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Manejo conservacionista eleva em 63% produtividade em solos arenosos do Juruá

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Agricultores familiares do Juruá apostaram no manejo conservacionista para recuperar a fertilidade de solos arenosos improdutivos e tornar as lavouras mais rentáveis. De acordo com resultados de pesquisa da Embrapa, a produção de mandioca mais do que dobrou e as de feijão-de-corda (feijão-caupi) e milho superaram em cinco vezes a produtividade de cultivos tradicionais.


Além de aumentar a produtividade, as práticas agrícolas sustentáveis recomendadas pela Embrapa reduziram o custo de produção e trouxeram sustentabilidade ambiental para a atividade.

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Os solos do Juruá são predominantemente arenosos, com percentuais de areia entre 50% e 70% na sua composição. Devido à textura leve e ao reduzido teor de matéria orgânica, características que ocasionam a perda de água e nutrientes, os solos arenosos apresentam baixa fertilidade e elevada acidez, o que dificulta a agricultura. Submetido a práticas inadequadas de manejo, como o uso do fogo no preparo das áreas para os plantios, esse recurso natural degrada rapidamente.


Os estudos com manejo conservacionista são fruto de um trabalho da Embrapa, desenvolvido em parceria com a Universidade Federal do Acre (Ufac), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), instituições estaduais e municipais de fomento agrícola e agricultores do município de Mâncio Lima, com o objetivo de fortalecer a produção familiar. Especialistas testaram diferentes técnicas de manejo conservacionista, como plantio direto na palha, uso de plantas de cobertura e rotação de culturas, para validar e recomendar um sistema adequado aos solos arenosos do Juruá. O modelo avaliado possibilita uma agricultura sem fogo, revolvimento mínimo da terra, solo sempre protegido, redução no uso de insumos e diversidade de cultivos.


Segundo o pesquisador da Embrapa Acre Falberni Costa, responsável pelos estudos, com base nesses critérios foram avaliados esquemas distintos de adubação controlada e correção da acidez do solo, associados ao plantio direto e ao cultivo de gramíneas e leguminosas, em sistema de rotação com culturas agrícolas. Tanto a qualidade do solo como a produtividade das lavouras apresentaram melhoria desde as primeiras avaliações.


“Além de devolver a capacidade produtiva do solo e elevar o desempenho das culturas, o manejo conservacionista possibilita manter a fertilidade das áreas recuperadas e permite o uso contínuo da terra, com cultivos sucessivos, maior oportunidade de geração de renda na propriedade, menor custo de produção e benefícios para o meio ambiente. Esses aspectos confirmam o sistema como alternativa para uma agricultura familiar mais produtiva e sustentável”, ressalta Costa.


Segundo o técnico da Embrapa Acre, Manoel Delson Campos, que acompanha os agricultores do Juruá desde o início das pesquisas, a produção conservacionista envolve uma série de cuidados com a área que receberá os plantios agrícolas e as plantas de cobertura, trabalho realizado em diferentes etapas. O primeiro passo é limpar o terreno, com retirada de tocos e outros resíduos que possam dificultar a implantação do sistema.


“Outra etapa importante é a realização de análises químicas e físicas, a partir de amostras coletadas em pontos distintos do terreno, para conhecer as condições de fertilidade do solo e a necessidade de correção dos níveis de acidez e de adubação. As análises laboratoriais indicam os tipos de nutrientes e as quantidades adequadas para o solo, informações que proporcionam o uso racional de insumos e evitam gastos desnecessários”, afirma.


Após o plantio direto, ou seja, a semeadura das espécies agrícolas em solo não revolvido, as plantas de cobertura podem ser cultivadas em esquema de rotação ou consorciadas entre si ou com culturas agrícolas de interesse comercial. A manutenção dos resíduos das culturas (que eram queimados na agricultura tradicional) é outro requisito para conservar o solo coberto e protegido e desenvolve papel crucial no processo de recuperação da fertilidade.


O uso do fogo na agricultura ainda é uma tradição em propriedades rurais familiares do Juruá e outras localidades da Amazônia. O corte e queima da vegetação para limpar o terreno a ser cultivado, a cada ciclo agrícola, associado à ausência de práticas de adubação e correção, reduz ainda mais a qualidade do solo, especialmente os arenosos, e acelera o processo de degradação.


“Com o manejo conservacionista, tenho solos de qualidade e a produtividade da cultura melhora a cada ano. Na safra 2020/2021 produzimos 25 toneladas de raízes por hectare, um aumento de 150% no desempenho produtivo da lavoura, em relação à agricultura tradicional. Com solos férteis pude diversificar a produção com cultivos de milho e feijão-caupi, culturas que eram inviáveis na propriedade. A produtividade dessas culturas saltou de mil quilos para 5 mil quilos por hectare. Abandonei a agricultura de corte e queima e tornei minha propriedade mais produtiva. Acredito que esse é o caminho para a agricultura familiar”, ressalta o agricultor Sebastião Oliveira, morador do município de Mâncio Lima.


Na agricultura conservacionista a melhoria na produção é contínua, enquanto na agricultura de corte e queima o tempo máximo de uso de uma área é de quatro a cinco anos e, já no terceiro ano, a produção reduz 50% devido ao esgotamento do solo.

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Desenvolvidas por meio de Unidades Demonstrativas implantadas em propriedades rurais familiares, as pesquisas com manejo conservacionista contemplam o cultivo, em uma mesma área, de culturas agrícolas de importância econômica para o Juruá e que garantem segurança alimentar. A primeira fase do trabalho, entre 2006 e 2014, estudou um modelo conservacionista com foco na produção de mandioca e milho. No manejo do solo foram utilizadas diferentes dosagens de calcário, fósforo e potássio, em momentos distintos dos experimentos.


Nos primeiros anos, o ganho em produtividade foi de 40% para a cultura da mandioca e 50% para o milho, em comparação com a agricultura de corte e queima. Na segunda etapa dos estudos, a produtividade média das culturas avaliadas aumentou 63% em relação à produção no sistema tradicional. Além disso, o cultivo sequencial de culturas agrícolas, em uma mesma área, no mesmo ano/safra, reduziu custos na produção e gerou mais renda para as famílias. Esse resultado contribuiu para validar o sistema conservacionista como alternativa de produção para a região.


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