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Jorge Viana avalia gestão Gladson Cameli: “é uma bagunça”; Viana sinaliza também que pode disputar governo em 2022

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Tranquilo e sereno, porém muito ativo e perspicaz. Assim está Jorge Viana, que recebeu a equipe do ac24horas esta semana na residência dele no condomínio Chácara Ipê, em Rio Branco. O engenheiro florestal que já ocupou a cadeira de governador por duas vezes [de 1999 a 2006], revelou em entrevista exclusiva ao ac24horas que não pode se omitir nesse momento de “fazer uma avaliação da gestão Gladson”, que sucede o seu irmão [Tião Viana] e os 20 anos do PT à frente do Poder Executivo no Acre.


O ex-todo-poderoso do Acre fez questão de recepcionar a equipe no portão da hipnotizante residência que é cercada por um extenso jardim verde formado por diversas árvores de origem amazônica. O ac24horas foi convidado para adentrar em um espaço aberto onde geralmente o petista realiza reuniões políticas e almoços de família.

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Jorge sentou-se em um sofá amarelo, sob os olhares do fotógrafo Jardy Lopes e do eterno assessor Arão Prado. Para Marcos Venicios, editor de ac24horas, “além dos olhares, o que chamava mais a atenção na sala da entrevista, era um quadro enorme de São Jorge no fundo da sala. Ali a conversa discorreu por pouco mais de uma hora. O detalhe: a lança do santo estava apontada para o repórter. “São Jorge está aqui, é o meu protetor. Estou de rosinha aqui para poder ficar na paz”, brincou Jorge Viana.



Responsável por lecionar em um curso de mestrado de Gestão e Administração, Viana fez questão de pontuar suas impressões nesse primeiro ano e quase dois meses de governo Gladson Cameli. “Eu dou muito valor a planejamento, a formar equipe e acho que esses são dois problemas do atual governo, desse grupo que tá aí. Eles não têm um plano e eles não têm uma equipe que funciona, onde o próprio governador já falou disso publicamente”, disse.


Com sucessivos erros de gestão, Jorge enfatizou que apesar do pouco tempo, acha que o “barco, de toda a oposição que ganhou, está começando a fazer água”. Dando a entender que a falta de experiência do novo governador contribui para isso e que o atual governo não tem um plano para o Acre; “O único plano era tirar o PT do poder”.


Sobre a sucessão municipal em Rio Branco, o ex-senador resolveu tocar num assunto que havia decidido calar num primeiro momento: as declarações da prefeita Socorro Neri, que o acusou de manipular os vereadores da base para pressioná-la. Ciente do assunto espinhoso, Viana tratou imediatamente de se posicionar pela união, mas afirmando que seu sonho é que Angelim disputasse a prefeitura, mas que esse desejo não “seria um gesto contra Socorro”.


ac24horas – Pouco mais de um ano do governo de Gladson Cameli se passou. O senhor já foi prefeito por quatro anos, governador por oito e senador por mais oito. Existe uma insatisfação, uma reclamação tanto de aliados como também do cidadão comum nas redes sociais, um certo incômodo pelo rumo que a atual gestão do Estado tomou nesse primeiro ano e quase 2 meses. Como o senhor avalia esse momento? Lembrando que o atual governo já fala que 2020 será melhor que 2019.



Jorge Viana – Primeiro, depois do resultado da eleição, eu acho que nós fizemos o certo. Nós silenciamos. Todo mundo está tentando organizar sua vida e de nós o governo não pode cobrar. Ficaram só eles. Eles ganharam tudo, o governo federal, os mandatos do Senado, quase todos da Câmara Federal, também na Assembleia fizeram presidente. Fizeram barba, cabelo e bigode. Mas eu acho, passado um ano, é evidente uma decepção da população; muito grande. Algumas pessoas que fazem pesquisa me contam que o Gladson perdeu a metade do capital político.  Esse movimento político, essa gordura que ele tinha, ele e o vice-governador, queimou do pior jeito.  Não queimou para poder construir um trabalho, para vencer desafios; queimou sem entregar nada. E acho que o Gladson está tendo muito mais dificuldade para suceder ele mesmo do que para suceder ao Tião. O que eu estou querendo dizer com isso é que o janeiro do Gladson de 2020 está sendo muito pior do que o janeiro de 2019, quando ele assumiu o governo. Isso é inexplicável.


ac24horas – Em qual sentido esses janeiros?


Jorge Viana – Ele passou 12 meses governando o Estado e agora quando chega janeiro tem uma situação gravíssima de violência, insuportável, a população com medo. Ora, ele [Gladson] é o mais importante aliado do governo federal. Tem tudo na mão do Estado e a situação piorou na área de segurança com eles governando há um ano. É nesse sentido. É como se o Gladson não conseguisse suceder ele mesmo. E agora ele vai reclamar de quem? Se em dezembro ele estava no governo e agora passou. “Ah, mas foi um ano”. Um ano. Eu, modéstia à parte, conheço um pouco, tive quatro anos na prefeitura, fui governador oito anos, estou dando aula agora em um mestrado de administração e gestão.  Não tem problema que um bom plano e uma boa equipe pelo menos amenize, mas não é o que a gente está vendo. Então me preocupa muito. E tanto ele [Gladson] quanto o vice-governador [Rocha] estão na berlinda e não é colocado pela oposição é colocado pela população e pelos aliados.

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ac24horas – O senhor tirou um ano sabático, ficou afastado das grandes discussões. O senhor deve andar muito na rua, inclusive esteve recentemente na OCA, que acabou se tornando o coração da capital acreana. O senhor percebe isso mesmo na questão da insatisfação? As pessoas falam, relatam? Elas se arrependeram? O que o senhor ouve na rua em relação a gestão Gladson Cameli?


