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Antes do Nego Bau; vieram o “empina Jó” e o “Lona”

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Astério Moreira

Foi bem antes do Nego Bau nascer. Lá pelos anos 70 veio ao mundo dois seres especiais conhecidos como “o Lona” e o “empina Jó”. O primeiro, aparentava ter microcefalia; alto, magro, braços e pernas compridas com a cabeça pequena que afinava na parte superior; os olhos de criança; a boca grande, sorriso largo e aberto. Sempre de sandálias havaianas, calça de tergal e camisa de manga curta com botões.


O “Lona” era diferente. Moreno, baixo entroncado, barba por fazer, não era, mas aparentava ser agressivo. Olhava de um lado para o outro com rapidez sempre segurando um velho rádio nas mãos que mexia e remexia de um lado para o outro; creio que era esquizofrênico. Se falasse com ele, vinha em direção a pessoa como quem vai agredir. Porém, recuava temeroso, mas com raiva. Soube também que ele andou reagindo às agressões.


Os dois fizeram a alegria do povo de Rio Branco, especialmente pelo centro da cidade. Como já disse, foi na década de 70, quando Rio Brando tinha cerca de 70 mil habitantes e uns 15 mil carros. Hoje tem mais de 400 mil e cerca de 150 mil automóveis. Atualmente mais de 400 pessoas vivem nas ruas e praças perambulando com algum tipo de problema mental seja por causa de drogas, álcool ou outras dores da existência.


A primeira vez que vi o “empina Jó” foi por volta de 1975 bem na frente da Droga Valle, na Epaminondas Jácome. Algumas pessoas começaram a gritar: “Empina Jó! Empina Jó! Foi então que vi, entre os carros, um homem andando na ponta dos pés, movimentando muito os braços, balançando a cabeça de um lado para o outro. Por que ele fazia aquilo? Foi minha primeira reação na cabeça de menino. Por que respondia daquela maneira as pessoas que gritavam? O acompanhei até a frente dos Tecidos Cuiabá. Olhei para o seu rosto curioso tentando entender aquele homem. Estava ensopado de suor. Sorria, um sorriso amarelo de criança que nunca esqueci.


Com o “Lona” foi diferente. Tive medo quando o vi indo em direção a algumas pessoas que gritavam seu apelido. Estava com um rádio velho nas mãos. Estampava no rosto alguma insatisfação. Caminhou como quem vai agredir mesmo. Porém, ao se aproximar por alguma razão ele fez um gesto para a frente e recuou sorrindo como quando se vai assustar alguém. Só brincadeira, mas soube depois (não sei se foi verdade) que ele agrediu uma pessoa que o incomodava em um dia em que estava de mau humor.


Soube depois que o “empina Jó” era das colônias e o “Lona” da área urbana mesmo. Com o passar dos anos a cidade foi esquecendo seus heróis e suas graças. Encontrei um amigo que disse que o “Lona” ainda está vivo, bem velhinho é verdade. Do “empina Jó”, não se tem notícias. Só lembranças de um tempo em que Rio Branco era uma pequena cidade que cresceu, se desenvolveu. Então veio o Nego Bau, amado principalmente pelos adolescentes e jovens. Incompreendido na sua enfermidade morreu depois de maus tratos.


“Tive doente, com fome, sede, preso…não cuidaste de mim; quando fizeres a um desses pequeninos fazes a mim”. (Jesus de Nazaré)


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