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Filho de lavadeira, José Adriano rompeu pobreza ao focar no estudo e trabalho

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Compreende como poucos os meandros que se escondem pela periferia do Segundo Distrito de Rio Branco. Quem o conhece depois do progresso, custa a acreditar que o empresário José Adriano, presidente licenciado da Federação das Indústrias do Acre (Fieac), chegou a trabalhar apenas pelo pão de cada dia por longos anos junto da família. Antes de despolitizar o setor industrial e enfrentar desgaste no segmento que lhe proporcionou o sucesso – a construção civil – teve de vencer muitos anos antes uma de suas mais duras batalhas: a pobreza.


Foi na rua Tambuatá, localizada no bairro Quinze, que o atual pré-candidato a deputado federal pelo Progressistas cresceu ao lado de 10 irmãos e seus pais. Veio para a capital acreana com seis meses de vida depois de a família deixar o seringal em que vivia. Pouco tempo depois, com cerca de 8 anos de idade, já ajudava o irmão mais velho a colocar comida dentro de casa. Nessa época, chegavam a dormir até 6 pessoas numa mesma cama. Não bastassem as necessidades dentro de casa, ainda sofreu a perda de muitos amigos do bairro para a violência, a maioria arrastada pelo tráfico de drogas.

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“Limpei quintais, lavei carros, vendi salgados, mas nunca parei de estudar”

“A gente limpava quintais, lavava carros, vendia salgados, mas eu nunca parei de estudar”, conta. Frequentou o ensino fundamental na escola Dr. Carlos Vasconcelos, na região do Triângulo, e o ensino médio no Colégio Estadual Barão do Rio Branco (Cerb). “Sempre pensei na área da construção civil porque sonhava com uma casa melhor”.


Hoje se denomina uma pessoa mais simples do que muitos imaginam. “Nada para mim, faz sentido se não tiver utilidade. Tenho só dois pares de sapato. Quando um está sujo, uso o outro. Meu carro é completamente discreto. Sempre usei relógio barato. Faço meu café. Sempre arrumo minha cama. Bens materiais não me escravizam, mas valorizo tudo que conquistei”.



Apesar da vida difícil durante a infância e adolescência, galgou importantes degraus ao escutar os conselhos de sua mãe. “Minha mãe falou algo que marcou muito a minha vida. Ela disse o seguinte: você quer estudar, trabalhar e ser alguém? Ou você quer viver na molecagem?”. Desde então, nunca pensou em abandonar a sala de aula. “Minha mãe teve 12 filhos. Destes, perde 2 na gestação, 2 faleceram (um quando criança e outro aos 24 anos) e 8 sobreviveram. Hoje somos em 8. Duas mulheres e 6 homens”.


A morte do irmão aos 24 anos, que sofreu um disparo de arma de fogo quando tinha 17 anos e ficou paraplégico, é um dos momentos mais marcantes na vida. “Era muito apegado a ele. Formávamos uma dupla. Depois disso aprendi a trabalhar muito com a cabeça e ser determinado”.


Para Adriano, o grande problema de uma família de origem humilde é o preconceito em função da falta de alfabetização dos pais. “Meu pai era seringueiro, estudou somente até a 4ª série. Minha mãe sequer foi alfabetizada, então a vida dela foi muito dura”, relembra. A vinda para a cidade CRIOU um verdadeiro caos na vida da família numerosa. “Irmãos iniciando os estudos com idade já avançada. Meu pai ficou um tempo entre a cidade e o seringal, tentando conciliar, mas acabou indo parar em subempregos na capital”.


À sua mãe só restou ajudar na renda para garantir a sobrevivência da família ao lavar roupa para fora ou costurando. “Ela fazia um pouco de tudo, era uma autodidata. Não se ouvia falar em capacitação, trabalhava sem proteção nenhuma, tudo para tentar sobreviver”, diz o empresário, ressaltando que a mãe chegou a ter 15 clientes de lavagens ao mesmo tempo.


“Não era aluno nota 10. Fui um Cristiano Ronaldo: muito esforçado, aplicado, mas sempre com medo de errar”

Conciliando estudo e trabalho

Uma fase com histórias bem interessantes. Assim revela o empresário sobre a época em que se viu na obrigação de alcançar o sucesso na base da honestidade, com dedicação aos estudos e trabalho. “Não era o aluno nota 10. Sempre fui um Cristiano Ronaldo: muito esforçado, muito aplicado, e sempre com medo de errar. Quem tem medo de errar sempre costuma estudar mais que os outros”, brinca.