Jorge Viana – Às vezes eu fico pensando: Se as eleições fossem hoje, o Marcus Alexandre ia para o segundo turno e quem sabe até eu ganhava o mandato para o senado [risos]. Mas o passado é passado. Mas o que a gente ouve, e eu também atuo nas redes sociais, é quase um apelo das pessoas. Tipo assim: Fizeram uma punição com a gente. Eu paguei uma conta, não sei quanto dessa conta era minha e não sei quanto era dos outros. Paguei, não tenho remorso. Não tenho nenhum ressentimento. Lamento.


ac24horas – O senhor reconhece que, de fato a hora estava chegando; é um ponto que o senhor reflete por esses quase 20 anos no poder. Chegou a hora da conta ser paga? Ou acha injusto?


Jorge Viana – Na democracia não dá para achar injusto. É parte do jogo ganhar ou perder. O que eu lamento, por exemplo, é que se eu tivesse mandato de senador numa crise dessa que o Acre está vivendo, nessa loucura que o país está metido, eu acho que eu podia ajudar.


ac24horas – Ajudar como?


Jorge Viana – Independente de qualquer coisa, eu nunca fui de ficar fazendo oposição, só jogando pedra. Eu tenho um extraordinário relacionamento com todo mundo em Brasília. Tenho uma experiência de vida grande e volto a falar: estou dando aula inclusive num mestrado conceituadíssimo na área de gestão e administração. Eu, particularmente, não tenho nenhuma dúvida, porque eu sempre acreditei nisso, que com a experiência do Marcus Alexandre acumulou no nosso projeto de governo, eu acho que o Acre estaria melhor com Marcus. Inclusive no quesito da segurança porque, é bom lembrar, quando assumi o governo em 1999, o Acre tinha 50 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes. Basicamente tudo concentrado em Rio Branco; nós reduzimos para 18 [por 100 mil habitantes]. Nesses últimos anos o Tião [Viana] enfrentou muitos problemas. Teve muita dificuldade. A criminalidade voltou a ser um absurdo com as questões das facções. Só que eu nunca imaginei, que tem até aquela história que circulou na rede social e viralizou, do Gladson naquele programa eleitoral dele de que “vou trazer um especialista” e aí põe Rocha para dizer que ia dar um choque na segurança. O choque foi pior. E agora eu também não entendo como é que o governador faz uma reunião enorme, chama todo mundo e o especialista de segurança, que ia dar o choque, nem na reunião apareceu. Qualquer desculpa é esfarrapada para mim.


ac24horas – O senhor falou que poderia ajudar no senado. Existe fórmula mágica? Existe um conceito? O que poderia ser feito nesse momento que o Acre vem vivendo com relação a onda de violência? Levando em conta que quase duas mil pessoas foram assassinadas no Acre nos últimos cinco anos, crimes ligados a disputas entre organizações criminosas. É um número expressivo. Tem gente que não liga devido ter aquela coisa de que é bandido matando bandido, então as coisas ficam soltas. Mas sabemos que existem inocentes entre as vítimas. Como é que poderia ser feito? E lembro que recentemente o senador Petecão publicou em nas redes sociais dele sobre a insatisfação com a segurança e isso gerou um movimento dentro do governo. Gerou uma nota contra o senador, que apoiou e ajudou a eleger o governador. O senhor afirma que era para estar melhor se o seu grupo estivesse na gestão. Aí eu pergunto: melhor como?


Jorge Viana – Primeiro, ficou evidente, passado um ano, que não tinham plano nenhum para nos suceder. Tinham a intenção de nos derrotar. Conseguiram. Mas agora não conseguem entregar o governo. Uma exceção ou outra, óbvio, que sempre tem pessoas boas. Eu acho o que o Roberto Duarte tem falado, que o próprio Petecão tem falado, que aliados na assembleia têm falado, que vivem uma situação de quase desgoverno. Então eu acho que o governador Gladson tem que se resolver. Eu queria saber qual é o plano deles para a segurança? Qual é o plano para a saúde? Falaram de agronegócio, mas qual é o plano para fazer com que a gente possa avançar na nossa economia? Eu, às vezes, leio colunistas, que falaram que ficamos 20 anos e estamos ainda na economia do contracheque. As pessoas não param, mesmo os jornalistas esclarecidos, nem para olhar os números. Eu só queria que olhassem os números. Quando eu assumi o governo, o PIB [Produto Interno Bruto] do Acre que soma tudo que o Estado tem, era de R$ 1,4 bilhão. Quando eu entreguei o governo, era de R$ 5,4 bi. Eu saí com uma avaliação de 83% de ótimo e bom, e aí o pessoal esquece.


Eles mesmo me avaliaram como ótimo e bom. Depois o Binho conseguiu colocar esse PIB mais a frente e hoje o PIB do Acre é em torno de R$ 14 bilhões. Emprego? quando nós assumimos tinha com carteira assinada no Acre perto de 45 mil pessoas, quando terminamos o governo, quase 90 mil pessoas estavam empregadas. São números oficiais. O IBGE que divulga. Então houve mudanças, o problema é que o nosso projeto é que cansou, como você colocou.  Eu lamento que a gente não tenha conseguido fazer essa transição para um Marcus Alexandre. O Tião Viana enfrentou algo que eu não enfrentei, que o Binho não enfrentou e que o Gladson não está enfrentando. O Tião enfrentou um impeachment, uma crise econômica profunda e um conflito político. Vá ser governador numa hora dessa.


ac24horas – Um conflito político dentro do governo dele?


Jorge Viana – Um conflito político dentro do país e aqui também. Aí você soma ao tempo que nós estamos e ficou muito caro essa conta.  Eu não estou aqui justificando os erros. Porque também, se a gente não assumir erro. Eu, particularmente, acho que o PT, em 2005, já deveria ter feito uma repaginação, repactuação. Não é que é o PT, mas os partidos estão desmoralizados e isso desmoraliza a política, pois sem partido não tem política e isso é muito ruim. Por isso nós temos o governo Bolsonaro. Se os partidos tivessem superados suas crises, se modernizado, se atualizado, repactuado seus compromissos, não tinha tido o governo Bolsonaro. Então todo mundo carrega um pouco dessa culpa por ter um governo Bolsonaro, que é um governo de ultradireita.


ac24horas – O PT é responsável pela ascensão do Bolsonaro?


