A prática da aprendizagem começa com o entendimento e se consolida com a prática. A prática é o exercício do entendimento, que nada mais é do que a compreensão da lógica que dá sentido a alguma coisa. A prática, com o perdão da repetição, precisa ser praticada um pouco periodicamente, para que se consolide; depois de consolidada, precisa ser praticada de tempos em tempos, para manter viva a estrutura neuronal do aprendizado armazenado de forma definitiva no cérebro. Na verdade, o termo definitivo não existe, uma vez que todo aprendizado precisa ser atualizado (o que significa modificá-lo) continuamente para ser acessado quando necessário. Nesse esquema de entender e praticar, a atenção exerce uma função fundamental: é ela que vai permitir tanto captar quanto colar os pequenos tijolos de dados e informações, dando-lhes sentido e lógica. Neste sentido, este ensaio tem como objetivo mostrar como a atenção pode ser apreendida, domada.
A atenção é um desafio a todo ser humano. Parece que todos nós temos uma tendência à dispersão, à desconcentração. Desconcentrar significa tirar do centro, deixar de mirar o centro de um alvo. É exatamente isso que parece acontecer no cérebro humano, quando não há atenção: o alvo visado é desfocado, deixado de lado, sai do centro do foco. E todas as vezes que tiramos o centro do alvo do nosso foco, os dados e informações sobre ele deixam de ser transmitidos para o cérebro. Basta um pequeno lapso de tempo para que o alvo saia de mira e todo o esforço anterior possa ser deixado de lado. Vejamos isso mais de perto.
Nossos olhos não veem; quem vê é o cérebro. Nossos olhos são uma espécie de maquininha de captação de dados e informações, geralmente em forma de luz. Da mesma forma, não são nossos ouvidos que ouvem, mas o cérebro, de forma que esses órgãos externos também são dois captadores de dados e informações. Assim como ouvidos e olhos, nariz, boca e todo o corpo são instrumentos de coleta de dados e informações para que o cérebro possa organizá-los, inventar uma lógica no aparente caos que a enormidade do que é captado parece ser e armazenar essa lógica em diversos ambientes cerebrais.
Quando falamos em atenção estamos nos referindo, na prática, em manter todos esses meios de captação de dados e informações ativos, trabalhando, para que possam transmiti-los ao cérebro. Se os ouvidos deixam de “ouvir”, uma série de canais de transmissão são desligados; se os olhos se desconcentrarem, mais uma série de canais têm interrompidos suas atenções para o foco do nosso alvo. Agora o mais grave: esses canais sempre estão transmitindo informações para o cérebro – até quando dormimos eles continuam a transmissão. Se o indivíduo desfoca do alvo, isso quer dizer que ele coloca outro alvo na mira dos olhos, ouvidos ou qualquer outro canal de captação e transmissão de dados e informações. A consequência, no cérebro, é que dados e informações do nosso alvo vão se misturar com dados e informações de outros alvos, porque toda vez que nos desconcentramos colocamos outros alvos na mira.
E o que é que se pode esperar de um aprendizado, se constantemente estamos mudando de alvo? Mais ainda: quando desconcentramos é porque outro alvo se tornou mais interessante, atrativo, prazeroso, ainda que inconscientemente. Por exemplo, em uma aula chata, certamente o cérebro vai procurar qualquer outra coisa para direcionar os captadores de dados e informações para substituir a chatice que se recusa a focar. Se alguém apresenta alguma coisa mais interessante (e quase sempre há), imediatamente a atenção é desviada, desfocada para aquilo que é mais prazeroso. Como resultado, o cérebro vai armazenar, vai deixar mais vívida na lembrança, justamente aquilo que foi mais prazeroso, que é a conversa com o colega do lado, o jeito engraçado de falar do professor, o aconchego do calor ou frio da sala, dentre outros.
Como se pode ver, é um desafio ter atenção. Mas, como tudo na vida, inclusive isso pode ser aprendido. Basta que se queira. Infelizmente, a maioria das pessoas se deixa vencer pelos desafios que a atenção nos coloca. É por isso que há quem não consiga estudar com o simples barulho do ventilador, com o calor do ambiente, com as preocupações das dívidas e assim por diante. Para vencer esses obstáculos, é necessário que se compreenda o papel da emoção para isso, pois é ela que vai ser acionada para direcionar todos os feixes energéticos cerebrais para o nosso foco. É preciso, portanto, transformar aquilo que queremos aprender em algo emotivo, prazeroso, tão prazeroso quanto aquilo que teima em tirá-lo de nosso foco. São necessários exercícios para isso.
Por incrível que possa parecer, quase todas as técnicas para a aquisição da atenção são convergentes para duas coisas: primeiro, compreender a lógica daquilo que se quer aprender. Nosso cérebro é acomodado. Ele precisa ser confortado, busca prazer. Quando descobre a lógica de alguma coisa (melhor seria dizer “constrói” a lógica”, sente-se feliz. Essa lógica pode ser simples, como saber “quais são as partes do corpo humano”, ou complexa, como “encontrar alternativas viáveis para equilibrar as contas familiares”. Isso pode ser resumido no esquema simplório de “isso acontece por causa daquilo” ou “isso é feito dessas partes”. Se o indivíduo que quiser aprender tiver essas duas coisas em mente todas as vezes que quer aprender alguma coisa, certamente a probabilidade de que seus canais de captação de dados e informações mirarem a mesma coisa aumenta consideravelmente.
Quando olhos, nariz, ouvidos, boca e corpo, os órgãos dos sentidos, estão voltados para o mesmo alvo, acionamos praticamente todos os canais de comunicação com o cérebro. Se um desses canais é desfocado, misturamos os dados e informações do canal que desfocou com os dados e informações dos canais que continuam mirando o alvo pretendido, causando um enorme problema de aprendizagem. E o resultado é aquilo que se constata na maioria das vezes que queremos aprender, se não dominamos as técnicas de atenção. A segunda coisa que nossos captadores devem mirar é a prática do entendimento, como será mostrado em seguida. Sem o entendimento, como já mostramos várias vezes, não há possibilidade de prática e, portanto, não há possibilidade de aprendizado.
Daniel Silva é PhD, professor, pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM) e escreve todas às sextas-feiras no ac24horas.
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