Adriano se considera um cara de sorte. “Quando a família é muito grande, os mais velhos começam a se virar para tentar ajudar na renda familiar. Meus irmãos foram engraxate, vendedores de picolé. Eu fui crescendo e tive que entrar nesse ritmo também. A gente não teve vida fácil. Mesmo assim nunca parei de estudar e nisso eu ia me destacando dos demais. Minha mãe percebia que eu teria algum tipo de futuro por conta dessa dedicação aos estudos e valorizava demais”.


No ensino médio optou pelo estudo profissionalizante voltado à técnica de construção civil. “Sempre me vi gostando de desenhar, isso porque a gente sonhava em ter uma casa melhor. Me dediquei muito, gostava do que fazia. Entrei na faculdade aos 17 anos no curso Tecnólogo de Construção Civil. Em seguida, aos 18 anos, tive que dar uma pausa para servir ao exército”.

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Seu primeiro emprego de carteira assinada foi numa construtora, onde aperfeiçoou sua formação técnica do nível médio. “Por conta disso, quando entrei na faculdade, me destaquei bastante”. Pouco tempo depois, teve a oportunidade de trabalhar num lugar melhor, com a profissão de bancário após realização de concurso.


Para ele, um curto período, mas de muita mudança na vida. Teve de se afastar da família. Estava começando a faculdade e havia conseguido um emprego melhor. “Saí do exército com 19 anos e voltei para o banco. Tive que prestar serviço no interior de Rondônia, e foi onde eu consegui fazer meu nome administrativamente. Nessa oportunidade de ajudar as agências do estado vizinho, fiz muitos amigos e fiquei conhecido com um colaborador que fazia a diferença”, destaca.


“Na juventude, rejeitou bons salários fora do Acre para ficar com a família e ajudar irmãos que continuavam em subempregos”

José Adriano conseguiu provar à direção da matriz que o Acre também possuía colaborador capaz na agência e que não precisavam mais trazer funcionário de São Paulo para chefiar agência . “Quando voltei para minha agência em Rio Branco, depois de um ano, todos os gestores de Rondônia queriam que eu ficasse por lá, mas decidi voltar mesmo sem garantias de ter melhora no salário, por conta da minha família”.



Seus irmãos continuavam em subempregos. Voltou ao estado, seguiu com a faculdade de construção civil e fez de tudo tentando ajudar a família financeiramente. Decidiu começar um segundo curso em nível superior para não ficar com tempo ocioso e entrou para o curso de matemática, cujo diploma em licenciatura conquistou. De volta a sua agência de origem, conseguiu uma promoção adiantada, já que todos acreditavam que era capaz de substituir a subchefia, e obteve um salto importante dentro do banco na carreira administrativa.


Primeiro contato com atos políticos

Dentro da universidade pública, José Adriano conheceu os movimentos estudantis. Depois, afirma ter sido “seduzido” a ocupar função no sindicato dos bancários como representante da juventude. “Naquela época aprendi muito. Era filiado à UNE e participei dos congressos”. Porém, atuava na função de subchefe no banco e o estabelecimento não admitia que ele participasse de movimentos como esses, por isso começou a fazer tudo discretamente.


“Saía do banco às 20 horas e ia para as reuniões do sindicato. No entanto, eu sempre deixava claro na agência que eu estava acompanhando os movimentos, motivo pelo qual acabei sendo demitido numa greve geral, onde eu já era chefe e subgerente administrativo com apenas 22 anos”. O empresário ajudou a implantar novo sistema de informática no banco, ampliou a agência e habilitou a mudança para o digital.


“O banco queria muito que eu continuasse trabalhando, só que eu não gostava da forma como o banco tratava os funcionários. Eu não conseguia me ver o resto da vida trabalhando naquele ambiente. O banco me pediu para demitir cinco funcionários por conta da greve e eu fui contra meus empregadores e disse: não irei demitir porque acho justa a luta deles e que o banco deveria rever essa postura. Se tiver que demitir, seria melhor demitir pela cabeça, que era eu, e eles aceitaram a sugestão”.


Também foi José Adriano quem lutou pela desobrigação do uso de ternos e gravatas no banco. “Fiz uma correspondência para nossa matriz e falei que aqui era uma região muito pobre, quente, fiz uma comparação com o preço dos produtos em outras regiões e que o salário que eles nos pagavam não dava para comprar roupa social. Pedi que pudéssemos usar jeans com camisa social. O banco aceitou, desde que a gente usasse o jeans com camisa e sapato social e aboliu também a gravata, o que permanece até hoje”.


“Aos 22 anos decidi que nunca mais seria empregado de ninguém e ingressei no empreendedorismo”

A virada de chave

Nessa situação, saiu do banco aos 22 anos e tomou uma decisão que mudaria sua vida para sempre: nunca mais seria empregado de ninguém. Foi aí que ingressou de vez no empreendedorismo. “Montei uma distribuidora, vendi cerveja, montei uma empresa que que prestava serviço de limpeza. Mas como sempre existia o jogo de relações entre as EMPRESAS e poder público, nunca conseguia ser contemplado. Aí mudei a atividade para construção civil, já que eu estava terminando uma faculdade nesse ramo”.