Jorge Viana – Todos os partidos são, inclusive o PT. É óbvio que todo mundo tem culpa.


ac24horas – Isso se reflete até no Acre, com a também ascensão de Gladson Cameli ao governo, ele que já foi deputado e senador?


Jorge Viana – – Eu não misturo as coisas porque o Gladson começou a carreira política dele junto com a gente. A mesma coisa o Petecão. A mesma coisa o seu Alan Rick. São pessoas que vieram da gente. Claro, que quando estava andando tudo bem para o nosso lado, eles estavam junto com a gente. Quando começou a dar problema, pularam fora. É parte da política e do jogo. Eu não vou misturar os políticos, os colegas aqui, com o que eu tenho de visão de Bolsonaro que é um governo ultrarradical, ultradireita e que eu acho que é temporário. Isso não é a solução. A solução é dialogar, é ter plano, é tentar pacificar a sociedade e eu quero isso no Acre também. Se eu estou dizendo que essas pessoas estavam com a gente e agora que não estão, não prestam? Eu não vou falar isso do Petecão, até porque ele foi meu presidente da Assembleia durante oito anos.  Eu que ia atrás dos votos e ele me ajudou no que pode e a política é assim.  Agora não tenho revolta, não tenho nada, eu estou sem mandato, mas pô, já ganhei tanto. Fui prefeito, governador, senador, mas agora acho que tenho a obrigação de tentar ajudar o Acre mais na frente. Isso que eu quero fazer.


ac24horas – Como é que o senhor pode ajudar o Acre? O senhor é candidato agora em 2020?


Jorge Viana  – Em 2020 eu estou querendo ser parte da solução. Nós temos uma situação que é inusitada. Nós tivemos oito anos o Angelim na prefeitura, ganhou duas vezes, fez um extraordinário trabalho. Eu já tinha sido prefeito. Depois entra o Marcus Alexandre, uma surpresa fantástica, ganhou duas vezes também, e a Socorro Neri que era vice do Marcus e agora é prefeita. Nós temos responsabilidade com essa administração. Eu falei isso outro dia com os vereadores. Olha, a nossa responsabilidade é com esse mandato. Só que agora é o PSB, é a Socorro que está lá e o Marcus saiu. Nós perdemos, então nós temos aí um desafio de procurar um caminho de como trabalhar essa situação. Essa semana mesmo eu tive uma boa conversa com o César Messias, que é presidente estadual do PSB, e o Marcus Alexandre. Se a gente não se sentar com calma, não se entender, mesmo que na hora H tenhamos que ter duas candidaturas, mesmo que na hora tente se fazer um movimento para cá, nós temos que combinar. Nós estamos vivendo esse tempo todo junto, não é de agora. Não é possível que a gente não tenha bom senso de trabalhar. Então é nisso que eu estou apostando em 2020.


Óbvio que eu tenho muito respeito pela Socorro, sempre tive, acho que ela está fazendo um bom trabalho, mas se você me perguntar qual é o meu sonho. O meu sonho é que o Angelim fosse candidato. Agora isso não significa nenhum gesto meu contra a Socorro. Eu estou falando do meu sonho para 2020, mas por enquanto o Angelim fala que não está disposto.


ac24horas – Nós vimos a prefeita, através do jornalista Luís Carlos Moreira Jorge, publicamente, externar uma situação, que o senhor estaria fazendo um jogo de controlar os vereadores da base para tentar pressioná-la. A gente sempre percebeu que o senhor sempre teve acesso a prefeita, mas como ficou a sua relação com ela depois daquele dia da nota do Luís Carlos? O senhor voltou a falar com ela? Como está a relação de vocês?


Jorge Viana – Eu não tenho falado. O César [Messias], até mesmo ele não tem falado.  Ela [Socorro Neri] está cuidando da prefeitura como sempre cuidou. Eu sou a pessoa, talvez dos parlamentares, que tenha mais colocado emendas. Ela me falou, outro dia que estive com ela.


Ouça a entrevista no Podcast Boa Conversa no Spotify


 


ac24horas – Mas esse elogio dela foi antes da publicação do Blog do Crica, não é mesmo?


Jorge Viana – Sim! Eu não posso. Cara, eu não nomeei ninguém. Não estou atrás de cargo para ninguém. Eu tenho uma coisa que sempre defendi. Eu acho que o PT precisava ter tratado melhor suas lideranças. Eu sou um defensor disso. Tratar melhor o Binho, tratar melhor o Tião, tratar melhor o Marcus Alexandre, tratar melhor o Angelim, são pessoas que foram prefeitos, senadores, governadores… Eu até me incluo nisso.


Isso não significa dizer que tem que arrumar emprego ou coisa parecida. Tratar melhor é a gente poder estar mais junto. Participar mais. Então a prefeita [Socorro Neri] está tocando o trabalho dela, eu acho que tenho um modelo que a gente criou, que o Angelim, e o Marcus Alexandre também criou e inclusive ela ajudou. Que para governar Rio Branco é bom para frente.


Tem um jeito de trabalhar ali na prefeitura com pessoas competentes, com pessoas que sabem fazer. Se for em qualquer área você encontra isso. Nós criamos isso. Estamos governando a prefeitura há 16 anos. Então eu estou me guardando um pouco. A gente tem que dar um tempo, estou tocando a minha vida, estou dando aula e acho que também não tenho direito de saber disso e tal. Eu estou me posicionando, para dizer mais a frente, eu quero voltar a ajudar o Estado. Como é que se ajuda? Ajuda sem mandato? Ajuda, mas com mandato e com uma posição, pode-se ajudar muito mais. Muito provavelmente eu devo disputar um cargo majoritário em 2022. O quê? Eu ainda não sei. Vamos prestar atenção. Vamos ver como estão as coisas, mas eu quero ajudar. O Acre já me deu muito e eu quero seguir retribuindo.


ac24horas – Já teria um cargo em mente, senado ou governo?


