comum na unidade é a falta de atendimento pediátrico – Foto: Whidy Melo

Segundo Àdalo, é esperado para este mês de setembro a implantação de uma brinquedoteca para crianças com transtorno do espectro autista (TEA) na unidade de saúde.


A unidade conta, conforme a gerência, com 7 médicos, com a possibilidade de mais um ser chamado para compor a equipe em caso de necessidade. Em média, 500 pessoas são atendidas diariamente.


UPA da Sobral – Diminuição das queimadas evita superlotação

A UPA Franco Silva, conhecida como UPA da Sobral, também foi visitada pelo ac24horas. A primeira verificação foi a constatação de que a reivindicação de pacientes publicada pelo ac24horas no ano passado foi resolvida.


Frente da UPA Franco Silva, na Sobral – Foto: Whidy Melo

À época, na unidade de saúde não havia portas nos banheiro, obrigando os usuários a fazerem suas necessidades fisiológicas em totais condições de constrangimento. A situação foi resolvida após a publicação da reportagem e atualmente a estrutura é ainda melhor. Os banheiros estão com portas, assentos, materiais de higiene e limpos.


Upa teve redução na procura por atendimentos relacionados aos casos de síndrome respiratória – Foto: Whidy Melo

A média de atendimento diário também é grande, são cerca de 450 pessoas por dia. Mesmo assim, o atendimento ocorreu de forma rápida, dependendo da classificação de risco.


O número menor de pacientes se deve muito, conforme a gerente da unidade, Simone Prado, à redução da procura por atendimentos relacionados aos casos de síndrome respiratória. “Logo que começou a estiagem, com as queimadas, a procura subiu bastante, principalmente por crianças e idosos. Mas agora a situação se acalmou e não estamos tendo superlotação”, disse.



Rosenildo Matias procurou o hospital e disse que ficou surpreso com a rapidez do atendimento, já que entre ser classificado, atendido, fazer os exames solicitados e ser chamado para o retorno, levou uma hora. “Foi rápido, bom atendimento. Nunca tinha vindo nessa UPA, mas fiquei satisfeito”, declarou.


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