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Acre ganha fama internacional com jambu, tucupi e peixe de rio

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Há quase 30 anos o Acre não é só a terra do jambu, do tucupi ou do pirarucu à casaca. O estado é atualmente o lugar em que a capital possui uma comida regional internacionalmente reconhecida e admirada. Trata-se da cozinha do restaurante Point do Pato, que humildemente ganhou o paladar dos acreanos e dos turistas que por aqui chegam (até daqueles que ainda nem conheceram as ‘Terras de Galvez’).


Tudo começou em 1990, quando Socorro Moreira Jorge, criadora do Point do Pato, estava em uma viagem de família na cidade de Porto Seguro (BA) e se deparou com um local simples, ambiente agradável e comida boa. “Como sempre gostei muito da noite e de receber pessoas em casa, pensei: se tivesse um lugar daquele, no bairro Tropical, eu iria querer”.

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Ela nem imaginava, mas quando retornou da referida viagem, um pequeno quiosque próximo de sua casa no bairro Tropical estava à venda. “Era bem pequeno, mas tive sorte. Moro aqui há muitos anos. Logo disse que iria comprar”. Após adquirir o espaço, começou a fazer sua comida: pato, rabada, petiscos, coração de galinha, entre vários outros pratos. “Rapidamente o local se tornou um sucesso imenso. Passou a ser um espaço gastronômico regional e turístico em Rio Branco”, conta.


Em pouco tempo o restaurante virou referência no quesito qualidade e satisfação do cliente. “Não imaginava que seria esse sucesso. Cada vez que as pessoas elogiavam, mais eu cozinhava, mais eu criava pratos e buscava mais matéria-prima no mercado da nossa região para transformar num prato e trazer algo bom para servir às pessoas”.


Pioneirismo e comida caseira – Socorro atesta que o Point do Pato foi pioneiro em comida regional de verdade na capital acreana. “Antes disso, aqui não tinha nada parecido. Só havia estabelecimentos tentando fazer o que se fazia no sudeste e no sul em nível de comida”, explica. Já ela buscou valorizar acima de qualquer coisa a comida e os ingredientes locais.


A cozinheira se orgulha de ter agradado tanta gente com seu próprio tempero. “Eu trouxe de dentro da minha casa os meus pratos. Era o que eu almoçava e jantava e passei a cozinhar tudo isso no meu restaurante. Quando eu precisava de mais ajudantes, a pessoa tinha que seguir o meu tempero”. Moreira afirma que a paixão pela cozinha vem do berço. “Na minha casa todo mundo sabe cozinhar. Sempre foi assim”, assegura.


O gosto pela criação de novos pratos, elaboração de cardápio e envolvimento com a culinária a fez ser notada por críticos e veículos voltados à gastronomia brasileira. “Nisso de receber cada vez mais clientes comecei a receber prêmios. Todos os anos éramos premiados de alguma forma por conta da minha comida e pelo fato de receber muitas pessoas importantes aqui”.


Reconhecimento – Point do Pato é caminho certo dos que chegam a Rio Branco. Gente que vai direto do aeroporto só provar o tempero de Socorro Moreira. Políticos, artistas, jornalistas, celebridades, gringos e vizinhos. A clientela é diversificada e eclética. “Quando a Rede Globo estava gravando a minissérie Amazônia, todos os atores vinham comer aqui. Recentemente uma equipe do SBT também escolheu nos prestigiar”.


Os primeiros pratos a serem servidos no local foram pato e rabada no tucupi. Depois veio a moqueca, picanha, variedade de filés e os risotos que sempre homenageiam no nome alguém importante para a chef. “Pedrinho Aguiar é uma pessoa de Manaus que passou uma receita de camarão defumado com tucupi e jambu, e resolvi fazer essa homenagem. Minha cunhada passou uma receita também e a homenageei no cardápio. Um amigo que gostava muito de picanha com banana frita, coloquei o nome de picanha Rizomar”, explica.


Até os dias de hoje Socorro recebe inúmeras propostas para abrir um Point do Pato em outros estados brasileiros. São Paulo, Brasília, Porto Velho, são algumas cidades que já manifestaram interesse em ter o tempero acreano. “Mas não tive interesse, não quis. Estamos bem acomodados aqui. Em pouco tempo de abertura já começamos a receber prestígio. Foi tudo muito rápido. Primeiro, meus amigos todos vinham para cá e divulgavam o local para outras pessoas. Até que virarmos uma referência a nível nacional”, salienta.


O local é conhecido por receber os astros globais quando visitam o Acre. Eles vêm em busca dos famosos tijolinhos de pirarucu, partes nobres (coxas e peito) do pato, tucupi, risoto de pato, filé de pirarucu ao leite de castanha e os pratos exóticos, que contém rã, tartaruga e jacaré.

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Assim como outros empreendedores, Socorro também já enfrentou momentos difíceis, em que pensou não conseguir continuar com o restaurante. Mas a confiança no ensinamento de sua equipe foi fundamental. “Já tive que me afastar por dois anos por volta de 2014 num processo de doença, mas tenho uma equipe preparada, que ficou assumindo sozinha o estabelecimento. Meus filhos também ajudaram nessa época”.