Jorge Viana – É majoritário. Só tem esses cargos, senador, governador, mas isso aí, uma eleição majoritária, ela tem que ser fruto de algo que vem das pessoas porque vai todo mundo trabalhar para vocês…


ac24horas – O senhor acha que o fato de não ser protagonista numa eleição de 2020, não atrapalha esse pensamento para 2022?


Jorge Viana –- Veja bem; não vejo, necessariamente. Eu acho que o PT, os partidos nossos, outro dia conversei muito com o Edvaldo Magalhães também. Estou procurando ouvir as pessoas, como eu falei com o César [Messias] também. Eu acho que o PSB, os partidos que sempre ajudaram a gente sempre, tem muitos outros, eu acho que tem chances de sair realmente bem nessas eleições. Eu acho que nós temos condições de se sair melhor do que como estávamos. Eu acho que o barco, de toda a oposição que ganhou, está começando a fazer água.


ac24horas – E sem vocês…


Jorge Viana –Sim, sem nos posicionarmos. São eles contra eles.


ac24horas – O PT sempre foi um partido de destaque na oposição. Um ano se passou do governo Gladson, não está na hora dos parlamentares serem protagonistas da oposição e cobrarem o governo? Como o PT deve se comportar? A Frente Popular ainda existe?


Jorge Viana – A Frente Popular que nós criamos, que tem um legado, que tem história, mas que também tem erros, eu acho que ela não existe mais. Eu, particularmente, acho que nós temos que começar a trabalhar para criar um outro movimento político, que possa pegar tudo de bom que fez, valorizar o legado que nossos governos deram. Fui visitar a OCA. Ali é uma coisa muito legal. Tem muita coisa bacana que a gente fez. O Tião [Viana] deixou uma escola de línguas, de formação de pessoas que é uma coisa extraordinária. As obras que a gente fez estão por toda a parte. Se eu não tivesse construído as Estações de Tratamentos [de Esgoto] lá atrás, que 100% de Rio Branco é abastecida por ela; ninguém fala disso. O que eu lamento às vezes, o cara vai lá na Arena da Floresta que a gente fez, dá uma mão de tinta e troca o nome.


ac24horas – O que o senhor achou das cores e do novo nome do estádio?


Jorge Viana – Só resta para eu lamentar… não se faz isso, não precisa disso. Você veja, ali no Mercado mesmo, ali está precisando de uma mão de tinta, com a mesma cor mineral, que não é de partido algum. Cuida daquilo lá. Eu só quero que cuide. Se o governo passado [de Tião Viana] não estava cuidando, cuida agora.


Vamos fazer, eu tenho amor pelo Acre. Não é só pelas minhas obras, é espalhado por tudo. A prefeita mesmo, ninguém da prefeitura da capital dá conta de cuidar dessa cidade sozinho. O governo tem que estar junto, pô. O Gladson tinha que estar ajudando a prefeita, independentemente de qualquer coisa. Eu ajudei o Angelim, o Binho ajudou, o Tião ajudou o Marcus Alexandre e o Gladson tinha que ajudar agora a prefeita Socorro.



ac24horas – Mas essa ajuda não era devido a vocês serem do mesmo grupo político?


Jorge Viana – Não! Olha bem: eu me dei super bem com os prefeitos. Eu, como senador, eu botava emenda para os 22 municípios. Como governador, como eu estava falando para o César Messias, ele era de oposição e eu comecei a fazer parceria no primeiro dia que ele assumiu. Dá para fazer, tem que ser feito isso senão a gente se diminui. Quando se assume o executivo, seja prefeito ou governador, você tem que trabalhar para todos. Eu acho que, inclusive o Gladson, tem que acertar isso, tem que acertar com os prefeitos.  Primeira briga que teve foi com o Mazinho Serafim. Ele é gestor da terceira maior cidade do Estado. Eu acho que o pessoal do executivo, quando briga um com os outros, a população é quem padece. Eu trabalhei com o presidente Fernando Henrique Cardoso; ele me ajudou. Trabalhei com o Lula; ele me ajudou. Sempre foi assim e esse é o melhor caminho.


ac24horas – Voltando a questão da disputa da prefeitura, o senhor enfatizou que prega a união por sempre estarem juntos. E se não der certo?


Jorge Viana – Primeiro tem que estar todo mundo junto. Eu acho que quem tem que dar a palavra, sinto muito, mas não é uma cobrança de nada, é quem está governando. É óbvio, porque a gente respeita, é a pessoa responsável por toda essa confusão de gente, trabalho todo dia, prefeitura é uma coisa trabalhosa.


O César [Messias], a prefeita [Socorro Neri] e o PSB, eles devem chamar as reuniões e conversar. Só conversa, não fica ruim. Tudo o que é combinado sai barato. Só isso. Agora se o combinado é de ter a prefeita como candidata, pode ser. O combinado é a gente ter candidato e o PSB ter outro, combina. Tudo é possível combinando. A eleição é dois turnos e isso é uma consequência de uma boa conversa. O que eu acho que está faltando é uma boa conversa.


ac24horas – O senhor não acha que uma candidatura do PT acaba prejudicando, anulando a da Socorro Neri?


Jorge Viana –- Eu não posso achar nada porque primeiro tem que conversar. Aí eu vou logo dizendo que também não pode conversar com a prefeita já dizendo que ela não pode ser candidata. É um direito dela ser candidata porque ela é prefeita, está no gozo de suas atribuições e está tocando o trabalho do melhor jeito que ela pode nessa crise.  Ela tem um presidente de oposição que é do Bolsonaro, tem um governo de oposição que é o do Gladson e ela está dando conta do recado.


ac24horas – De repente o senhor não reconhece isso, mas nos bastidores quem conversa muito que o PSB da prefeita faz um movimento mais ou menos parecido com o que o Marcus Alexandre fez na reeleição de 2016, que é aquela coisa que não tem problema do PT ser meu aliado, desde que fique longe do meu palanque, que ele só vote, não precisa ficar junto.