Certo dia conseguiu ser contemplado com as primeiras obras no governo de Romildo Magalhães, na década de 90. “Peguei duas obras pequenas, mas sempre fui muito aplicado. Montava minhas próprias planilhas, acompanhava as obras, formava meu pessoal, e com isso consegui fazer o nome da empresa com pequenas obras”.


Na faculdade fez um amigo que o indicou para trabalhar no setor de informática do então governo Romildo.


José Adriano tinha o curso básico de programador e ficou por lá “passando uma chuva” até conseguir organizar sua empresa. “Depois assumi o cargo de chefe de setor de transporte, onde tive um forte embate com o jogo pesado do uso da máquina pública”. Ele relembra que tentou moralizar o setor da estatal. “Confesso que fiquei triste porque existia o famoso “jeitinho”, que eu não conhecia. No banco, era tudo muito rígido com as diretrizes e eu fui moldado com esses princípios”.


Chegou a um ponto em que o próprio amigo que indicou Adriano para o trabalho, o exonerou. “Ele me retirou do setor e colocou em outro E Queria que recebesse sem trabalhar, ficasse como um parasita. Foi então que eu o ameacei dizendo que se ele colocasse algum dinheiro na minha conta salário, eu denunciaria ao sindicato. Até que ele se afastou do cargo para concorrer eleição e outra pessoa assumiu e resolveu atender ao meu pedido e me demitiu”.


O empresário então resolveu tocar sua empresa e também chegou a ter contrato com o poder público na construtora. Entretanto, garante que seu perfil sempre foi a de contribuir com o estado. “O segundo mandato de governo do Jorge Viana teve entrega de muitas obras. Tanto trabalho possibilitou que empresas saíssem de pequenas para média e grandes. Contudo, sem condição de capacitar as equipes. Por isso acabamos cometendo o erro de pegar obras complexas num momento em que o estado também não tinha maturidade para entregar projetos bem feitos. Foi quando a construção civil entrou num processo de auto desgaste, fragilizando de vez o setor, mais do que qualquer outro”, lamenta.


Adriano acredita que o empreendedorismo é forte no Acre por ser a maneira de famílias sobreviverem na crise

Reconstrução da autoestima do povo e do empresário

Passados os momentos sombrios, a luta passou a girar em torno da reconstrução da autoestima do empresário local. Lema que virou discurso em sua candidatura à presidência da Fieac em 2015. “Sempre vi que os segmentos precisam ter representantes que conheçam sua dor. E esse é o desafio: fazer o setor produtivo acordar e buscar soluções para nossos próprios problemas.


Em função da pandemia, o empresário precisou ser mais ousado e ter mais criatividade, além de ter aumentado o índice de empreendedorismo”. Adriano acredita que o empreendedorismo é muito forte no Acre porque esse tem sido o único jeito de as famílias tentarem sobreviver num momento de crise. “Essa é a parte que me deixa muito orgulhosos de ser acreano e brasileiro, porque quando você tem saúde, você tem esperança. E isso me motiva”.



De acordo com o empreendedor, a situação da crise econômica do Acre em relação à construção civil não é de agora, mas se arrasta há bastante tempo. “A ideia que tenho é de valorizar o produto acreano. Esse orgulho do Acre é o que precisa ser resgatado. Mas isso não pode ser feita de maneira ideológica. Temos que reconstruir a autoestima do empresário”.


Quando assumiu a Federação, Adriano contou que a entidade não passava de uma extensão do estado. “Antes de mim não se recebia políticos de partidos distintos e isso me gerava muito desconforto. Vi ali uma oportunidade de fazer as coisas de maneira diferente. Foi então que me vi noutro embate. Foi um choque de gestão, tive que reduzir déficit de orçamento, e com isso um desgaste natural de quem perdeu suas acomodações. Por isso também acabei tendo um processo muito complexo de reeleição no segundo mandato”, relata.


Como sempre buscou trabalhar para a melhoria de todo os empresários, percebeu que os microempreendedores gostaram de ser valorizados e fez questão de manter esse direcionamento na Federação.


“Fizemos uma ruptura em algumas zonas de conforto. Tive esses desgastes por conta da minha postura e sei que não é diferente no âmbito da administração pública”.


O empresário já teve mais de 1.500 funcionários, hoje possui menos de 100 e lamenta a postura do estado diante de algumas situações. “Quando uma montadora de carros ameaça demissão em massa de mais de mil pessoas, o Congresso para e dá um jeito de contemplar a montadora para evitar demissões. Já no Acre, uma construtora perde 1.500 funcionários e os governos dão as costas ao problema, e alguns torcem contra o empresário por achar que são todos iguais, que todos têm relação promíscua com o poder público”.


