Recebi o gráfico abaixo do colunista Pedro Menezes, via Twitter, bastante simples, elaborado por ele mesmo a partir de dados do IBGE, em que faz um cruzamento dos principais eventos políticos da história recente com o comportamento da economia. São considerados seis momentos críticos a partir de 1964, quando os militares tomaram o poder. O traço comum é que os eventos referidos ocorreram sempre, sem exceção, em ambiente de crise econômica, o que valida no Brasil, a expressão “é a economia, estúpido!”, cunhada em 1992 pelo marqueteiro de Bill Clinton, James Carville.
Certamente é por isso que o Presidente da República brinca diariamente com a mídia, patrocinando a fumaça que ocupa as redações dos jornais (não confundir com aquela outra fumaça), e dando força à consolidação de uma imagem ao mesmo tempo tosca e ardilosa. Sua espontaneidade confunde-se com incivilidade e agrada ou desagrada os mesmos de sempre. Com isto, fica fortalecida a clivagem que o levou à presidência. Este jogo, porém, não é o principal, embora útil.
É na economia que o verdadeiro jogo é jogado. Sabem os mais experientes que enquanto a economia estiver respondendo, ainda que mansamente, a sobrevida está garantida.
Ocorre que os adversários também sabem e é por isso que procuram atravancar as medidas econômicas, superdimensionar os efeitos negativos de decisões governamentais e potencializar gestos e frases mal colocadas. Tudo é luta pela narrativa, pela versão que chega predominante à sociedade.
1. Estamos crescendo a taxas muito baixas, mas estamos há três anos saindo de uma brutal recessão, reformas cruciais andam a passos de tartaruga no Congresso que, aliás, as usa como chantagem política para emparedar o executivo e dele sacar vantagens sempre traduzidas em votos, dinheiro e poder. A isto, eles mesmos chamam de democracia.
O gráfico acima mostra que em 1964 o PIB apresentava tendência de queda, gerando insatisfação por todos os lados, como se sabe, a pressão popular contra o Governo de Jânio é que selou a decisão dos militares. O impeachment de Collor em 1992 pegou o país com PIB negativo de 1%, o da Dilma ocorreu em gravíssima crise econômica – o PIB era por dois anos negativo na ordem de 3% ao ano. Fora disso, nenhum grande evento, mesmo o mensalão (teoricamente muito mais grave do que as trapalhadas do Collor e as pedaladas da Dilma), por ex., foi capaz de derrubar o presidente Lula, que surfava num PIB crescendo a mais de 4% ao ano. Em suma, mais do que erros e estripulias, parece ser a economia que derruba ou segura Governos.
Nos últimos dias foram publicados os números finais de 2019, com crescimento de 1,1%. Esperado, diz o Ministro Paulo Guedes, pífio dizemos nós do povo, um desastre grita a oposição. Naturalmente, mediante seus interesses e expectativas, cada um vê o número de um jeito.
Paulo Guedes declara que este baixo crescimento era esperado frente às dificuldades enfrentadas, basicamente a demora e incertezas na reforma da previdência, o ambiente político refratário às mudanças na governança, a crise dos EUA com a China, a redução dos gastos governamentais (Keynesianos vão à loucura), a queda da barragem de Brumadinho (crise na Vale) etc., enfim, há um elenco de causas que explicam o marasmo, somente vencido, segundo o ministro, com mais reformas e controle fiscal.
Para a oposição, nada disso interessa, a culpa é do Bolsonaro e pronto. Se fosse a esquerda no governo, o Estado interviria gastando por conta, ainda que a inflação e a taxa de juros voltassem a dois dígitos. Quem se importa que a dívida pública exploda? Estão torcendo para que o Covid-19 cause um estrago na economia global nos arrastando para baixo. Já pensou, um PIB negativo em 2020? Seria o momento propício para a ressurreição do seu “demiurgo” solto, que tem o STF pronto para lhe dar salvo conduto a depender da ocasião e do ambiente sociopolítico. Vontade não lhes falta.
O cidadão comum aguarda pacientemente. Não se fez todo aquele esforço em 2018 para em pouco mais de um ano, sem conflito moral grave, sem conduta ímproba de ministros, derrubar um governo por andar a passos lentos com sua carga monumental. Sim, o PIBinho 2019 é frustrante, a empregabilidade é baixa, a massa salarial idem, a violência cresce e muito do esperado ainda não foi sequer iniciado, mas deixamos de andar pra trás e de suportar a roubalheira descarada de antes.
Queriam milagre? Esperavam que em apenas um ano, com o país praticamente conflagrado em uma crise política grave, e com o Governo em conflito aberto com um Congresso useiro e vezeiro em conchavos pouco republicanos, a crise fosse vencida e a economia “bombasse”? Não é assim que a banda toca, ninguém disse que seria fácil. De todo modo, a previsão de crescimento de 2% do PIB para 2020 é plausível e animadora porque confirma uma tendência positiva.
Em 2020, temos que dedicar nossas melhores atenções a conter as investidas da esquerda, que em conluio com a grande mídia pretende restaurar o período de insanidade fiscal. Enquanto isso, espera-se, os operadores da política econômica põem em funcionamento as forças motrizes da nação, ativam o mercado, removem gargalos de infraestrutura, realizam as privatizações necessárias, mantém a inflação e os juros em níveis baixos, atraem capital e ativam os investimentos. De outra banda, cabe pressionar o Congresso a não retardar as reformas administrativa e tributária, essenciais para um novo Brasil.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no ac24horas