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Além de enfrentar a pandemia do novo coronavírus, os habitantes da capital do Acre têm de driblar os efeitos da crise com a alta de preços dos alimentos. Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os preços já cumularam, até setembro, uma alta de 2,15%, superando em 0,81 ponto percentual a inflação acumulada do Brasil que ficou em 1,34%. A população-objetivo do IPCA é referente a famílias residentes nas áreas urbanas das regiões de abrangência da pesquisa, com rendimentos de 1 (um) a 40 (quarenta) salários mínimos, qualquer que seja a fonte de rendimentos.
Rio Branco aparece com a quarta maior alta de todas as regiões metropolitanas e cidades pesquisadas pelo IBGE. A inflação de Rio Branco é superada somente por Campo Grande (3,41%), e as Regiões metropolitanas de Recife (2,78%) e de Fortaleza (2,55%). A previsão é de que o índice do mês de outubro seja registrado uma maior variação mensal superior aos 1,19%, verificada em setembro.
O grupo alimentos e bebidas foi o maior responsável pela alta nos preços em Rio Branco. No acumulado do ano o grupo já alcançou um aumento de 9,58%. A aceleração no grupo ocorreu especialmente em função dos alimentos para consumo no domicílio, cujos preços já subiram 11,22% nos nove primeiros meses do ano. Os maiores responsáveis pelos aumentos foram: limão 58,4%, óleo de soja 53,9%, cebola 38,9%, arroz 33,2%, batata-inglesa 28,5%, feijão carioca 20,7% e a carne com um aumento médio de 21,4% – maiores aumentos da carne foram: músculo (26.5%), carne de porco (22,5%), linguiça (22,2%), patinho (21,1%), peito (21,1%) e lagarto (20,2%). No lado das quedas, os destaques foram abacate (-34,80%), mamão (-20,31%), e banana comprida (-9,94%).
É preciso diferenciar um aumento de preços com inflação. A inflação ocorre quando há um aumento generalizado. Estamos destacando uma alta de preços em alguns alimentos que são fundamentais na cesta básica da população, como o óleo de soja, o feijão, o arroz e a carne. Essas altas estão relacionadas ao momento atual do país. Por exemplo, o óleo e o arroz têm aumentado em função do mercado internacional, porque o produtor nacional exporta mais, até por conta da subida do dólar. A carne está em alta, aquecidos pela demanda internacional, principalmente pela China que foi muito impactada pela pandemia.
Outra explicação para o aumento da carne bovina no mercado interno diz respeito à queda na oferta interna. Conforme matéria publicada pelo Ac24horas no dia 03/11, houve uma queda de 15% no abate de bovinos entre janeiro e outubro de 2020. O dado foi repassado pelo Sindicato das Indústrias de Frigoríficos e Matadouros do Estado do Acre – Sindicarnes/AC (https://www.ac24horas.com/2020/11/03/com-queda-de-15-este-ano-abate-de-bovinos-no-acre-cai-pelo-5o-ano-consecutivo/). A matéria informa que o setor de indústrias frigoríficas vem atravessando a maior crise dos últimos anos, com redução de 50% no abate por falta de matéria-prima, que são o boi, a vaca e a novilha. A saída de gado em pé para outros estados tem gerado sérios prejuízos ao setor.
No quadro nacional, temos uma alta expressiva do dólar. Com o dólar alto, o produtor rural prefere exportar a sua produção ao invés de oferecer o produto no mercado nacional. Com isso, vemos acontecer uma regra básica da economia, a lei da oferta e da procura. Pouca oferta de produtos no mercado nacional, ocasiona a alta dos preços. As previsões do Boletim Focus para 2020 da Inflação no Brasil é de 2,99%. Rio Branco, até setembro, já acumula 2,15%. Como o Dólar foi estimado em fechar o ano ainda em alta, estimado em R$ 5,40, portanto vamos ficar atentos aos próximos indicadores.
Quem ganha menos é o mais impactado pela alta dos alimentos. A alta desses preços afeta diretamente o poder de compra do pobre que, com os preços em alta, acabam comprando menos itens para o consumo, reduzindo a sua já combalida dieta alimentar, comprometendo a manutenção da sua saúde, principalmente de crianças e idosos. Conforme dados do Dieese, quem ganha um salário mínimo comprometeu, em setembro, mais da metade (51,22%) da renda líquida para comprar os alimentos básicos, ante 48,85% em agosto.
A situação é muito grave. O aumento do preço do arroz é muito grave, pois ele é a base da alimentação brasileira e, junto com o feijão, formam a dupla de uma dieta muito nutritiva. Quando você tira o arroz fica complicado. A população está sendo cada vez mais afetada pela fome, conforme o IBGE, 36,7% da população brasileira sofria com algum tipo de insegurança alimentar em 2018. O aumento dos preços dos alimentos pode agravar essa situação.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas.