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O rei que não sabia de nada

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Investigação da Operação Mitocôndrias pode revelar arranjos administrativos-financeiros para justificar repasses obrigatórios do Estado para educação. Será que o secretário Mauro Sérgio não sabia de nada? Que quadrilha foi montada dentro da SEE segundo declarações do deputado Manoel Morais?


O rei que não sabia de nada é um dos três livros que Ruth Rocha escreveu sobre reis que não sabiam o tamanho da encrenca em que estava se metendo. Dizem que esse é um dos contos de cabeceira do secretário de educação, professor Mauro Sérgio, após vir à baila o escândalo de suposto desvio de merenda escolar que desencadeou a operação Mitocôndrias em Rio Branco, Sena Madureira, Tarauacá, Xapuri e Cruzeiro do Sul.

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De acordo com o que o ac24horas apurou, os pedidos de prisão, de busca e apreensão pode ser apenas a ponta do iceberg de um processo que envolve além de desvio de alimentos, arranjos administrativos-financeiros para comprovar que o estado repassou os 25% obrigatórios para a educação em 2019.


“A primeira ameaça de queda do professor Mauro Sérgio foi no final do ano passado, quando se detectou que o estado não comprovaria os repasses obrigatórios de 25%, estando sujeito até ao bloqueio dos recursos federais. Foi uma grande correria”, disse à reportagem uma fonte do Palácio Rio Branco.


Daí a segurança dos agentes envolvidos na falsificação de notas, emissão de notas frias, que não temiam sequer a investigação por parte da Controladoria Geral do Estado (CGE), como se tudo fosse um grande acordo. Um território perfeito para outros delitos.


O enredo tem tudo a ver com o que foi escrito no livro “o rei não sabia de nada”, envolve temas para lá de cabeludos e importantes como poder e democracia.


Empurrado para debaixo do tapete, a questão dos repasses dos 25% só vem à baila após a Operação Mitocôndrias com a exoneração do subsecretário de educação Marcio Mourão. Ele pode ser o “cérebro” da operação que visava salvar o bloqueio das contas do estado.


Ai entra a história do poder. Embora tenha conseguido levar duas pessoas de extrema confiança para sua gestão: os professores Marcio Mourão (subsecretário) e Denise Santos (diretora de ensino), o secretário de educação Mauro Sérgio não conseguiu nomear o diretor administrativo-financeiro.


Até outubro de 2019, a Casa Civil enviou para este cargo estratégico Kelly Lacerda, que era indicação do chamado Núcleo Duro do governo. Para gerenciar um orçamento milionário, a exigência era de alguém com suposto aval do conselheiro Antônio Malheiros.


Kelly ficou no cargo por oito meses. Para o seu lugar, em outubro de 2019, por indicação do deputado estadual José Bestene, foi nomeado Erisson Wisner Calixto da Mota, o China, que era convidado a se retirar da Secretaria de Saúde do Estado, pela então secretária Mônica Feres, ligada ao grupo de Ricardo França, chefe do escritório do Acre em Brasília.


China também teria rápida passagem pelo cargo de diretor-administrativo da SEE. Até hoje, nem Mauro Sérgio e nem assessores do palácio Rio Branco [sede do governo do Acre] explicaram as exonerações de Kelly Lacerda e o China. O último foi remanejado para a secretaria de infraestrutura.


Das poucas vezes que falou após a Operação Mitocôndrias – em entrevista para a estatal de comunicação – Mauro Sérgio colocou ainda mais mistério na investigação.

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Segundo o especialista em educação, dia 18 de março de 2019 foi feito o primeiro pedido de auditoria na SEE para o Tribunal de Contas do Estado (TCE). No dia 6 de junho do mesmo ano, a SEE teria enviado um relatório situacional a Procuradoria-Chefe do Ministério Público Estadual, Dra. Katia Rejane.


Vendo o tamanho da encrenca que se meteu, atos contínuos passam a ser tomados pelo secretário Mauro Sérgio, dois deles, datados de 8 e 17 de janeiro de 2020, com solicitações de novas auditorias. A última, de 17 de janeiro focada nos processos de merenda escolar.


Ainda não se sabe porque praticamente um ano depois da primeira investigação [dia 6 de fevereiro deste ano], é que a SEE pede ajuda da Controladoria Geral do Estado (CGE) e da Polícia Civil para apurar “inconformidades nos processos de aquisição de merenda escolar a partir do ano letivo de 2019” diz a Agência de Notícias do Acre.


A informação do pedido de inconformidades nos processos de aquisição de merenda escolar de 2019 contradiz a própria estratégia de mídia utilizada pelo governo. Afinal, se o suposto esquema de desvio de alimentos vinha de gestões passadas, onde consta o pedido de investigação da gestão anterior?


Manoel Morais disse que por trás da Operação Mitocôndrias tem uma quadrilha

O deputado Manoel Morais, pai de um dos principais empresários envolvidos no suposto esquema, Cristian Sales, disse que por trás da operação desencadeada pela Polícia Civil tem uma quadrilha.


O parlamentar não citou nomes e nem se apresentou espontaneamente como delator. A Polícia Civil não esclareceu ainda se ouviu Manoel Morais. Teria o parlamentar denunciado as estratégias relacionadas aos 25% de repasses da educação de 2019?



O pacote de aditivos, as diversas caronas em atas licitatórias, podem ser arranjos para cobrir rombos relacionados aos percentuais obrigatórios de transferência do estado para a educação.


Neste caso, se comprovado, os empresários teriam agido em conluio com gestores da SEE. Quem estaria envolvido? Será que o secretário Mauro Sérgio não sabia mesmo de nada?


Parece que o quebra-cabeça que precisa ser montado pela Polícia Judiciária e o Ministério Público ainda tem muitas peças desmontadas.


O que consta no relatório enviado pela SEE à procuradora Kátia Rejane? Quais providências foram tomadas pelo Ministério Público com base nas informações recebidas? Onde estão as investigações dos gestores anteriores? O que o TCE tem a dizer sobre os fatos?


Na versão do livro “o rei que não sabia de nada”, depois de ver sua gestão desmantelada com muitas maldades acontecendo e o povo malvestido e passando fome, o rei decide sair do castelo para passear. Ele não sabia o tamanho da encrenca que estava se metendo.


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