Jorge Viana – Isso seria muito ruim se acontecesse, mas não acredito. O PSB é o mais antigo aliado do PT nesse período todinho. Eu fiz um esforço danado para fazer o PSB ter um senador junto com nossos companheiros do PT, que foi o Geraldinho. Então o PSB é um partido amigo e irmão.


Eu volto a repetir; quem está no governo, a prefeita, a direção, espero que chame a direção do PT, que precisa ser respeitada. Chame algumas lideranças, como o Bira está fazendo lá em Xapuri. O Bira está na prefeitura e já procurou o Manoel Moraes, já procurou a Maria, que é a vice-prefeita e disse que tem interesse de estar junto com eles. A conversa sincera é o melhor remédio e uma boa conversa é solução para tudo.


ac24horas – O senhor não pode responder pelo Cesário, o presidente do PT, mas o que acontece se PT e PSB não chegarem a um consenso?


Jorge Viana – O que está tendo agora é por causa da nova legislação eleitoral, que ninguém está fazendo conta, que ela impõe determinadas coisas. Porque você acha que o MDB está com candidato, o Petecão quer candidato e está feito um doido e fica atrás de gente do PT para ser candidato pelo partido dele? É engraçado isso, né? Do nosso lado tem gente boa? [risos].


Mas por que está todo mundo querendo ter candidato? Por que o MDB, o Rocha tem o candidato? Por que o Petecão quer candidato e porque o Gladson tá atrás de ter candidato? A legislação impõe fim das coligações. Os partidos precisam ter candidatos e chapas fortes para vereadores se quiserem sobreviver. A legislação foi feita para eliminar alguns partidos ou eliminar os partidos pequenos, mas isso não significa que se dois partidos amigo se sentarem primeiro, como a gente está junto, se olhando, conversando e vê que não vai dar. Combina inclusive como vai estar separado. Porque tem um segundo turno.


ac24horas – Então o senhor não trabalha com a hipótese de rompimento definitivo?


Jorge Viana – Se fizer isso… pode até acontecer, mas sou totalmente contra.  Porque isso é antipolítica. É conversar, conversar e conversar, mas com objetivo. Volto a dizer que nós temos responsabilidade com essa gestão até o final do ano e o Marcus Alexandre, que para mim é um dos maiores eleitores dessa eleição, porque foi o mandato em que que ele foi reeleito.


ac24horas – Angelim e Marcus têm peso na hora de pedir voto? O seu irmão tem peso?


Jorge Viana – Mas é lógico que tem. Meu irmão [Tião Viana] certamente tem, mas eu estou botando o Marcus e o Angelim na frente de qualquer um de nós. Numa eleição municipal, são os dois maiores eleitores daqui. Eu volto a repetir: se eu pudesse, se dependesse de mim, o Angelim seria nosso candidato. Isso aqui não é nenhum desrespeito a Socorro.


Então a Socorro não pode ser candidata? Ela pode e se ela tiver a intenção, ela deve ser candidata por estar fazendo um trabalho, tem uma equipe, é uma coisa bacana a gente servir o serviço público. Então para mim, eu estou na paz nisso.


ac24horas – A gente estava falando em equipe. Em vários momentos, tanto na prefeitura como no governo, o senhor teve o seu time. Quando você escalava seu time, o senhor assumia toda a responsabilidade dos erros e acertos, como alguns técnicos fazem. A responsabilidade era sua?


Jorge Viana – Não é bem assim. Deixa te falar. Quando se faz um time, escala bem o time, treina bem o time, é um time. Quando você põe o cara na lateral direita, você tem que colocar um cara melhor do que você.  Põe um no gol, o melhor que pode ter e quando dá errado todo mundo tem um pouco da culpa e quando dá certo todo mundo tem um pouco da vitória.


Você sabe que eu tenho um Twitter, que tem 60 mil seguidores, tem um Instagram com 17 mil seguidores e tem um Facebook com mais de 100 mil seguidores. Eu procuro falar das minhas coisas, do meu cotidiano, também dar uma opinião sobre uma coisa ou outra. Eu agora estou informando pela primeira vez que em março, passando o carnaval, devo ter um canal no Youtube. É um outro público. Esse canal do Youtube é para se comunicar mais e o primeiro entrevistado vai ser o Binho e a gente vai conversar sobre como formar equipe também, a importância de formar, de planejamento estratégico, nós fizemos isso na prefeitura.


No primeiro programa, o Binho vai contar e dividir experiência nesses anos de gestão. Eu dou muito valor a planejamento, a formar equipe e acho que esses são dois problemas do atual governo, desse grupo que está aí. Eles não têm um plano e eles não têm uma equipe que funciona, onde o próprio governador já falou disso publicamente.


ac24horas – Não tem ninguém que se destaca nesse governo do Gladson?


Jorge Viana – Tem, sempre tem, mas eu não quero entrar nesse mérito. O que acho terrível e que na minha época não acontecia. Olha, não estou dizendo que não pode ser feito, até no governo do Tião [Viana] isso aconteceu de certa medida. Quando fui candidato, quando fui governador, quando fui prefeito, ninguém que trabalhava comigo era candidato a nada. Nós estamos ali para governar e eu falava para os políticos, deputado federal, senadores e deputados estaduais que nós estávamos trabalhando para vocês, ou seja, estamos trabalhando para a população. Então secretário era secretário. Executava um plano, trabalhava para todos os parlamentares da nossa base. O pessoal se reelegia, a população era atendida e o governo estava descontaminado.