Para ele, na construção civil o risco sempre fica com o empresário que assume um projeto que o estado entrega, com números que o estado acredita ser real. “E o estado pensa que quando contrata uma empresa, todo aquele valor bruto vai para o bolso do empresário. Não considera que ele precisa comprar material, contratar mão-de-obra, pagar impostos e se sobrar 2%, tem que comemorar”.


Pior, segundo o Adriano, é quando se está ligado a um projeto de governo ideológico e cresce uma oposição. “Todo mundo te marginaliza, como se estivesse escrito na sua testa o nome do partido. Esquecem que você trabalha por quem te dá condições de continuar trabalhando”. Sem nenhuma obra em execução relacionada ao estado, atualmente sua construtora apenas presta serviço para outras empresas que possuem alguma obra com o estado e precisam de sua expertise. “Não tenho nenhum familiar trabalhando no governo, nem na prefeitura. Tudo que temos hoje é fruto do nosso trabalho”, afirma.


“A maioria dos que estão na periferia continuam na mesma situação. Mas as pessoas não têm que mudar de lugar para melhor de vida”.

 


Projetos reais e vida real

 


Em sua proposta de pré-candidatura, José Adriano ressalta a importância de manter projetos reais, trabalhar com propostas para quando acabar os 4 anos de mandato, a sociedade possa usufruir verdadeiramente de mudanças. “Não dá para trabalhar em cima de algo desconectado com a realidade. E quando você não está preparado para o poder, você se deslumbra, e isso passa a ser um problema. Esse processo também é um aprendizado”.


 


O emprego na vida de um jovem dá poder para que ele possa ajudar sua família, viajar, se sentir igual aos outros. Adriano vem focando nesse significado. “Mais do que um trabalho, você entrega sonhos nas mãos dessa pessoa. E vemos que a única forma de ajudar a sociedade é construindo uma economia forte com todo gás do empreendedor”.


 


Mesmo sendo amante de um bom churrasco, o que mais gosta de fazer no tempo livre é praticar esportes. Gosta de todo tipo de esporte, mas sua paixão é mesmo o futebol. “Infelizmente fui um jogador mediano. Mas ainda fui chamado para jogar profissionalmente, mas tive que desistir por volta dos 15 anos para estudar e trabalhar”.


 


 



 


Por vezes se pega relembrando os tempos de bairro Quinze e se comove pelo fato de muitas pessoas não terem conseguido mudar de vida. “A vida não mudou para maioria dos que estão lá. Me questiono: será que você tem que sair do lado das pessoas, dos amigos para poder melhorar de vida? Não pode ser assim”. Por isso assegura acreditar no poder da transformação, na oportunidade de emprego, capacitação, infraestrutura e qualidade de vida. “A gente não tem que mudar as pessoas de lugar para que elas melhorem de vida”.


 


Fora do trabalho, é adepto da leitura e dos filmes. Seus amigos quase todos são relacionados ao trabalho. Não é de sair à noite é conhecido por manter uma vida tranquila, sem agito. “Quase sempre procuro ficar em casa. Alguns me chamam de excêntrico, mas prefiro chamar de disciplina. Respeita todas as religiões e acredito muito no poder da fé. Sou fanático por noticiário e na vida, minha prioridade sempre foi o trabalho”.


Independência e confiança

 


Por fim, tudo que o empresário busca é ver a economia local crescer. Conta que sempre se relacionou bem com todos os governos e de forma muito independente. “Sempre busquei essa independência, o que foi marca em minhas gestões no Sistema S e na empresa. Nunca fiz divisões, sempre recebo todo mundo, do pequeno ao grande empresário, do vereador ao presidente da república. A porta nunca ficou fechada para ninguém”.


 


Adriano não se conforma ao fato de que um estado com 22 municípios ainda possua 4 isolados. “A infraestrutura deve ser prioridade para esses municípios. Se gasta dinheiro com coisas que não fazem muito sentido e não se olha de forma social para os bairros periféricos. Ninguém dá nada pela vida das pessoas que estão na periferia. No meu bairro [Quinze], não mudou nada, as pessoas vivem do mesmo jeito. Quando perguntam por que quero ser candidato, digo que a única ferramenta é a política para fazer as coisas mudarem dessas realidade”.


 


José Adriano garante não ser pré-candidato pelo cargo ou pelo poder em si, mas para fazer as pessoas acreditarem que é possível eleger um candidato ao cargo federal, que tenha vindo debaixo. “Não importa o local que a gente mora, mas a raiz, a essência que nos mantém determinados e obstinados a fazer alguma coisa boa. Santo de casa faz milagre, sim”.


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