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Os desafios e conquistas do abastecimento de água em meio à Bacia Amazônica

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Por Ítalo Lopes


Uma conquista marcante na vida de todos os presentes. É assim que podemos definir a inauguração da extensão de rede de abastecimento de água do Bairro 8 de março, ocorrida no último dia 10, na comunidade do Nazaré, em Brasileia.

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O abastecimento de água com qualidade é sinônimo de dignidade e qualidade de vida para qualquer ser humano e este foi um momento único na vida das quase três mil pessoas atendidas pela obra.


Além do momento importante para todos os beneficiados diretamente pela intervenção, há também o sentimento de gratidão e de missão cumprida dos profissionais do Serviço de Água e Esgoto do Estado do Acre (Saneacre).


São de conhecimento público as dificuldades existentes para intervenções como essa. Além dos desafios de implantação pelas características próprias da nossa região, assim como a existência de redes antigas e de difícil manutenção, há também diversas outras questões que impactam diretamente na capacidade do poder público em atender as diversas demandas.


O investimento, de aproximadamente R$ 1 milhão, realizado em parceria com a Prefeitura Municipal de Brasileia, pode transmitir a falsa ideia de que somente com a disponibilidade financeira deste montante é possível fazer uma obra como esta.


Além dos valores, há todo o planejamento e as medidas previamente realizadas, como por exemplo a ampliação da capacidade de tratamento no município através das intervenções realizadas na área da captação que aumentou a disponibilidade deste que é, provavelmente, o recurso mais importante para a vida dos acreanos.


Impossível não citar também o esforço e compromisso dos agentes locais, como o gerente do Saneacre no município, Erisson Cameli, responsável pela construção de parcerias e pelo trabalho da equipe local em manter as redes existentes funcionando, além de buscar formas para contemplar os usuários até então não atendidos pelo sistema de abastecimento.


Todas essas questões são relevantes, mas ainda não são suficientes para garantir o atendimento destas 3 mil pessoas.


Antes mesmo de aumentar a capacidade de tratamento do município, é de responsabilidade do Estado, e consequentemente dos técnicos envolvidos, diagnosticar quais são os melhores caminhos para cada um dos 21 municípios sob responsabilidade do Saneacre.


Enquanto em Cruzeiro do Sul temos o programa Água para Todos, que desde 2019 já implementou 13 poços artesianos, e tem o objetivo de implementar mais sete até o final de 2022, essa mesma alternativa não é possível nas regionais do Baixo e Alto Acre. Por quê?


A resposta é técnica, mas simples. A formação geológica das nossas regionais tem características específicas, e o gestor responsável deve considerá-las antes de investir recursos financeiros e humanos para solucionar as questões existentes.

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Este diagnóstico não é construído do dia para a noite. Ele é formado através das inúmeras contribuições de todos os profissionais envolvidos com os serviços de saneamento no Estado do Acre ao longo dos últimos 50 anos. Desde a chegada da Fundação Sesp, na década de 50, passando por Sanacre, Deas, Depasa e agora no Saneacre.


As experiências vividas pelos nossos antecessores são fundamentais para o correto planejamento, não só do saneamento, mas como para todo o poder público, sendo fundamental o exercício de escuta da vivência de profissionais como os senhores Filogônio Ribeiro, biólogo com vasta experiência em análise e manutenção da qualidade da água e o sr. José Vaz responsável pela equipe de manutenção dos sistemas existentes nos vinte e um municípios do Estado, ambos com aproximadamente 40 anos de serviços prestados ao saneamento acreano.


São estas experiências, de equívocos e acertos, que nos guiam, em conjunto com as novas informações coletadas, para o bem comum. Um exemplo vívido na memória dos técnicos de saneamento desta questão é a experiência obtida na perfuração de poços no segundo distrito da capital acreana.


À época, amparados por um estudo realizado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) que detectou a possibilidade de abastecimento da região através de poços artesianos, o governo do Estado elaborou projeto executivo e providenciou 8 milhões de reais para a escavação de dezessete poços na região do Aquífero Rio Branco.


Infelizmente, mesmo amparados pelo estudo previamente elaborado, assim como pelo projeto, a execução dos poços foi descontinuada. Logo no início dos trabalhos, durante a perfuração dos cinco primeiros poços, foi constatada a insuficiência da vazão obtida no aquífero para a utilização com fins de abastecimento da população.


Este é apenas um exemplo de tantos outros que foram vivenciados ao longo dos anos na nossa região e que hoje fundamentam as decisões tomadas para a ampliação do atendimento à população acreana.


Os erros, infelizmente, também fazem parte da Gestão Pública. Apesar do óbvio desperdício atrelado, estes são fundamentais para que as alternativas mais adequadas para cada situação sejam escolhidas. Resta claro que tais alternativas serão mais facilmente encontradas por àqueles gestores que souberem reconhecer e aprender com o que foi previamente desenvolvido.


“O passado não está morto e enterrado. Na verdade, nem sequer é passado.” William Faulkner



Ítalo Lopes, diretor executivo do Serviço de Água e Esgoto do Estado do Acre (Saneacre), é engenheiro civil, graduado pela Universidade Federal do Acre; especialista em auditoria, avaliações e perícias de engenharia pelo instituto IPOG; e em gestão, governança e setor público pela PUC-RS. Também é conselheiro do CREA/AC e professor universitário. 


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