“Quem parte e reparte e não fica com a maior parte ou é bobo ou não entende da arte”, diz um antigo dito popular.
Nessa disputa política nojenta, no entanto inevitável, na divisão do bolo sobre paternidade, João Doria, governador de São Paulo e ex-aliado do presidente na chapa “Bolsadória”, levou a maior parte. É justíssimo que leve, junto com outros que sempre estiveram puxando a corda a favor da vacina Coronavac, entre os quais o governador Gladson Cameli.
Ainda que o governador paulista não seja o modelo de político que atraia minha simpatia, é inegável que sem o apoio dele e a contenda política com o presidente, o renomado Instituto Butantan não teria obtido o registro da CoronaVac, desenvolvida em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
Toda espécie de entulho político e burocrático foi colocado no caminho para atrapalhar a aprovação do imunizante pela Anvisa.
Óbvio que o troféu político de Doria seria a fotografia com a primeira pessoa vacinada.
Na disputa pelas luzes, Bolsonaro se valeu do SUS para, digamos, confiscar as vacinas do Butantan para o Programa Nacional de Imunização (PNI).
Os arquivos da imprensa nacional e internacional e os brasileiros de boa memória estão lotados até a tampa de declarações negacionistas de Bolsonaro e de seus seguidores.
Da boca do presidente o povo brasileiro escutou que a vacina poderia torná-lo vítima de alterações genéticas, chegando ao limite de sugerir que poderia acontecer a metamorfose em jacaré.
Somente na cabeça dos fanáticos bolsonarista o mentor deles tem méritos nesse período venturoso que se abriu com o início da vacinação no Brasil.
Bolsonaro provou mais uma vez que a taxa de eficácia do governo dele no enfrentamento dessa terrível pandemia é vergonhosa e criminosamente zero.
O governador Gladson Cameli entrará para a história porque acreditou na vacina, na ciência, não desdenhou da gravidade da Covid e, com destemor, sempre deu suporte ao Instituto Butantan.
Nenhum outro político do Acre entregou-se de corpo e alma quanto ele na defesa da vacina para a população.
O “mim dê que eu tomo” é seguramente a melhor peça publicitária de adesão à vacina e de combate ao movimento negacionista e antivacina. Registre-se: um slogan saído da boca do próprio governador como manifestação de sua extrema sinceridade ante a politização do assunto.
No lugar de aceitar a derrota para a dor ser menor, Bolsonaro e seu ministro da Saúde partiram para o tudo ou nada. Da noite para o dia passaram a negar tudo aquilo que haviam falado antes, por exemplo, que tratamento preventivo com a cloroquina e ivermectina eram receitas do governo federal.
Aliás, não se pode olvidar que esse recuo de posições de Bolsonaro com relação à vacina chinesa, com chip comunista, o deixaram muito parecido com Lula. Se Lula nunca sabia de nada, Bolsonaro sempre nega o que dissera quando se encontra encurralado.
Ainda que seja o primeiro passo, estamos certos que nada mais atrapalhará o enfrentamento com a pandemia.
Finalizo, com outro dito popular: Bolsonaro, aceita que que dói menos.
Luiz Calixto escreve todas às quartas-feiras no ac24horas.