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61,1% da massa salarial do Acre já vem da iniciativa privada

Foto: reprodução/internet

Em março destacamos em um dos nossos artigos a queda na taxa de desemprego no Acre (13,2%), no final de 2021. Na oportunidade, também destacamos que a nossa taxa continuava alta, acima da taxa Brasil (11,1%). Afinal eram 51 mil desempregados, 38 mil desalentados e 157 mil dos ocupados estavam na informalidade. Por outro lado, no último dia 13/4, o Portal 360, publicou que o Acre está dentre os 12 estados da federação, cujo número de beneficiários do programa Auxílio Brasil é maior que o de empregos com carteira assinada (o que exclui setor público). Os dados consideram os 87.812 mil trabalhadores formais que têm a carteira de trabalho assinada no Acre. 


No artigo de hoje, vamos explorar essa última notícia. Que soa como se o Acre dependesse totalmente do poder público. Aquilo que os acreanos gostam de chamar de a economia do contracheque. Vamos mostrar que, apesar de um peso relativamente grande do poder público (seja federal, estadual e/ou municipal), não é bem verdade. Vamos analisar a questão através de dois indicadores fornecidos pelo IBGE. O primeiro, utilizando uma série histórica do nosso PIB. O segundo, analisando dados da massa salarial, divulgadas pelo Instituto, através da PNAD Contínua Trimestral. 


PIB: A participação da administração pública e da seguridade social no valor adicionado em 2019 foi de 36,3%


Vamos iniciar comentando um importante conceito econômico/contábil que é o de Valor Adicionado Bruto (VAB). Trata-se do valor que cada setor da economia (agropecuária, indústria e serviços) acresce ao valor final de tudo que foi produzido em uma região, ou seja, ao Produto Interno Bruto (PIB). Portanto, é a soma dos VABs setoriais e dos impostos é a principal medida do tamanho total de uma economia.


Vamos ao que interessa. No gráfico abaixo, temos a participação da administração, defesa, educação, saúde públicas e seguridade social no valor adicionado do PIB do Acre de 2002 até 2019. Ele mede a capacidade que o setor público (federal, estadual e municipal) teve de gerar valor dentro do PIB. A sua participação nesses 17 anos de análise, foi capaz de adicionar, em média, 34,7%/ano ao PIB do Acre. Em 2019, último ano da análise, sua participação foi de 36,3%. Um valor significativo, sem dúvidas. Mas a leitura correta é dizer que: os setores da agropecuária, da indústria, da construção e dos serviços (exceto o setor público), adicionaram nos últimos 17 anos, em média, 65,3% ao PIB acreano. Em 2019, os setores da iniciativa privada, adicionaram ao PIB 63,7%.  


O volume de Serviços do Acre em 2019, cresceu 1,4% e compensou a queda da agropecuária e da indústria. Sua participação no PIB subiu de 83,1% (2018) para 85,3% (2019). A atividade de administração, defesa, educação, saúde pública e seguridade social, que representou 40,7% da economia do Estado, apresentou queda em volume de 0,6%.



61,1% foi a participação dos trabalhadores do setor privado na massa de rendimentos real de todos os trabalhos no final de 2021. Trabalhadores do setor público representaram 38,9%.


O segundo indicador importante a ser analisado é a composição da massa salarial. Ela representa a soma de todos os salários pagos aos trabalhadores durante um período. Nossa intenção aqui é comparar a contribuição dos trabalhadores do setor público na massa salarial que circula mensalmente na economia acreana e compará-la com a massa salarial gerada pelos trabalhadores do setor privado. Nossa hipótese é que, ela pode revelar um importante indicador, pois, se existe um aumento na massa salarial pode significar um aumento da produção (PIB), devido um aumento do consumo dos trabalhadores que, enquanto componente do consumo agregado, devolvem parte dos seus salários para a economia.


No gráfico abaixo, temos a massa de rendimento real de todos os trabalhos, habitualmente recebido por mês e de todos os trabalhos do setor Público com rendimento de trabalho, medidos em milhões de reais. O período de análise é do 4º trimestre de 2018 ao 4º trimestre de 2021. Temos então a massa total e a massa dos trabalhadores do setor público. Podemos medir então, a participação dos trabalhadores do setor público no total da massa que circula mensalmente. Para ser mais didático, vamos comentar abaixo, os dados do último trimestre de 2021.


Nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2021, a massa salarial do Acre foi de R$ 688 milhões por mês. O Salário médio dos 381 mil trabalhadores acreanos ocupados (formais e informais) foi de R$ 2.152,00 reais. Já os 73 mil empregados no setor público (inclusive servidor estatutário e militar) recebiam habitualmente, R$ 3.664,00. Portanto a massa salarial dos empregados no setor público era de aproximadamente R$ 267 milhões. Portanto a participação da massa salarial dos trabalhadores do setor público era de 38,9% da massa salaria total. Ou seja, a massa salarial dos trabalhadores do setor privado, nos últimos 3 meses de 2021, representava 61,1% da massa salarial total do Acre.



A média/mês dos últimos 3 anos (período analisado), foi de uma participação de 41,6% da massa salarial dos trabalhadores do setor público no total da massa. Dessa forma, a participação dos trabalhadores do setor privado foi em média de 58,4%. Por outro lado, a participação da administração pública na formação do Produto Interno Bruto (PIB), que chegou a 37,1% em 2006, desabou para 32,4% em abril de 2014 e fechou 2019 em 36,3%.


Para finalizar, observamos que os dados dos 17 anos de PIB com os dados dos últimos três anos da massa salarial não são contraditórios. Pelo contrário, eles se combinam e se complementam. Mesmo sabendo da grande importância do setor público na economia acreana, a hipótese de se afirmar que vivemos em uma economia do contracheque, não se comprovou na realidade dos dados, pelo menos nesses dois importantes indicadores.



Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas