Terceiro e quarto lugar na média das pesquisas de intenção de voto para presidente da República, Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) acreditam que tomarão a vaga do presidente Jair Bolsonaro (PL), e que um dos dois seguirá no segundo turno para a disputa contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Essa avaliação de que Bolsonaro pode ser derrotado já no primeiro turno aumentou após a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro. Ele é acusado de montar com pastores protestantes, indicados por Bolsonaro, um gabinete paralelo para cobrar propinas de prefeitos na liberação de verbas da pasta.
Os pré-candidatos do PDT e do MDB acreditam ainda que poderão conquistar o apoio um do outro para a disputa eleitoral. Simone Tebet e Ciro Gomes têm não só uma boa relação pessoal. Eles cultivam a proximidade entre ambos na esperança de atrair o apoio, um do outro, na reta final da disputa. Para isso, mantêm conversas constantes e cordiais por WhatsApp.
As pesquisas encomendadas por seus partidos mostram que haveria, tanto no lado de Lula como no de Bolsonaro, “uma franja” do eleitorado disposto a migrar para a eventual terceira via. Esse grupo se juntaria aos indecisos e aos já definidos tanto por Ciro quanto por Simone, somando cerca de 30% dos votos no primeiro turno.
Nas conversas que mantêm, nenhum dos dois tenta convencer o outro a desistir. Dizem a seus interlocutores que seria “uma indelicadeza”. Eles pretendem deixar que o “seguimento da campanha eleitoral” e das pesquisas leve o outro a se decidir, se um dos dois de fato avançar a ponto de a união fazer alguma diferença.
Se esse avanço não ocorrer em nenhum dos dois casos, os comandos das campanhas de ambos são realistas: acreditam que será mais provável o voto útil na reta final do primeiro turno, esvaziando-os e favorecendo a polarização entre Lula e Bolsonaro ainda no primeiro turno.
Não é só por causa da esperança de que podem deslanchar nas pesquisas que eles ainda não se juntaram. Há também uma dificuldade, digamos, ideológica. Embora ambos digam ter “o maior respeito e admiração” pelo outro, na verdade nutrem profundas diferenças de projeto, especialmente na área econômica.
Ciro considera que Simone Tebet está “dando ouvidos demais” a economistas com um ideário, que considera neoliberal, dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer.
Já a senadora avalia que as propostas de Ciro são bonitas, mas inconsistentes do ponto de vista da teoria econômica. E que ele está “por demais arraigado” nessas ideias heterodoxas, o que dificultaria um acordo.
Além disso, há a resistências nos partidos de ambos. Ciro não se entende e nem quer proximidade com o que chama de “banda podre do MDB”. Simone, por sua vez, não teria restrições a receber apoio geral do PDT, mas aí a resistência vem do partido de Ciro, que tende a migrar para Lula se o candidato desistir.
Trata-se de um caminho ainda pedregoso, mas sobre o qual ambos acreditam que podem trilhar e, cada um a seu modo, sair vitoriosos na eleição de outubro. É esperar para ver.
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