Tenho ouvido e lido, de vez em quando, setores da sociedade e da velha imprensa apelarem quase de joelhos pela desideologização do debate público, numa espécie de conformismo perante o politicamente correto que se instala como se este não fosse, ele mesmo, ideológico. No fundo, essa apatia, ou melhor, esse medinho dos “extremos”, não passa de uma fuga de quem não tem tutano ou interesse no debate. Em outra hipótese, é uma reação normal de quem está disposto à servidão.
A imprensa velha inventou o truque fuleiro da polarização de uma banda só e o aplica sem dó a todo desavisado. Explico. Alguém aí já ouviu falar em extrema-esquerda no Brasil? Não, né? E de extrema-direita? Todo dia. Por ignorância ou boa-fé, muita gente tem “comprado” esse saci-pererê sem a perna esquerda, achando que assim colabora para a paz social, para o debate equilibrado, civilizado, respeitoso etc. Quem não quer ser o mocinho do filme?
Convido o leitor a fazer comigo um exerciciozinho. Se duvidar do que vem a seguir, dá uma estudada que vai achar. Iniciemos, pois. O que caracteriza uma ideologia de extrema-direita? Sem o gira-gira acadêmico que mais revela pernosticismo do que ideias, respondo sem medo de errar:
– Nacionalismo (não confundir com patriotismo) – significa a presunção de guarda e proteção da nação, como se fora superior e devesse permanecer infensa a transformações culturais que a descaracterizem.
– Autoritarismo e repressão – significa a formação e consolidação de um Governo de força, centralizado, de decisões cabíveis apenas a um círculo fechado de agentes que derramam sobre a sociedade sua visão de modo, exigindo em seu cumprimento máxima disciplina, aí incluindo a adesão voluntária ou forçada dos meios de comunicação, da justiça, das forças armadas, academia etc., de modo a silenciar opositores.
– Xenofobia – em função do nacionalismo exacerbado, a extrema-direita se previne exercendo a inibição da entrada e permanência de outros nacionais. Para ela, todo estrangeiro é, potencialmente, uma ameaça à nacionalidade.
– Racismo – historicamente os regimes de extrema-direita adotam o racismo de modo muito semelhante à xenofobia, pela necessidade de preservar o padrão sociocultural predominante. Refiro-me obviamente ao racismo de Estado, o que difere completamente do racismo interpessoal.
Viremos a página. O que caracteriza uma ideologia de extrema-esquerda?
– Eliminação do direito à propriedade privada – embora com mais de 100 anos de atraso e frustrada em TODAS as vezes que foi empregada, a ideia de expropriação e socialização dos meios de produção permanece como pedra de toque da extrema-esquerda que, por invasões ou promoção e alteração de regulamentos fragilizam continuamente o direito à propriedade privada. É a abolição das bases do capitalismo para implantação do socialismo.
– Revolução – os extremistas de esquerda acreditam que seus objetivos não serão alcançados sem uma revolução (hoje chamaria de RESET), de todo o arcabouço principiológico da nação, implantando a partir daí seus valores políticos, éticos e morais. É neste contexto que se alteram os elementos fundantes da relação estado-sociedade, e se esvaem a religião, as normatividades biológicas etc.
– Autoritarismo – dados seus pressupostos, obviamente tal sistema não seria implantado sem a força e o comando de uma unidade centralizada de poder com todos os vínculos e elementos inerentes.
– Ecossocialismo – embora o chamado ecossocialismo que presume uma sociedade rigorosamente governada por normas ambientais em primeiro lugar, não seja inerentemente um conteúdo extremista, a esquerda vem empurrando-o para a extremidade porque essencialmente buscam o RESET de que tratamos anteriormente. Na substituição da sociedade atual por uma globalista, administrada de modo centralizado e universal, transmutada em seus valores e princípios, há uma inegável convergência de objetivos.
Pronto. Sem trololó, ao gosto do freguês como se permite em um tempo de leitura que não encha o saco, estão aí algumas das principais características do que seriam posições extremadas e antagônicas no espectro ideológico. O resto está entre um e outro. Agora reflitam. O que se viu em quatro anos do governo Bolsonaro tem, objetivamente, alguma coisa a ver com a extrema-direita? O governo Lula da Silva tem algo a ver com extrema-esquerda? Quem parece mais com quem?
Pois é. Infelizmente, uns caem na cilada ou prestam o serviço “non sense” de acusar o bolsonarismo, seja lá o que isso signifique, de extremismo de direita, logo, digno de extirpação. Outros fazem como o músico do Titanic e só vão acordar quando a água lhes alcançar o nariz. Os dormentes (dementes?) não percebem, ou se esquivam de perceber que o extremismo em voga no Brasil, ocorre do lado canhoto, pois estão aí as prisões (né, STF?), a perseguição (né, Dino?), a censura (né, PL 2.630?), o silenciamento (né, Pavinatto?), a centralização (né, reforma tributária?), o revisionismo histórico (né, UFAC?), o ataque a valores morais e religiosos (né, Rede Globo?), as relações amistosas e o financiamento de ditaduras sanguinárias (né, Lula?). Toda essa extrema-esquerdice está colocada na ordem do dia por aqueles que se orgulham de serem comunistas e de moverem a história.
Então, por obvio, parece claro que todos os sinais de extremismo são emitidos escancaradamente pelo governo atual e não pelo anterior, que preservou ilimitada liberdade, inclusive para médico e paciente se entenderem quanto ao tratamento da peste.
Portanto, a “desideologização” do debate pode não ser, como ensejam alguns, apenas uma espécie de centrismo inocente, puro e besta, mas uma estratégia insidiosa da extrema-esquerda de ensaboar projetos e candidaturas que mais à frente revelarão sua própria face, vermelha, fétida e furunculosa como a bunda de Karl Marx. Se prestar atenção, o leitor verá isso acontecendo agora, aqui mesmo, no Acre.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no site ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do Percival Puggina e outros sites.
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