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Oposição e base aliada alertam Gladson para montagem de novo time após espatifado em 2020

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Por Edmilson Ferreira
Marcos Venicios


O governo de Gladson Cameli, em 2020, seguiu o ritual do primeiro ano, com a diferença de que tudo foi elevado à décima potência, especialmente nas relações políticas. O fato marcante desse ano é o rompimento tácito – quase expresso – com o vice-governador, Major Rocha (PSL), e sua irmã, a deputada federal Mara Rocha (PSDB) bem como o esfacelamento do grupo do senador Marcio Bittar (MDB), então investido no Departamento Estadual de Água e Saneamento (Depasa). Apesar disso, o PSDB, partido de Mara segue governista com seus deputados votando favoráveis a tudo que o Palácio Rio Branco envia à Assembleia Legislativa. Bittar não demonstra ter mudado de opinião também.

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Situações como essa fazem da articulação política do governo um Saci-Pererê de várias pernas – ou um Mapinguari cheiroso, esguio e com dois olhos no rosto.


Na política de Cameli, a realidade é distópica e às vezes parece que é, não é, e acaba sendo sem ser.


Na entrevista ao Bar do Vaz, Gladson usa uma metáfora (a mesma de Rocha e Neném Almeida, aliado) para orientar o grupo palaciano nos próximos dois anos: “quero um time”, diz ele, que não quer trocar de secretário ou promover mudanças profundas no 1º escalão daqui ao fim do mandato. Entretanto, não é esse o histórico do governo.


Antes de relembrar que estabilidade política não tem muito a ver com o governo, é interessante recordar que o vice Major Rocha rebateu Gladson postando uma velha foto do “time da mudança” – ele, Petecão, Marcio Bittar e Gladson. “Quer dizer que apontar possíveis indícios de corrupção é mudar o foco e atrapalhar o governo? Acredito que não, todas essas situações foram formalizadas e comunicadas aos gestores e ao estafe do governo, não faço nada escondido”, respondeu o vice-governador que anda extremamente chateado.


Segue-se a história da estabilidade 


O mandato de Gladson começou em 2019 com uma reforma administrativa que prometia economizar R$ 90 milhões ao ano com a eliminação sumária de ao menos 1,3 mil cargos de confiança. Trouxe “militares” para comandar a saúde, provocando tantos problemas quanto menos solução ao drama do SUS acreano, e de beicinho, com sua base, numa canetada só, jogou 300 comissionados no meio da rua. Depois voltou atrás.


Neste fim de ano, a chamada “3ª Reforma” foi ao parlamento “cortando” 1.350 CECs que seriam (ainda?) herança do governo do PT. Ou seja: com dois anos e uma série de mini e grandes reformas, a máquina segue cheia de gordura porque toucinhos não foram efetivamente eliminados, apenas rebatizados.


Para alívio dos deputados da base, a nova nomenclatura de cargos rendeu 120 espacinho extras num espaço de final de semana, o que apaziguou o ânimo do parlamento, mas deixou um ar de acirramento futuro no ar.


Essa última reforma foi e voltou várias vezes do parlamento à Casa Civil, demandou demorados acordos  mas acabou atendendo a uma parcela significativa dos  interessados e, mesmo a oposição votou favorável – não sem antes dizer que os aliados foram desnudados politicamente  em praça pública e ficaram com o ônus de sustentar ações que podem não surtir o efeito desejado.


Há uma dúvida: depois da reforma e das eleições ao apoiar uma candidatura ruim, 2020 soou as trombetas de seu apocalipse?


Talvez, pelo entendimento do deputado Edvaldo Magalhães, “começa a contagem regressiva a partir do primeiro de janeiro e o governador está politicamente isolado. Deveria acender aquela luz vermelha”, alerta o comunista.


Mas nem tudo são espinhos. Se politicamente é muito ruim, o governador é em certa medida o queridinho nas ruas e nas redes sociais, sofrendo cobranças, mas muito mais afago. Seu jeito simples de se comunicar faz sucesso. Na véspera do Natal, Gladson, cedo da manhã, perguntou pelo facebook:


“O QSJ caiu?”, numa referência à bolada que o governo despeja na economia com o pagamento de dezembro e o 13º.  Na radiofrequência, QSJ é dinheiro – e esse significado ele aprendeu nos anos de convivência com os militares. O pessoal da web gostou e o post bombou.


E talvez ele não esteja tão isolado assim, já que suas ações na pandemia parecem ter boa aprovação popular. “Salvaram vidas”, reconhecem oposicionistas. Neste tempo, muitas coisas deram certo:  há sobra de caixa apesar do orçamento projetar déficit de quase R$240 milhões em 2021, e a vacina contra Covid-19 tem rubrica e dinheiro garantidos caso a União resolva bater fofo na questão.

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Uma parte do Acre cobra de Gladson dizendo que ele não tem governabilidade, como uma reforma no Código Florestal, por exemplo. Dizem que é necessário cravar uma estaca de pau-ferro e um punhal de prata no coração da  Florestania, que já está no baú da  história mas não sai do  discurso de muitos políticos governistas.


De seu lado, o governo opera com o meio ambiente ao seu favor de olho nos milhões do mercado de carbono, uma área  que o Estado demonstra importante maturidade e atrai apoio internacional. Segundo o jornal Valor Econômico, a TUV Rheinland, uma das principais fornecedoras de produtos de testes do mundo, integrante do Pacto Global da ONU para promover a sustentabilidade e combater a corrupção, informou que está apoiando a fase II do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Acre (PSDA), iniciada em setembro e financiada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A empresa é responsável pela fiscalização, inspeção, coordenação e andamento do projeto.


