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Dois pra lá, dois pra cá

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Em nome da amizade que conservamos ao longo de décadas, vou omitir o nome do amigo.


Antes, todavia, vale ressaltar, é um cidadão profissionalmente competente, probo, coração do tamanho do mundo.

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Tem apenas um desvio: nas raras vezes que toma um porre fica chato, inconveniente a ponto de ser capaz de fazer perua largar o choco.


Quando eu estava em algum boteco e de longe avistava os passos dele na direção, minha primeira e única providência era tratar de pagar a conta e sair de fininho pela culatra.


O álcool ainda altera o comportamento do parceiro, transformando sua carreta de virtudes num bitrem de chatice.


Certa vez, ele foi mais esperto. Chegou de mansinho e sentou-se à mesa já se autoconvidando para “tomar umas”.


Com a experiência de outras ocasiões, tentei me livrar alegando um compromisso inadiável, mas, para não passar em branco, deixaria meia dúzia de geladas pagas no bar.


Ele reagiu imediatamente, com a voz acima do tom habitual:


–– Negativo. Eu não quero e nem preciso do seu dinheiro pra beber. Eu quero é bater um “lero” contigo. Um lero, entendeu Calixto?


Não teve jeito. Mais uma vez tive que aguentar a cachaça do amigo por algumas horas. Perda de tempo relembrá-lo no dia seguinte de suas presepadas.


Então é isso. Preservando o anonimato da longa amizade, estou valendo-me dela para comparar com essa CPI proposta pela oposição ao governo de Gladson Cameli, com o apoio de três deputados do partido do sócio majoritário na administração, o MDB.


Inicialmente, vale ressaltar que recentemente a executiva do MDB, em troca de vários bons e bem remunerados cargos na administração, deliberou pelo apoio ao governo.


A CPI seria a oportunidade do partido demonstrar sua confiança no governo, mas o que se viu foi o MDB sendo verdadeiramente MDB. Ou seja: se negando a entregar a mercadoria que vendera sob o silêncio sepulcral de sua executiva.


Óbvio que a intenção da CPI não é investigar nada. Aliás, nunca nenhuma CPI instaurada na Assembleia apurou coisa alguma.


O objeto dela é idêntico ao do meu amigo: bater um lero para encher o saco e para tentar impingir algum desgaste político ao governador Gladson.

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A intenção é tocar o bumbo para fazer barulho e nada mais.


Ainda que o Poder Legislativo disponha de bons técnicos, a especialidade deles é restrita apenas às demandas do processo legislativo.


Além do mais, as investigações das supostas irregularidades apontadas já estão na alçada de uma Delegacia de Combate à Corrupção, criada e apoiada por Gladson Cameli.


Dê um passo à frente quem for capaz de relacionar qualquer resultado prático decorrente da atuação de uma CPI no Acre.


O que restou da CPI da Energisa? Da CPI dos Marajás?


Aliás, registro um fato vergonhoso: durante a famigerada CPI da Pedofilia quase conseguiram destruir a vida de um conhecido poeta acreano, cuja retratação da Assembleia foi obra de uma intervenção minha.


No entanto, a oposição não está errada. O papel de defender o governo não é dela.


Sem contar que os deputados que subscreveram o requerimento estão apenas embarcando na onda do sentimento de vingança que tomou conta do coração do vice governador, depois que este perdeu as verdadeiras capitanias que não soube cultivar.


Não há registro na histórica política do Acre de um vice que tenha sido tão privilegiado, prestigiado e aquinhoado com espaços na administração pública como o vice de Gladson Cameli.


Não é qualquer um que perderia os quinhões sem espernear muito. E é exatamente isso que o vice está fazendo.


Já faz algum tempo que o governador apanha sozinho. Seus aliados ficam na espreita, sem manifestar qualquer opinião, esperando mais nomeações.


Essa CPI pode ser o divisor das águas para o governador saber, de fato, quem é quem no jogo do bicho.


O que sobra em carisma em Gladson falta-lhe em habilidade para cobrar a fatura de seus aliados.


A oposição de hoje, que outrora nunca quis nem permitiu ser investigada, agora conta com a parceria política de antigos desafetos.


Major Rocha e o deputado Daniel Zen, do PT, estão tão afinados que parecem combinar os passos.


Em tempos de pandemia, até se faz live para ensaios virtuais ao som do clássico bolero de João Bosco e Aldir Blanc:


“Sentindo frio em minha alma


Te convidei pra dançar


A tua voz me acalmava/


São dois pra lá, dois pra cá”



Luiz Calixto escreve todas às quartas-feiras no ac24horas.com 


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