Eu acho um desastre, a primeira coisa que o Gladson fez foi dar um pedaço do governo para cada deputado, para cada político e não foi nem para os partidos. Isso é bizarro. Eu falo isso porque vejo pela imprensa. Isso é um desastre. É como você colocar o time com 11 e todo mundo jogando um contra os outros. O adversário vai fazer gol. O time deles joga um contra o outro. O pessoal da saúde leva bordoada de um lado, o pessoal da segurança leva bordoada de outra pasta. Isso para a população é terrível e é muita troca. Já trocou três vezes o comando da PM e parece que já vai ter que trocar de novo. Aí troca secretário demais. Volta o da saúde, troca o líder do governo, volta o líder. Gente, isso passa uma insegurança danada. Fica meio que uma bagunça.


ac24horas – E como é que se arruma uma bagunça dessa?


Jorge Viana – Só com eleição. Só com outra eleição…


ac24horas – A gente percebe, sempre acompanhando as suas redes sociais, que o senhor sempre se reúne com o Marcus Alexandre, o Angelim, o Binho. Esse é o grupo do PT que deu certo, são as melhores cabeças?


Jorge Viana – Nós temos pessoas boas trabalhando com a Socorro [Neri]. Só que eu acho que nunca teve tanta gente boa disponível como agora. Foi um erro do Gladson aquele negócio de despetizar. Funcionários qualificados, gestores públicos foram jogados de lado, eram eles que sabiam fazer. Aquilo ali não era gente do PT não. Era gente do governo. Aí os caras não sabiam nem fazer pagamento.


O que eu estou falando são de pessoas que já foram governadores, prefeitos, pessoas que viraram líderes e a gente se encontra. Eu afirmo a você, a gente se encontra para lembrar as coisas boas que a gente já fez, para pensar como é que a gente pode fazer mais na frente para melhorar também. Então tem um clima muito bacana.


Acho que o maior exemplo de todos é o Marcus Alexandre. Esse cara é um monstro. Ele consegue estar em paz, está na boa, na humildade. E eu falei para turma; vamos aceitar ser humilhados, não tem problema. Fica melhor. A gente vai ficar melhor como pessoa. A gente que tirar lição disso.


Fomos agora na festa dos 40 anos do PT em Brasileia. Foi tão lindo, fui tão bem tratado por todo mundo. A Fernanda Hassem fez uma festa fantástica e você vê que a prefeita mais bem avaliada do Acre é a Fernanda. E o Bira de Xapuri está lá também, que é do PT. Nem tudo está perdido. Eu acho que devemos ter esperança e ao mesmo tempo temos que estar preparados para tirar lições dos erros que cometemos, que não foram poucos, mas principalmente de reconhecer que a gente fez muita coisa bacana.


ac24horas – Você fala com muita veemência no nome do Marcus Alexandre. O senhor já disse que existe um interesse seu para disputar um cargo majoritário em 2022, e o Marcus Alexandre entra nessa dobradinha? O que você conversa com ele? Ele vem também para a linha de frente? Vocês vão fazer uma dobradinha governo/senado ou senado/governo?


Jorge Viana – Se eu estou falando pra ti agora que a gente tem que conversar para 2020, eu não posso colocar o carro na frente dos bois. Eu sempre fui um aliancista, eu acho que a gente tem que ver do cenário político. A gente não pode querer radicalizar. Tem que ver quem é que vai se juntar com quem, por que como é que vai estar o governo atual daqui um ano? E se estiver pior? Se estiver pior, daqui a pouco vai estar se juntando até quem não se gostava muito para ver se salva alguma coisa.


Então eu acho que a gente tem que ter tranquilidade, humildade de ficar quieto, não ficar atrás de cargo, não ficar nessa de fazer troca nenhuma, resilientemente aceitar o papel que a gente tem. Agora, eu acho que está na hora do PT, de nossos parlamentares fazer oposição neste segundo ano. Mas uma oposição que eu diria, materializando as coisas. Se vocês do ac24horas estão dizendo que está tendo farra nas licitações, de dispensa de licitações, máfia na Educação, está tendo farra de dispensa de licitação na Ageac e na Saúde. Nós temos, eu acho que o PT, nossos parlamentares têm que entrar com representação. Esse negócio de governador ficar dentro de avião e vice e ir junto… amigo, eu fiquei oito anos no governo, economizei mais de R$ 6 milhões de dólares por não ter usado nenhum real para jatinho.


ac24horas – O senhor alguma vez já pensou em licitar um jatinho? Até porque o Acre é longe dos demais dos grandes centros….


Jorge Viana – Nunca. Eu passava a noite nos aviões. Chegava em Brasília e voltava de tarde. Eu tinha um plano, eu tinha uma equipe. Teve em uma época atrás que tinha governador que utilizava, mas não estou aqui reclamando, mas pô, brigaram tanto pelo Estrelão [helicóptero governamental], e agora já se foi.


E esses dois, o governador e o vice, isso não cola. Tem que ficar. Olha, a cabeça da gente está onde os pés estão. Tem que estar junto do problema, tem que estar perto, tem que ver, viver as coisas. Não é essa coisa de passagem, de vir aqui, faz uma reunião e vai embora. Isso está errado.


Se eu pudesse aconselhar alguma coisa, eu falaria: Governador, pare de viajar esse tanto. Se for depender de Brasília, você vai estar toda hora lá. Se organiza, planeja e vai na agenda que for mais importante. Eu nunca fiz e não tenho nenhum problema que se for para fretar um jato e ter uma agenda de urgência, mas só quando tiver necessidade. Um contrato de R$ 5 milhões faz falta para alguns setores. Tá sobrando dinheiro, como é que é isso?



ac24horas – E sobre aquele argumento que foi sempre usado na campanha e até mesmo no início do governo Gladson de que dinheiro tinha, o que faltava era gestão. Como você analisa essa afirmação que diversas vezes saiu da boca do próprio governador?