Nesse contexto, o desmate cresceu este ano, mas, mesmo com toda desgraça, 2020 terminará melhor que o ano passado – e o cultivo de soja, apesar de distribuir quase nada de riqueza e ampliar a concentração fundiária, avança a passos relativamente largos, ressuscitando a possibilidade do agronegócio se tornar realidade no Acre. Só falta combinar com os políticos que não acreditam em nada ou muito pouco nisso.


A miséria cresce e assusta, um fenômeno semelhante ao do desemprego.  Em Rio Branco são quase 300 moradores de rua e em todo o Estado mais da metade dos lares dependem do dinheiro do Auxílio Emergencial do governo federal para se manter –e seus moradores sabem que em janeiro podem não ter mais nada.


Essa é apenas a ponta do iceberg, mas Gladson tenta lidar com isso anunciando que logo de cara terá R$ 550 milhões em obras que prometem abrir milhares de vagas por todo o Estado, inclusive nos grotões.


Do seu lado, todos pedem por um time. O time da mudança não existe mais. Perdeu-se, parodiando Ferreira Goulart, na profusão das coisas acontecidas –ou espatifou-se nestas eleições, como diz Edvaldo Magalhães. Muito por conta da pandemia, a mudança não veio em 2020. Sem time e com a mudança adiada, o jogo é apenas uma fotografia de velha lembrança em um post escabreado do Major Rocha.


O que pensam os políticos?


O ac24horas pediu a três deputados pertencentes a base aliada, independente e um da oposição para avaliarem o governo de Gladson Cameli em 2020. Gentilmente, Roberto Duarte (independente), Edvaldo Magalhães (oposição) e o líder do governo, Gerlen Diniz, enviaram suas opiniões.



Roberto Duarte (MDB) – Eu tenho um mandato independente e meus posicionamentos e votos na Aleac são sempre buscando o melhor para a população do Acre.


Até o momento a atual gestão não apresentou um modelo de desenvolvimento sócio econômico para o estado do Acre, nesses dois primeiros anos de mandato as grandes discussões foram entorno de aumentar e reduzir cargos de comissão.


Este governo se elegeu com o discurso de mudança de desenvolvimento socioeconômico da famigerada Florestania para o agronegócio, mas até o momento nada foi feito na prática para buscar tirar a população da extrema pobreza e da pobreza, que é o estado que a grande maioria da nossa população se encontra. Precisamos urgentemente implementar medidas para um modelo sólido de desenvolvimento para o nosso Acre, melhorar principalmente a questão de saúde, segurança e geração de emprego de forma urgente/urgentíssima. Precisamos mudar e atualizar urgentemente a legislação ambiental e fiscal, se queremos mesmo o desenvolvimento através do agronegócio.



Edvaldo Magalhães (PCdoB)  – Gladson chega ao final do segundo ano com a base política que o elegeu espatifada, magoada e sem disposição ao reencontro. Com uma equipe majoritariamente vestida do “espírito de jogador”: estão sempre disputando e podem mudar de lado a qualquer tempo, pois o passe está ali, à disposição.


Não há “espírito de torcedor” que mesmo em dificuldades, não muda de time, torce e luta. Por isso a baixa capacidade de execução orçamentária. Tecnicamente é frágil e lenta.


Mesmo nos processos de contratação com dispensa de licitação, cuja eficácia deveria ser o Norte, erra. O exemplo mais expressivo é o INTO: acertou na construção do hospital de campanha com leitos definitivos e em tempo recorde. Errou flagrantemente na contratação da empresa responsável pela gestão. Não tem transparência nos procedimentos, é cara, e sequer tem profissionais da área de infectologia presentes no acompanhamento dos pacientes acometidos pela maior doença infecciosa do século. Uma contradição gritante.


O grande acerto do governo foi não se deixar capturar pelo viés negacionista. Seu comitê de gerenciamento da crise na pandemia se orientou pela ciência. Um ponto a ser destacado, pois as medidas adotadas salvaram vidas. Adentra o terceiro ano com o desafio de recompor politicamente o governo (isso tem preço) e dar rumo à gestão. O agronegócio, sua principal bandeira de desenvolvimento continua dormitando num pen-drive esquecido pelo ex-secretário de produção. O investimento público, motor da geração rápida de emprego, permanece nas contas do governo sem que as obras saiam dos pré-projetos. Começa a contagem regressiva a partir do primeiro de janeiro e o governador está politicamente isolado. Deveria acender aquela luz vermelha.



Gerlen Diniz (PP) – Já o líder do governo, deputado Gerlen Diniz (PP), fez uma análise mais otimista da gestão, mas também enfatizou uma autocrítica. Na análise do defensor de Cameli na Assembleia Legislativa,  o governo Gladson Cameli enfrentou muitas dificuldades.  Para ele, a reforma previdenciária, foi extremamente desgastante, mas necessária.


“Gladson assumiu o governo com uma onda de violência tomando conta do Acre  e  com o apoio dos órgãos de segurança pública e da sociedade conseguiu vencer essa onda de violência. Além do mais, nós saímos de um governo que não estava pagando salários. O governador não baixou a cabeça, não fugiu à responsabilidade da pandemia e encarou de frente”, explica Diniz, com orgulho de medidas sociais do governo.


“Muitos podem ter esquecido, mas é bom lembrar que o governador também aprovou a concessão de um auxílio temporário emergencial em saúde que foi dado para todos os profissionais da área de saúde e segurança pública. Foi também majorada a insalubridade dos profissionais do setor da saúde. Então, são muitas ações feitas pelo governo para combater a pandemia, para atender os servidores que trabalham nessas áreas”. Por fim, Gerlen Diniz usa o jargão que Gladson sempre propaga: “já deu Certo”.


 


 


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