Já foi dito lá pela zona Sul do Rio de Janeiro que, se não houvesse consumidores, não existiriam traficantes. Simples assim. Não é um raciocínio lógico. É uma conclusão estúpida. No começo, a droga, parafraseando Salomão, é doce como o mel, mas no final amargo como absinto.
Quando particularizamos cada vez mais o problema das drogas, chegamos à alma humana. Seus desejos, apetites, sua sede por prazer diante de um mundo consumista, competitivo, desigual, injusto, cheio de dor e sofrimento; sem sentido algum quando se depara com a angústia da morte que, aparentemente, parece ser o fim de tudo e o começo de nada.
Como dizia o Raul Seixas: “A morte, surda, caminha ao meu lado”. A questão é que surda não é a morte, é a maioria de nós.
Os gregos sabiam de tudo isso. Sempre os gregos! Por isso mesmo criaram um universo extraordinário de mitos para explicar, não só a realidade física, mas a alma humana que, para muitos deles também, era física. Alma (mente) e corpo era uma coisa só.
Os gregos tinham lá suas crenças. Uma delas, por exemplo, o “Orfismo”, criada pelo poeta Orfeu (VII Ac), que supunha a reencarnação depois da morte do corpo. A mesma tese defendida pela seita dos Saduceus nos dias de Jesus, o Filho de Deus, que para a maioria dos cristãos, defendia a ressurreição, a doutrina dos Fariseus.
As drogas sempre estiveram presentes na vida dos povos antigos. Os motivos nunca mudaram: A busca pelo prazer. Prazer que sempre acaba em destruição e morte. A ideia é essa mesma: Estrangular, sufocar e matar pelo prazer a fonte que gera a dor e o sofrimento, o corpo. A alma está ligada a vai junto.
Bem disse Santo Agostinho: “Tenho mais prazer em negar os meus desejos do que em realiza-los”. Na contramão, Nietzsche sapecou: “Quer se livrar de uma tentação? Ceda”. Acontece que ao ceder a um desejo, desejo realizado, vem o tédio e o desejo de uma novo desejo.
É exatamente o que acontece com as drogas. Lembra o mito do castigo de Sísifo: Sobe com a pedra montanha acima; a pedra rola pra baixo, sobe com a pedra de novo, lá se vem a pedra de volta…e assim sucessivamente por toda a eternidade. Albert Camus disse que quando Sísifo desce a montanha para pegar a pedra ele se dá conta do absurdo que é a vida.
Em determinado ponto da história os gregos, judeus cristãos e romanos ilustres convergem para um ponto fundamental: A moderação, o prazer está nas coisas simples da vida. Todo prazer exagerado é doença, vício. Mais ainda: que as dores, sofrimentos e a morte não são elementos estranhos à vida; são parte dela, e como tal, deve-se aceitar naturalmente.
O problema nunca esteve nas drogas, mas em nós. A droga é só o veneno de uma autocondenação por não compreendermos a existência. O grande espetáculo que é a vida.