Jorge Viana – Eu mudo um pouco dessa fala: eu acho que falta um pouco de dinheiro, mas segue faltando muita gestão. Falta dinheiro, falta gestão e falta equipe. Para ganhar campeonato tem que ter time. Cada um cumprindo seu papel harmonicamente, uma passando a bola para o outro e não tirando a bola um do outro. O que eu estou vendo aí é uma bagunça. Não sou eu que estou dizendo, é o que eu leio nos artigos que vocês escrevem, nas colunas dos sites. O pessoal dos aliados falando… uma bagunça que ninguém se entende.


ac24horas – Por falar nessa questão dos aliados, o senhor mesmo citou Edvaldo Magalhães, Petecão, a gente percebe que existe uma crise no parlamento, umas vezes velada, umas outras vezes explícitas. Você já foi governador, como é que você vê essa base volúvel, que não é coesa?


Jorge Viana – Me preocupa muito. E mais uma vez falo dos diálogos que tenho com gente que ocupa o governo. Converso com gente do PSDB, converso com gente do MDB, eu converso com gente do PP. Eu sinto que em volta tem uma espécie de uma rede de intriga. Todo têm um consenso, todos tem uma preocupação com o vice-governador, dizem que ela está montando um esquema, que vai ganhar a prefeitura e depois vai dar uma bola nas costas do Gladson. Isso é conversa deles e que contra isso todos irão se juntar. Isso é muito complicado porque está evidente que tem grupos muito bem formados.


Volto a repetir: no dia que eu vi o governador dizendo que um deputado jovem, o Roberto Duarte [MDB] era inimigo. Do MDB, que é da base do governo, e que o senador Petecão, que é do PSD, que é uma liderança importante do lado deles, era adversário, eu falei que tem alguma coisa muito errada. Então o governador ou os pensadores do governo vão ter que se entender, mas isso é um problema deles. Eles ganharam, eles precisam governar, o que eu acho o que não dá é a população está pagando a conta que está pagando. Acho que a decepção é crescente da população e não vejo horizonte de o governo entregar nem parte daquilo que prometeu.


ac24horas – O senhor acha possível ainda esse ano, o quadro negativo se reverter?  Como analisa isso?


Jorge Viana – Eu tenho um pouco de dificuldade… modéstia à parte, eu sou muito ligado nessa coisa de planejamento estratégico, estou dando aula num mestrado. – Gente, qual é o plano? Quem é a equipe que vai executar o plano? Em que tempo nós vamos fazer o trabalho? É isso que está faltando e se isso não for apresentado, a minha resposta vai ser; olha, vai seguir essa confusão. Quando o governador chegar de viagem ele vai se posicionar sobre algum assunto, aí ele vai viajar de novo e vai se posicionar de novo. Eu não sei, faz muito tempo que não encontro o governador Gladson.


ac24horas – Se o senhor o encontrasse agora, qual o conselho o senhor daria? Se fosse possível…


Jorge Viana – Conselho a gente só dá quando é pedido…


ac24horas – E se ele pedisse?


Jorge Viana – Olha eu estou criando um canal no Youtube para botar um pouco das ideias que eu tenho.


ac24horas – Ele vai ter que assistir o programa?


Jorge Viana – Não, não. Não sei se vai ter que assistir, mas eu não me nego. Gente eu tenho amor pelo Acre. Se o Gladson viesse conversar comigo, eu o receberia muito bem. E se tivesse alguma sugestão para dar a ele, eu daria numa boa. Toda segunda-feira eu fazia uma reunião com a equipe de segurança. Era um time bom pra caramba. A gente estudava, lia texto, juntava todo mundo. Montamos um plano para enfrentar a violência. Nós conseguimos. Reduzimos de 50 mortes por 100 mil habitantes para 18. Esse negócio da segurança é o caos. Isso aí não se resolve com “mimimi” e botando a culpa na imprensa. Eu colocaria todo mundo junto com um bom plano para enfrentar essas organizações criminosas.


ac24horas – Eu volto a tocar nessa questão da segurança de novo. Nas eleições de 2018, o senhor e o senador Petecão protagonizaram um bate-boca intenso no senado. A discussão viralizou nas redes sociais e isso acabou sendo o estopim para que a reeleição do Petecão pegasse vento. Mas a gente vê que não mudou. Mas naquele momento, o grupo de oposição na época pedia intervenção federal na segurança, o mesmo grupo que hoje está no poder. Como o senhor analisa essa questão já que naquele momento o senhor defendia o governo?


Jorge Viana – Primeiro você tem que entender o que está escrito na constituição. Depois de ter sido prefeito, governador e senador, eu não posso dar opinião só para agradar. Uma intervenção no Estado paralisa o país. Você não pode aprovar medidas, mudanças na constituição, não pode ter medida provisória. É uma coisa muito complicada. Isso é diferente de pedir ajuda do governo federal, pedir ajuda do exército, de montar um plano. Em vez da intervenção, podia se pedir uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem). Você monta uma operação com as forças armadas. Isso não é intervenção, isso é ajuda. Foram usados muito esses planos na época que a Dilma saiu, foi usado muito, até vulgarizaram isso. Usaram lá no Rio [de Janeiro]. Isso é diferente.


O governador Tião Viana fez um ato interessante aqui. Ele trouxe todos os governadores da época ali no hotel do Monteiro [Resort Hotel] e falou o seguinte: eu não estou dando conta, tem uma fronteira e tudo mais. Tem que pedir ajuda. Não é chegar lá e dizer alguma coisa e faça. Tem que montar um plano, nós temos bons policiais na área de planejamento da PM, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, temos gente boa no Ministério Público, temos gente boa no Judiciário. Agora chegar e dizer que a culpa é do judiciário que tá soltando, aí não tá querendo resolver. Todos vão precisar uns dos outros. Claro que tem apelo.


ac24horas – O senhor que já esteve na gestão, acha que existe uma dificuldade para se ter essa ação.


