Não importa se Dilma Rousseff fez 85% da ponte, o Michel Temer 10% e Jair Bolsonaro apenas 5%. O que vale é que a bola quicou na frente do gol e o atual presidente inaugurou a Ponte do Abunã sobre o Rio Madeira.
Não fosse assim, o ditado “papagaio come milho, periquito leva fama”, não teria validade popular. Aliás, os petistas não têm razão nenhuma para ficarem emburrados com o esquecimento, porque o PT levou fama de muito milho que o papagaio comeu.
O mais emblemático é o Bolsa Família, que é o resultado da junção de vários programas sociais gestados nos dois mandatos de FHC e jamais na história deste país se viu qualquer companheiro dar crédito e reconhecer o mérito dos tucanos.
De mais a mais, num país de memória curta as honras e as glórias sempre vão coroar aqueles que fizerem por último.
Dos políticos acreanos, o único que balançou a bandeira da ponte do começo ao fim foi o governador Cameli.
De fato, a ponte tem um simbolismo de integração que deve ser muito comemorado.
O que temos de esperar para ver é se Bolsonaro vai começar em seu governo alguma obra genuinamente dele.
Por enquanto, o “mito” se dedica tão somente a arengas políticas, tanto dentro quanto fora do país.
Obras de infraestrutura e política econômica de incentivo que é bom, por enquanto nada.
Na levada que vai, o próximo presidente, seja o mesmo ou outro qualquer, não terá o argumento ou o prazer de concluir obras iniciadas neste governo que logo será passado.
Voltando pra ponte: nós, acreanos, temos mania de grandeza. Tudo nosso é maior e melhor. Basta dizer que vez por outra enchemos a boca pra dizer que, dos 27 entes federados, somos o único deles que lutou para ser brasileiro.
Ninguém fala dos 2 milhões de libras esterlinas que pagamos para a Bolívia, tampouco da Estrada Madeira-Mamoré, que o país fez em troca da anexação do Acre ao território brasileiro.
Há ainda uma história de um cavalo dado em troca de dois dedos de terra na escala do mapa. A questão não foi resolvida apenas na “bala”. Teve muita grana envolvida na “questão do Acre”.
Óbvio que a ponte é importantíssima sob o ponto de vista do tempo e do risco da travessia, mas esperar redução do valor das mercadorias em razão do frete é ilusão boba. Quem fala em redução de preços sabe que não está falando a verdade.
Há outros fatores mais influentes na composição do preço do frete e que perderam o freio no governo de Bolsonaro –– o valor dos combustíveis e dos pedágios, por exemplo.
O custo da balsa é desprezível em relação ao valor do fretamento. Não esperem também a migração de indústrias para o Acre por causa da ponte.
É mais provável que os primeiros beneficiados sejam as Vilas Extrema e Califórnia, em Rondônia, com a produção de soja, com ou sem ponte.
No Acre, tudo resvala para a nuvem da utopia.
“O Acre é um sertão sem seca e um sul sem geada”.
“O Acre será a Finlândia brasileira”.
“ O Acre será sede da Copa do Mundo”.
“O Acre tem saúde de primeiro mundo”.
“O Acre é o melhor Estado para se viver na Amazônia”.
“A nossa produção de peixe será exportada até para o Peru”.
Só mais duas linhas pra não encher a paciência de vocês com este textão: o Acre precisa mesmo é que os empresários larguem a barra da saia do governo para assumirem os riscos do capitalismo.
A ponte terá muita utilidade caso, antes do Posto Fiscal Tucandeira, os empresários do Acre plantem soja, milho, café, entre outras culturas agrícolas.
Luiz Calixto escreve todas às quartas-feiras no ac24horas.com