O pastor Gilmar Santos, suspeito de integrar um gabinete paralelo do MEC (Ministério da Educação), e preso na operação da Polícia Federal em uma operação batizada “Acesso Pago”, cobrou fiéis na noite de ontem (21), horas antes da prisão. Antes de iniciar o culto, transmitido nas redes sociais dele, Gilmar cobrou a contribuição para uma reforma da fachada da igreja em Goiânia.
Ele pediu, “em nome de Jesus”, o pagamento de duas parcelas de R$ 250 ou R$ 500 para ajudar com as obras. Segundo o pastor, a bíblia diz que “cada um contribua segundo as suas posses”, para pedir contribuição de quem só pode doar valores menores, como R$ 200 ou R$ 100.
Horas após o vídeo, o pastor Gilmar Santos foi alvo da operação da PF. Ele é um dos dois religiosos ligados ao ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, também preso hoje. Santos e Arilton Moura – cuja situação não foi informada pela Polícia Federal à imprensa -, foram citados como lobistas do “balcão de negócios” no MEC.
Operação
A Polícia Federal cumpre quatro mandados de prisão e 13 mandados de busca e apreensão distribuídos entre quatro estados (São Paulo, Goiás, Distrito Federal e Pará). Foram focos os endereços de Ribeiro e dos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos.
A ação foi batizada de Acesso Pago e investiga a prática de “tráfico de influência e corrupção para a liberação de recursos públicos” do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).
A PF identificou indícios de crimes na liberação de verbas do fundo com base em documentos, depoimentos e um relatório do CGU (Controladoria-Geral da União) — há três semanas, um novo documento do CGU apontou sobrepreço em edital do FNDE.
Relembre o caso
Em março, áudio obtido pelo jornal Folha de S.Paulo revelou que o governo federal priorizou a liberação de recursos a prefeituras indicadas pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura Correia, que não têm cargos oficiais no MEC (Ministério da Educação), mas que atuavam como lobistas na pasta. Ambos são ligados a Ribeiro.
Na gravação, o ex-ministro diz que o privilégio atenderia a solicitação de Bolsonaro, que negou ter orientado o então subordinado a cometer qualquer irregularidade. Após a divulgação do áudio, o prefeito do município de Luis Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB), disse que o pastor Arilton Moura solicitou R$ 15 mil antecipados para protocolar as demandas da cidade, além de um quilo de ouro.
No dia seguinte, Ribeiro admitiu o encontro com pastores, mas isentou Bolsonaro de pedir “atendimento preferencial” aos líderes religiosos e lobistas do MEC.
No ano passado, em evento no MEC com os dois pastores citados na reportagem, prefeitos conseguiram a liberação de recursos para novas obras. Um deles, da cidade de Anajatuba (MA), que tem 27 mil habitantes, obteve seis obras empenhadas. De acordo com a reportagem, a prefeitura nem sequer comprou os terrenos.