José Alves da Veiga, o seu Zé Lulu, 93 anos completados no último dia 4 de agosto, era uma dos moradores mais antigos e tradicionais de Xapuri, cidade onde chegou aos 10 anos, em 1937, quando seus pais se mudaram do município de Boca do Acre, no Amazonas, onde ele nasceu, para o Acre.
Zé Lulu foi um dos pioneiros do bairro Braga Sobrinho, comunidade tradicional conhecida na cidade como “Bairro da Bolívia”. Devoto de São Sebastião, era dos participantes mais fervorosos da maior festa religiosa de Xapuri, da qual começou a participar aos 15 anos de idade – dizia ter recebido muitas graças do santo padroeiro.
O idoso morreu na noite desta quinta-feira, 6, e foi sepultado cerca de uma hora depois, no cemitério São José, com a presença de poucos familiares. Ele tinha testado positivo para o novo coronavírus depois de apresentar agravamento de outros problemas de saúde que enfrentava.
O ac24horas conversou com Maria do Socorro Rocha da Veiga, a Boneca, uma das 6 mulheres entre os 10 filhos que ele teve do casamento com dona Maria Rocha – ele deixou também 30 netos, 25 bisnetos e 4 tetranetos. A filha disse que o pai estava muito debilitado pelos vários problemas de saúde e que a covid-19 foi apenas mais um fator a contribuir com a sua morte.
“Ele havia testado positivo para o coronavírus, mas não consideramos que a covid-19 tenha sido a causa determinante de sua morte, pois de acordo com os médicos ele apresentava problemas muito graves de saúde e seu estado era de muita fragilidade nos últimos dias”, ponderou.
Foram muitas as mensagens de homenagens e condolências postadas nas redes sociais na noite desta quinta-feira, 6. O advogado José Everaldo Pereira, amigo e vizinho de Zé Lulu, expressou por meio de sua página no Facebook, a importância que o pioneiro da comunidade teve para a cidade.
“Recebemos com muita tristeza a notícia do falecimento do nosso grande Zé Lulu, um dos fundadores e timoneiros da Bairro da Bolívia. Avô carinhoso, esposo dedicado, pai zeloso, amigo leal e cidadão da mais alta linhagem. Deixa um legado de honradez e civilidade visto em poucos”, comentou.
Sepultamento noturno e falta de estrutura
O sepultamento de José Alves da Veiga foi realizado poucas horas depois do falecimento, cumprindo as normas do Ministério da Saúde. No entanto, a família relatou problemas durante o enterro, o primeiro realizado no período da noite durante a pandemia, entre os quais a falta de orientação por parte dos setores de Vigilância Sanitária e Epidemiológica.
Renan, um dos netos de Zé Lulu, relatou que na chegada do corpo ao cemitério não havia coveiros aguardando o cortejo. Segundo ele, momento depois, um dos coveiros chegou sem os paramentos adequados, usando apenas luvas. Com apenas o agente funerário devidamente trajado, o neto e seu pai tiveram que ajudar no sepultamento.
Procurado, o subsecretário de Saúde de Xapuri, Daniel Lima, respondeu estar surpreso com a situação. Segundo ele, é obrigação da estrutura de saúde do município dar todo o suporte ao sepultamento após o hospital fazer o comunicado do falecimento e da causa mortis.
Depois de se informar sobre os acontecimentos relatados pela família, ele reconheceu que houve uma falha conjunta que começou com a falta de informação pela unidade hospitalar e terminou pela falta de orientação da Vigilância Epidemiológica junto aos familiares no momento do sepultamento. “Admitimos que foi uma falha que teremos que corrigir”, afirmou.