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Preço de insumos e veto da China: impactos na produção do milho e da carne bovina no Acre

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Faço hoje algumas observações acerca de questões conjunturais de mercado que estão influenciando os negócios do Milho e da Carne Bovina, dois importantes produtos primários produzidos no Acre. A proposta de hoje é analisar como estas questões conjunturais podem repercutir em suas respectivas cadeias produtivas locais. 


Milho: aumento nos custos de fertilizantes e defensivos ameaçam a safra? 

Conforme o jornalista Mauro Zafalon, na sua coluna Vaivém das Commodities na Folha de São Paulo do dia 27/10/2021, o produtor agrícola já não estava acostumado com custos de produção tão elevados como os deste ano, com o risco de que essa pressão deverá continuar no próximo ano. O jornalista explica que a elevação mundial da demanda, redução na oferta e desacertos internacionais na rede logística puxaram os preços de alguns insumos para patamares não vistos há uma década. O cloreto de potássio, por exemplo, subiu 153% no ano, afirma o jornalista.


Os produtores acreanos que comemoraram a autossuficiência na produção local do produto em 2020, começam a se preocupar e utilizar outras estratégias para que o bom momento na produção do milho não possa tirar a competitividade da produção local.



Como pode ser observado no gráfico acima, é impressionante a melhoria dos indicadores da produção de milho no Acre, principalmente a 2ª safra, a chamada safrinha, onde o estado alcançou uma alta produtividade média de (4.597 kg/ha), bem acima da média da Região Norte (4.063) e próximo da brasileira (5.771). O Acre viu a safrinha de milho crescer, em cinco anos, 235% na área colhida, 883% a sua quantidade produzida e 194% o seu rendimento médio. Os números para 2021 são animadores, as previsões são para dobrarmos, tanto a área colhida como a produção esperada.


Não podemos esquecer que a produção local de milho abasteceu a totalidade do consumo estadual, principalmente o complexo de suinocultura e avicultura localizado no Alto Acre. Além de abastecer o mercado local, as estatísticas mostram que já exportamos em 2021, mais de US$ 625,47 mil de milho para o Peru. Portanto é lamentável que essa conjuntura adversa possa atrapalhar os planos dos produtores acreanos.


Preocupado com a situação, fui procurar um especialista na área para que pudesse analisar a situação conjuntural. Fui ouvir o sempre solícito Assuero Veronez. Além de produtor de milho o Assuero é o Presidente da Federação da Agricultura do Acre, portanto a pessoa certa para opinar sobre o cenário. Ao confirmar o cenário de aumento dos insumos, Assuero observou o seguinte:



Carne Bovina: A demora da China em retornar ao mercado brasileiro de carne bovina se reflete nos preços internos do boi, provocando uma forte retração no setor.

Também conforme o jornalista Mauro Zafalon, na sua coluna Vaivém das Commodities na Folha de São Paulo do dia 03/11/2021, explica que desde que o governo brasileiro suspendeu as exportações para o mercado chinês, em setembro, após a ocorrência de dois casos atípicos de vaca louca. O efeito China repercutiu fortemente no mercado da carne bovina, com reflexo em toda a cadeia produtiva, resumo abaixo os principais impactos, conforme descreve Zafalon:


– Queda nas vendas externas;


– Reflexo nos preços internos da carne, principalmente no atacado. Queda na arroba (de 10 a 21%);


– Início de uma pequena queda no varejo. Os dados da Fipe apontam uma retração de 0,79% nos preços médios de outubro. Queda maior nos produtos de menor valor, como músculo, paleta e acém (recuo superou 3% em outubro);


A pecuária bovina acreana possui mais de 3,8 milhões de cabeças e representa 7% de todo o efetivo do rebanho da Região Norte. É a atividade que mais gera valor no setor primário acreano e envolve vários agentes econômicos em sua cadeia produtiva. Conforme dados fornecidos pela Embrapa, em 2016, mais de 82,2% das propriedades que criavam bovinos, estavam nas mãos de micros, pequenos e médios produtores (aqueles que detêm até duas mil cabeças), existem grandes pecuaristas, mas não é uma atividade de grandes pecuaristas. Acompanhar a conjuntura é importante e fundamental para a realização do cálculo econômico.


Os movimentos de mercado são acompanhados por todos. Pelos produtores, pela ampla cadeia intermediária (frigoríficos, supermercados, transportadores etc.), todos preocupados com a rentabilidade de seus negócios e, na ponta, os consumidores, ávidos pela queda no preço final da carne para que possam ter acesso a essa importante fonte de proteína animal. Novamente fui ouvir o Presidente Assuero sobre a conjuntura, resumo de suas palavras:



A cadeia fortemente oligopolizada não faz com que os movimentos de mercado se reflitam nos preços finais do produto. Apesar da queda dos preços do boi e da carne bovina no atacado e para o produtor, não há mudanças nos preços ao consumidor final. Dados do IPCA de Rio Branco no mês de outubro, mostram que a carne já subiu, em média, 14,41% no ano, destaque para a pá bovina que acumula alta de 21,76% no ano. É uma distorção que mostra que existe um elo que não quer fazer parte de uma corrente da cadeia. Seria bom para os pecuaristas acreanos, que houvesse uma ação do varejo no sentido de reduzir preços e margens, pois aumentaria a venda da proteína, ajudando a desovar o gado confinado atualmente. Seria muito bom para o consumidor final, principalmente os de baixa renda, que poderiam acessar essa importante fonte de proteína.


Vamos acompanhar a conjuntura para esses dois produtos importantes da nossa economia.



Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas