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Em 10 anos, Acre sai das mortes em brigas de bar para a crueldade das organizações criminosas

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Leônidas Badaró

Os promotores de justiça do Ministério Público do Acre, Teotônio Rodrigues e Ildon Maximiliano, realizaram uma live nesta quinta-feira, 14, sobre dois assuntos que, infelizmente, estão na pauta do dia do acreano alguns anos, que são o crime organizado e o feminicídio.


Os dois promotores lembraram que são do mesmo concurso e que entraram no Ministério Público na mesma época, em 2009. Vivenciaram e vivenciam, portanto, as transformações que o Acre tem passado quando se fala em crime organizado.


“Eu lembro que quando entrei no MP a grande parte dos homicídios acontecia em bares, eram crimes passionais. Me recordo que era comum perguntar o que o réu tinha bebido e ele responder que era leite de tigre. Hoje, vivemos um novo contexto. A maioria dos crimes é praticado pelo crime organizado, onde a marca é a crueldade. São crimes com decapitação, carbonização dos corpos, onde a cabeça da vítima é o triunfo. É a nossa triste realidade do Tribunal do Júri”, diz Teotônio.


O promotor Ildon Maximiliano fala sobre a mudança no tipo de homicídio e lembra que é resultado da organização das facções. “Nó saímos da era do júri da faca, que era resultado de uma briga em uma mesa de sinuca para a indústria da morte protagonizada pelas organizações criminosas. Essa crueldade é o ativo das facções. É essa imagem que a eles querem levar para a sociedade. É como se fosse o ativo da empresa. Enquanto o ativo da Doriana é uma família feliz comendo em uma mesa, a desse povo é decepar a cabeça do outro”, explica.


Os promotores lembram que a fragmentação das facções no Acre contribuem para essa violência e utilizam como paralelos as ações praticadas pelo grupo extremista Estado Islâmico e os cartéis mexicanos.


Uma nova realidade da violência no Acre, que tem acontecido com frequência e é divulgado amplamente em grupos de celulares são os castigos corporais. Ildon afirma que é a prática é uma estratégia para mostrar opressão à sociedade e aos seus membros. “Tem a motivação externo que para oprimir, como interno que funciona como uma afirmação às lideranças. O que considero mais grave é a possibilidade da criação de confiança desses criminosos dentro da comunidade e que mesmo pessoas que não são da organização procuram ajuda do tribunal do crime para resolver seus conflitos”.



O crescimento e a ramificação das facções criminosas provocam dificuldade em produção de provas por parte do MP e provocaram, inclusive uma mudança no público que acompanha os julgamentos. “São pessoas que moram no mesmo bairro, se conhecem desde muito tempo. O terror e crueldade amedrontam e acaba que não temos testemunhas. Tanto que alguns criminosos nos confrontam dizendo que não que não foram reconhecidos. O que nos resta é o depoimento dos policiais. O público mudou. Os familiares das vítimas não vão mais no julgamento. Quem vai ao plenário do júri são familiares do réu e membros da facção para intimidar testemunhas e o conselho de sentença.”, explicita Teotônio.


Foi ainda abordado pelos promotores as “ações sociais” praticadas pelas organizações criminosas nos bairros mais carentes. “A generosidade, praticada pela doação de cestas básicas, não está no DNA das facções. Distribuir comida aos mais necessitados sempre fo uma estratégia usada pelo crime. Mas qual o preço disso? tem um preço e é caro. Muita vezes é o ingresso na própria facção”, afirma Rodrigues.


Apesar do tema crime organizado ter dominado praticamente toda a live, os promotores ainda falaram sobre o aumento do feminicídio no Acre.


O feminicídio, que o conceito de matar uma mulher apenas por ela ser mulher, cresceu de forma assustadora este ano. A taxa acreana de 3,4 feminicídios por 100 mil mulheres é a maior do país. A média nacional é 200% menor, sendo de 1,1 feminicídios por cada 100 mulheres. Nos primeiros quatro meses deste ano, o aumento nos casos foi de 100% no Acre.


Os promotores destacam que os casos são muito parecidos e sempre acontecem quando a mulher resolve deixar a relação que tem um ciclo que se inicia em uma discussão, o ato de violência e o pedido de perdão.


Teotônio Rodrigues afirma que tem a impressão de uma infeliz tolerância ao assassinato de mulheres no Acre. “Todo mundo fica estarrecido e acreano que o motivo é insuficiente e repugnante. Entretanto, todo julgamento é muito difícil. O convencimento dos jurados. A impressão que tenho é que há uma tolerância social ao assassinato de mulheres. A vítima é julgada duas vezes, já que a estratégia é desqualificar a vítima achincalhando sua moral e sua intimidade. Não basta ser matar, tem que humilhar”, diz.


Assista a live na integra:

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