Apesar de a pandemia ter sido prejudicial para a maior parte da economia local, para o Point do Pato não houve muitos impactos, pelo contrário. “Graças a Deus a gente não padeceu. Não sentimos prejuízos. Fechamos e reabrimos, trabalhamos conforme a música, sempre dentro do limite e do permitido. Começamos a trabalhar com delivery com a pandemia e vimos que nos ajudou muito na divulgação do nosso trabalho”.


Cardápio diferenciado – O diferencial do Point do Pato, além do ambiente extremamente aconchegante, fica por conta mesmo é do cardápio. Socorro ouviu recentemente de uma equipe de reportagem do SBT que sua cozinha não é regional, mas sim internacional. “Eu fiquei muito feliz com isso. Essa equipe estava aqui a trabalho e jantou em meu restaurante todas as noites”, lembra.


Ela garante que o espaço, apesar de receber a presença de muita gente da classe política, é apartidário, e que só pessoas queridas frequentam o restaurante. “Senadores que vieram, que nunca pensei que viessem. Nossos governadores. Sempre ficava muito na cozinha, então não tinha muito tempo para vê-los aqui. Mas todos que frequentam o Point são muito importantes para mim”.


A empresária sempre gostou de cozinha, mesmo assim nunca achou que conseguiria montar um restaurante e fazer tanta gente gostar de sua comida. “Eu achava que um dia iria ter um bar, que serviria petiscos, tira-gostos. De repente eu falei: vou servir pato e rabada. E depois disso me encantei cada vez mais pela cozinha”. Ela afirma que quanto mais as pessoas elogiavam, mais ela se empenhava e procurava fazer evoluir seu lado profissional.


A realidade é que de amador o Point do Pato não tem nada. Socorro Moreira nunca fez nenhum curso técnico ou de nível superior em gastronomia, mas sua experiência na cozinha em casa para a família a fez crescer dentro da cozinha profissional. “Fui criando meus pratos, usando o maxixe, o quiabo, a macaxeira, o pirarucu desfiado que sempre fazia com baião de dois, o charutinho de pato, e sirvo tudo isso hoje, a legítima comida caseira”.


A criadora garante nunca ter procurado seguir o trabalho de ninguém, mas sempre fazer aquilo que vinha da sua imaginação. “Hoje existe a Abrasel, que reúne os empresários do ramo  para discutir e trocar experiências. Sempre fui muito envolvida com esse tipo de atividades, feiras e exposição fora do estado. Mas antes disso, quando essa associação não existia, eu era muito procurada por outros colegas que buscavam se inspirar no Point do Pato, conhecer nossas receitas e nunca neguei”.


Para ela, quanto mais a concorrência se inspira em seu restaurante, melhor para os clientes. “Só copiam e se inspiram naquilo que é bom, não no que é ruim”. Socorro gostaria de homenagear mais cidades acreanas em seus pratos. Enquanto isso não acontece, ela apresenta o peixe a Xapuri e o peixe a Tarauacá, que levam ingredientes e combinações inusitadas e apresentação diferenciada.


Point do Pato foi destaque no ano de 2017 em Brasília no “Restaurante “Universal” (210 Sul), dirigido pela renomada Chef Mara Alcamim. Os pratos “Pirarucu de Casaca” e o “Risoto de Pato ao Tucupi” mostraram porque são sucesso na noite dedicada aos sabores acreanos. O restaurante também estampou diversas vezes a revista nacional GULA, a mais famosa da área gastronômica.  A junção da cozinha amazônica, indígena,  nordestina e caseira de Socorro resultam no sucesso do empreendimento. O Point do Pato também é citado todos os anos na famosa revista de turismo “Quatro Rodas”, além de estar como indicação no “Guia da GOL”.


Ficará na história – Moreira não tem dúvidas: o Point do Pato vai ser eterno. “Tenho certeza que será repassado de mãe para filhos, de filhos para netos. Quando eu não puder mais trabalhar, alguém vai assumir isso aqui. Eu amo esse lugar que tem muitas histórias fantásticas desde o início até agora”.


O processo de criação dos pratos pode ser longo ou demorado, a depender do estado de espírito de Socorro. “Sempre digo que eu durmo pensando comida e acordo pensando comida. Às vezes estou deitada e me vem a ideia de um prato, de uma nova entrada”, relata. Ela acredita ter sido pioneira em comida regional na cidade, por isso o sucesso até hoje na região. “Hoje todo mundo quer seguir o regional e acho fantástico que cada vez mais pessoas se inspirem nisso”.



A chef orienta quem deseja encarar a empreitada da gastronomia como profissão. Ela afirma que empecilhos sempre irão existir, mas se tiver vocação e gostar do que faz, deve passar por cima das dificuldades com sorriso no rosto e chegar aonde quiser.  “Consegui formar meus três filhos com isso aqui. Teve momento em que eu não podia pensar em mais nada, só em conseguir ter uma cozinha melhor para meu restaurante servir o melhor”, detalha.


A arquitetura do lugar é o charme. Singela, despretensiosa, um tanto praiana em meio à floresta. Sempre foi e sempre será assim.  “Fomos os primeiros a servir o carpaccio que servimos hoje. Quem quiser seguir no ramo, deve saber que a mão de obra às vezes é complicada de obter, mas com determinação alcançará o sucesso”, finaliza, elencando seus clientes que vêm de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Holanda, Paris, África, entre outros.


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