Jorge Viana – Aí passa pelo Governo Federal, Ministério da Defesa e você tem uma ação dessa. Precisa ser provocado, ir atrás, mostrar a gravidade da situação e assumir que não está dando conta da situação, nisso o pessoal da oposição tem razão. Mas a solução da intervenção, ela não é exequível. Ela não vai acontecer. O Paulo Guedes vai parar de aprovar todas as coisas que ele quer por causa do Mercado Financeiro? O Bolsonaro não vai fazer isso. Então vai na nossa constituição, no que é possível, e que traga alguma paz para nossa população. Não dá para resolver as coisas aqui. O aparato da Polícia Federal no Acre é pequeno. Não é porque não querem não, é porque é pouca gente. Então faz uma força tarefa aqui. A GLO pode fazer isso.



ac24horas – Pensando no futuro, se o governo de Gladson não decolar, essas previsões ruins que possam acontecer, o seu grupo vai se preparar para dar um recado à altura? Quem acompanha vocês podem esperar, inclusive para as pessoas que tem receio do PT?


Jorge Viana – Meu diálogo é de A a Z, não importa que classe social. Talvez um dos confortos maiores aonde eu vou, no supermercado, na rua ou em qualquer lugar, ou correndo [Jorge Viana é corredor de rua amador], é muito bacana esse carinho, esse acolhimento. Eu falei uma coisa quando a gente perdeu, eu queria encerrar a entrevista com isso. Eu falei assim: O ruim da vitória é que ela não é para sempre e bom da derrota que ela também não é para sempre.


A gente vai virar essa página. Eu quero que essa história bonita da Frente Popular tenha um capítulo, um outro, que não seja de todo mundo perdendo. A gente fez tanta coisa bacana. Agora em 2022, a gente tem que prestar atenção e ver quem é que vai ser o sistema. Nessa eleição passada agora imputaram na gente, destruíram a reputação da gente e me botaram junto com muita fake news, muita agressão. A gente tem defeito, mas eu não sou o que me venderam, mas nós representávamos o sistema.


O pessoal não votou no plano do Gladson. O pessoal votou para tirar a gente e quem disse que em 2022 não pode o sentimento do eleitor estar para tirar esse pessoal que está no sistema aí? Aí eu quero ver quem deles vai cair fora e não vai querer ser o sistema. Eu acho que o cenário se desenha é esse. Pô, não conseguiram se entender, não conseguiram melhorar a vida da população, então vamos chamar quem entende. Eu acho que temos muitos quadros e temos que nos preparar, caso a gente venha a ser chamado pela população, a seja possa colaborar.


ac24horas – Como foi a última campanha para o senhor?


Jorge Viana – Na campanha foi muito dolorido pra mim porque foi uma campanha errática. Foi tudo errado. Composição de chapa errada, a aliança errada, nós erramos muito. Nós perdemos.


ac24horas – Mas vocês erraram juntos ou teve um protagonista?


JV – Para eu não ficar com raiva, eu assumo minhas responsabilidades. Por que eu não tomei certas atitudes? Por que eu não falei dois candidatos do PT, não? Se a gente foi no segundo turno na outra eleição, por que que a gente vai nessa? Então eu acho que a coisa mais fácil é terceirizar a culpa e eu não vou fazer isso. Cada um de nós carrega um pouco dessa responsabilidade e a minha foi grande, mas está tudo cicatrizado, tudo superado.


ac24horas – Até mesmo dentro do PT?


Jorge Viana – Eu acho que melhorou pra caramba. Está um ambiente bom, nós não fizemos briga com nada. Mas tem coisas assim, o que que a gente tem na vida? A reputação da gente. Eu, por exemplo, estou decidido a qualquer malandro, vigarista, seja de onde for, que venha atingir a minha honra, eu estou entrando com processo na justiça. Porque o que eu tenho é a minha reputação. Dizer que eu tenho isso, que eu tenho aquilo. Quando a gente é pessoa pública, pode dizer, mas tudo o que eu tenho está no meu imposto de renda, mas quando esse mundo da rede social entrou, que é uma coisa fantástica, mas que também destrói pessoas, a gente tem que tomar muito cuidado.


Por isso eu estarei mais presente nas redes sociais, não é por nada não. Jamais vou atacar alguém, mas que a gente deixe as pessoas entenderem que temos uma história. Fizemos um governo honesto. Eu trabalhei oito anos. Se a gente não tivesse sido extremamente honesto, não teríamos feito o que a gente fez. Fui ajudado pelo Fernando Henrique, fui ajudado pelo Lula, mas acho que essa coisa de rede social ela está tomando parte da vida da gente e eu acho que a gente tem que ser mais responsável em relação a isso.


Eu jamais vou fazer coro e espero que o pessoal do governo não fique chateado. Eu não estou fazendo crítica aqui para piorar as coisas não, eu estou fazendo observações que eu acho que se eles corrigirem, eles vão acertar mais. Eu sou morador de Rio Branco, eu morador do Acre, então eu quero o melhor. Agora eu também estou na política. Eu tenho responsabilidade como uma das lideranças da FPA. Nós erramos muito em rede social, nós deixamos as versões, os fakes falsearem o que a gente fez e termina que tudo de bom que a gente fez também se perdeu, mas nunca é tarde para a gente repor. Tomara que o governo, ao invés de mão de tinta e mudar nome, comece a se inspirar e façam coisas legais, que fique marcada na vida as pessoas.


ac24horas – Eu não poderia terminar essa entrevista sem perguntar dessa guerra judicial que envolve o senhor e os demais ex-governadores pela pensão de ex-governador. O que o senhor tem a falar sobre?


Jorge Viana – Sobre esse assunto aguardo uma posição da Justiça. Eu já era servidor público quando fui eleito. A lei me garantia a opção pelo melhor salário. Foi o que eu fiz. Agora, com 60 anos de idade e 35 anos de serviço público, sou obrigado a defender na Justiça que isso é um direito pela minha condição de servidor público. Isso foi usado contra mim na campanha passada até por especialistas em “rachadinha” [prática conhecida por dividir o salário de assessores do gabinete], políticos que metem a mão até nos salários de assessores. Fui prefeito, governador e senador sem fazer recorrer a essa prática. Quero receber somente o que tenho direito por lei, tempo de serviço e pagamento de contribuição.


 



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