A mãe do médico Andrade Lopes Santana, 32 anos, que foi encontrado morto dentro do Rio Jacuípe, em São Gonçalo dos Campos, a cerca de 115 km de Salvador, participou do cortejo antes do sepultamento da vítima, na cidade de Araci, onde ele morava e trabalhava na Bahia, neste sábado (29).
Dormitília Lopes falou sobre o momento em que encontrou o suspeito do crime, que foi o responsável por registrar o desparecimento de Andrade na delegacia de Feira de Santana. Geraldo Freitas foi preso na sexta-feira (28), horas após o corpo de Andrade ser encontrado.
A mãe da vítima disse não ter ódio de Geraldo e afirma que o perdoou pelo crime, mas que espera que ele seja condenado pela morte do médico.
“Eu quero que a sociedade dê uma olhada no assassino, para ele ir preso. Ele não pode ficar solto. Eu perdoei ele. E às vezes as pessoas dizem: ‘Você perdoou, mas quer que ele vá preso’. Eu quero que ele vá preso, não que ele morra. Ele tem que viver para ver a dor de uma mãe. Ele tem que sentir por muito tempo a dor que eu estou sentindo”.
“Ele me abraçou. Me abraçou e disse que estava emocionado junto comigo. Mesmo assim eu não sinto ódio dele. Deus botou um paredão entre o ódio e eu. Eu estou tranquila sobre isso, porque sei que Deus vai fazer a parte dele”, disse Dormitília.
Ela também lembrou momentos que passou com o filho, que nasceu no Acre, e falou sobre o cuidado que ele tinha com os pacientes de Araci.
“Uma vez ele me deu um abraço e disse: ‘Mãe, às vezes eu nem curo com o remédio, é com o carinho’. Ele dava abraço, e como ele era altão, colocava debaixo do braço e abraçava. Era aquele amor que ele tinha de cuidar, que as pessoas vivendo nesse mundo não têm mais aquele carinho especial, que as pessoas merecem ter uns pelos outros”.
“Ele me dizia: ‘Mãe, a senhora quer ver pessoas necessitadas de cuidados, de olhar, é aqui em Araci’. Por isso que Deus trouxe ele para cá”.
Dormitília disse que está sentindo a dor da falta do filho e da presença dele, mas que está tranquila porque sabe que Andrade construiu um bom legado e ajudou muitas pessoas.
“Eu estou com muita dor no coração, porque eu perdi a presença do meu filho. Diante de que já perdi a presença dele, eu estou feliz porque eu tenho certeza que meu filho está ao lado de Jesus. Ele está melhor do que nós, longe desse mundo perverso, de ego, onde nós vivemos. Onde as pessoas têm inveja, ciúmes, ambição. O meu filho vivia a vida intensamente. Hoje eu estou entendendo porque o meu filho vivia intensamente”.
“Meu filho viveu tudo junto: brincadeira, estudo, família. Ele tentava se dividir em várias pessoas. Meu filho era uma pessoa muito alegre e ele continua alegre. O meu coração está em paz e eu estou sentindo que ele está bem”.
A perícia do Departamento de Polícia Técnica (DPT) constatou que Andrade foi morto com um tiro na nuca. O suspeito ainda prendeu uma âncora, amarrada a uma corda no braço da vítima, para evitar que o corpo emergisse nas águas do rio.
“Meu filho foi morto de joelhos, com um tiro na nuca. Meu filho se ajoelhou e ele teve oportunidade de pedir perdão a Deus, de não ter dedicado mais o tempo dele ao senhor. Ele cuidava do próximo”.
“Hoje eu não entendo o motivo do meu filho ter ido embora. Depois Deus vai me mostrando devagarzinho, a gente vai entendendo”.
Dormitília também falou sobre como as pessoas paravam ela em Araci, para falar sobre os feitos do filho e sobre como ele era querido pela população.
“Eu ia passando e as pessoas gritavam: ‘O seu filho fez isso por mim’. As meninas, as crianças, os senhores. Eu fui muito bem cuidada pelo povo daqui. Hoje eu entendi mais uma coisa: a bíblia fala de honra. O meu filho tinha que vir para Araci, aonde ele teve a honra que merecia. Deus botou ele no meio de um povo que viu o amor que ele tinha no coração, pelas pessoas mais humildes, pelas pessoas necessitadas”. “
O meu filho, se tivesse vivo, ia fazer muita coisa por Araci. Eu tenho certeza que foi Deus quem trouxe ele aqui. Infelizmente, o inimigo se infiltrou no meio da sociedade e tirou a vida do meu filho”.
Cortejo
O corpo de Andrade foi enterrado no Cemitério Paroquial de Araci, após um cortejo de despedida, que foi acompanhado por uma multidão. Os moradores da cidade foram se despedir do médico, que era querido no local.
O carro com o corpo dele saiu da casa onde Andrade morava. O cortejo parou na frente da Câmara de Vereadores para homenagem e depois seguiu para o cemitério, onde a vítima enterrada. O desejo da família era cremar o corpo de médico, mas como ele foi vítima de um crime, deve ser enterrado.
Com informações do G1 Bahia