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Diário do Acre: PAE Remanso e Capixaba

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Marcamos de nos encontrar cedinho no sindicato, para tomar café e seguir viagem. Nossa comitiva era grande, eu Raylane e Danilo nos somamos a Leidiani, Chagas, Darla e Luiz. Depois de um pão de milho com ovo, já pegamos a BR e entramos no ramal do São Luiz.


Era a primeira vez que todos íamos no Remanso, mesmo que alguns já tivessem amigos por lá. O combinado era que o marido da Francisca, uma companheira que estava ajudando no sindicato, mas que agora estava dando aula na comunidade, nos encontraria no porto da Subaía e nos conduziria pela comunidade.

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Chegamos na Subaía, no final do ramal, já às margens do rio Acre. Uma meia hora depois do combinado e nada do Francisco, deduzimos que ele esperou um pouco e já voltou pra trás. Não costumo dar viagem perdida, então fomos na escola e pedimos passagem aos barqueiros, seu Bibil nos levou até o porto do Edvan na outra margem uns 15 minutinhos acima.


Subimos o porto e encontramos dona Helena, mãe do Edvan, cuidando das galinha no terreiro. Ela nos disse que o Edvan estava numa broca, perguntamos o caminho para a casa da Leia, onde fica a escola e ela nos indicou uma trilha, no meio do pasto, pode seguir reto toda a vida, que vai bater lá. Só é um pouco longe. Nos despedimos e começamos nossa caminhada.



No pasto as vacas, muitas de bezerro, nos olhavam desconfiadas, peguei logo um pedaço de pau, a desconfiança era mútua e só quem já pegou carreira de vaca no campo sabe que não é uma boa experiência. Terminou o campo e entramos num lindo bananal, a sombra já era um alento ainda era cedo, mas o sol já estava castigando.


Dona Monique nos recebeu na varanda de casa, nos viu ofegante e já ofereceu uma água, chagas aproveitou pra falar do sindicato e dona Munique pra reclamar do luz pra todos que ainda não chegou por lá. Elogie o bananal e dona Monique nos ofereceu umas bananas, sem esquecer de reclamar do ramal.



No caminho, encontramos Cigano que estava ajeitando um roçado perto do campo. Um cachorro bom de tatu todo serelepe passou cheirando todo mundo. Cigano é cunhado da Monique e também falou da luz que já cruzou o rio e chegou na casa dele, mas que não veio até a comunidade toda. Seguimos nossa pernada. O sol estava quente e o caminho era longo.


Dava de ouvir longe as crianças na salinha de aula, montada na terra da dona Maria Pacheco, de uma família tradicional na comunidade. – “Queria que essa escola levasse o nome do meu pai”, me disse enquanto servia uma água gelada. Infelizmente não é uma escola, mas apenas uma sala anexa da escola da beira do rio e não podia ser feita a justa homenagem. Quando dissemos que íamos até a Leia e queríamos almoçar por lá, ela disse pra apertarmos o passo.


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Deixamos o campo e o ramal se fechou em mata. De longe ouvíamos um motor roncando, já com mais cuidado pois podia ser uma derrubada avançamos. Quando nos aproximamos mais, deu de distinguir que eram roçadeira, alguns homens ajeitavam um pedaço de Capoeria pra plantar legumes.


César, esposo da dona Maria, comandava os trabalhos e por lá encontramos o Edvan, eles estavam reabastecendo os motores e pararam para tomarmos um café, água e comer umas rosquinhas. Quando chegamos, virou uma roda de conversa. E histórias não faltavam.


Edvan me contou de um cara, que na política passada fez ele matar uma vaca pra fazer um churrasco e disse que quando ganhasse voltava pra pagar a vaca. Um gaiato já abarcou de lá, o tombo só não foi maior por que comemos o churrasco. Piá nem saiu da capoeira, quando ouviu a história, porque todo mundo já falou do tombo que ele levou em duas bolas de arrame do mesmo cara.


Perguntamos quanto tempo de caminhada ainda tinha até a Leia e ouvimos mais uma vez que ainda faltava uma hora, mais essa hora nunca passava. Depois de uma meia hora andando encontramos a casa do Tião Pacheco, que nos disse que ainda faltava uma hora e nos mostrou um ramal que virou varadouro e passava atrás da casa dele.



Na saída do varadouro, a esperança de encontrar a casa da Francisca e a escolinha na casa da Leia já ia se esvaindo, nos questionávamos se já não havíamos passado, pois cruzamos algumas mangas do ramal. Cansados vimos uma casa ao longe e de lá uma mulher deu com a mão, era Francisca finalmente chegamos.


Já fui me jogando no assoalho da casa, estava exausto, Francisco estava por lá e questionamos se ele tinha ido nos esperar. Avisou que tinha ido e esperou muito num porto abaixo de onde embarcamos e tinha vindo por um outro caminho mais curto quase uma hora. Passa por uma picada na mata e por isso não nós topamos.


Após o almoço na casa da Francisca, fomos na casa da Dona Leia e seu José Maia. Conheci a escolinha, um quadro e umas cadeiras embaixo da casa sem paredes, uma tristeza a dificuldade das crianças para estudar.


Leidiane estava animada para reencontrar dona Girlene, que estudou com ela na escola da floresta. Chegando lá, foi só alegria. Dona Girlene já saiu pra cozinha pra fazer uns bodós e passar um café, enquanto seu marido Chapelão nos ofereceu umas laranjas. Parecia uma reunião de ex-alunos. A pergunta era sempre como está fulana e ciclana?


Para voltarmos mais rápido, pegamos a varação indicada pelo Francisco, um caminho mais curto que passava pela casa do seu Ribamar. Ele nem esperou chegarmos e já mandou o menino buscar água. Montado encontramos Joaquim e sua esposa. A conversa foi curta já estava anoitecendo e o cansaço era grande. Perguntei a distância que ainda faltava. A mulher do Joaquim disse que ainda tinha uma hora de cachorro apanhando.


Quase sem fôlego chegando no Porto, já estávamos preparados para remar, quando ouvi um motor zuando, gritei e pedi passagem, ele gritou de lá dizendo que ia da., Romualdo era o nome do barqueiro. De volta ao Porto da Subaía, a alegria era imensa, foram 5 horas de pernada pra conta, os pés cheios de bolhas e a bagagem repleta de novos amigos e sonhos.


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