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Indígenas montam dossiê e denunciam estrada ilegal com possível rota de narcotráfico no Acre

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A Associação Ashaninka do Rio Amônia – Apiwtxa elaborou um dossiê para apresentar a ameaça da Estrada Nueva Italia – Puerto Breu, a UC-105, no Peru. A rodovia, que atualmente está sendo reaberta de forma ilegal, corta territórios indígenas e áreas de conservação há menos de 11 km da fronteira com o Brasil, principalmente com a Terra Indígena Kampa do Rio Amaônia, da Aldeia Apiwtxa.


Segundo o documento, a rodovia e sua ocupação descontrolada é uma ameaça a mais de 30 comunidades indígenas e tradicionais em território peruano e brasileiro. A comunidade indígena alega que a estrada está sendo aberta de forma ilegal por empresas madeireiras peruanas, cortando nascente de rios importantes para a região.

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“A Apiwtxa reuniu o conjunto desses documentos e arquivos, pois considera este o pior momento de ataques ao nosso território. Se trata de uma estrada que liga o Rio Ucayali ao Rio Juruá, por dentro de uma floresta em que habitam comunidades indígenas e populações tradicionais. O impacto disso será muito grande, com a migração de grupos ao longo desta rodovia, trazendo para próximo da nossa fronteira e para a cabeceira dos nossos rios, extração de madeira ilegal, tráfico de drogas e outras ações ilícitas”, explica Francisco Piyãko, liderança Ashaninka da Apiwtxa.


Os indígenas apontam que a rodovia, sendo aberta de forma ilegal, é porta aberta para o narcotráfico, extração ilegal de madeira e ocupação indevida ao longo de todo o seu trajeto. As cabeceiras dos rios e igarapés serão altamente afetados, levando a consequências perigosas aos moradores do lado brasileiro da Amazônia. Rio Ucayali, Rio Genepanshea, Rio Sheshea, Igarapé Shanuya, Igarapé Noaya, Igarapé Shatanya, Igarapé Alto Tamaya, Rio Amônia, Rio Dorado, Rio Juruá, Rio Arara, Rio Breu, Rio Huacapishtea são alguns dos corpos d’água que podem ser contaminados com o aumento de atividades ilegais.


Em meio às denúncias, os indígenas falam sobre abertura ilegal do trecho da estrada UC-105 que vai de Nueva Italia a Puerto Breu, no Peru, por empresas madeireiras e outros grupos.


O longo dossiê expõe uma série de documentos oficiais, mapas e falas das lideranças, que mostram o risco que este empreendimento representa para os povos indígenas e comunidades tradicionais da região. “No começo de agosto de 2021, o Comitê de Vigilância da Comunidade de Sawawo (Hito 40) confirmou à Associação Apiwtxa que a frente de abertura da estrada UC-105 (Nueva Italia-Puerto Breu) já se encontra a aproximadamente 11,3 km da fronteira com o Brasil, às cabeceiras do Rio Amônia, ameaçando inclusive a soberania nacional brasileira. Desde o início de agosto de 2021, o Comitê de Sawawo se encontra em expedição no rio Amônia para verificar as ações ilegais das madeireiras na região e identificar o tamanho do impacto, quantidade de máquinas, qual empresa é responsável e quantos trabalhadores há no local”.


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O Dossiê faz ainda um histórico da UC-105, mostrando como apenas os interesses econômicos, de grupos políticos e de criminosos forçam a criação desta rodovia e da exploração desenfreada na região. A ocupação indevida de suas cabeceiras, seguida de grandes atividades ilegais, como mineração ou o tráfico de drogas, pode gerar contaminações de diferentes graus, afetando a fauna que usa as cabeceiras para reprodução, por exemplo.


Ocupação

A ocupação da UC-105 já está sendo feita, conforme mostram imagens de satélites. Já é possível ver, pelo menos, cerca de cinco pistas ilegais, construídas ao longo da estrada UC-105. Sem controle e fiscalização, esta região pode se tornar uma das maiores em produção da cocaína. Para se ter uma ideia, segundo notícias de imprensa da região do Ucayali, foram identificados pelo menos 12 hectares de cultivo de coca nos arredores de Nueva Itália, localizada ao norte de Bolognesi, que fica na rota do trecho para Puerto Breu.


Outras imagens mostram o avanço do desmatamento. A análise das imagens de satélite da Planet Data de 2 de maio e 21 de julho de 2021 revela duas pistas de pouso adjacentes ao trecho UC-105. Essas duas pistas foram estabelecidas em 2018 e 2020. Durante o período de 81 dias entre a obtenção das duas imagens de satélite, foram desmatadas 22 novas áreas de floresta em um raio de 5km mediante às duas pistas de pouso, com um total de 30,4 hectares de área desmatada e uma média de 1,38 hectares cada.



O Dossiê aponta que “os resultados indicam uma possível relação geográfica entre a estrada proposta, as pistas de pouso e o desmatamento durante a primeira parte da estação de poucas chuvas”.


Francisco Piyãko ressalta o que essa ameaça significa para seu povo e os demais da região. “O que ameaça uma a região dessas é essa aproximação de fora para cá, com outros modos de vida, com outros valores, com outras coisas que vai querer sobrepor esse jeito de viver aqui, e esse talvez seja o lugar do mundo que tem uma qualidade que está tão pura, que não tem o mercúrio, que não tem nenhuma contaminação. A água é pura, você pode beber, você pode andar, você pode vir e comer peixe, a caça”, finaliza.


Organizações peruanas, com apoio da Apiwtxa, já estão acionando os órgãos governamentais peruanos. Nesta semana, a Associação de Comunidades Indígenas para o Desenvolvimento Integral de Yurúa Yono Shara Koiai – ACONADIYSH e a Associação Pro Purús formalizaram denúncias contra a invasão ao território de Sawawo. “Acreditamos que o governo peruano irá dar uma resposta para esta situação e ajudar que isto seja revertido”, afirma Francisco.


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