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Detentos que fugiram de presídio tiveram tempo de sobra para planejar e executar fuga

Foto: Kennedy Santos

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Há muito tempo as fugas da prisão povoam o imaginário das plateias de todo o mundo. As escapadas de homens encarcerados renderam filmes e séries nas mãos de diretores como Spielberg, Don Sieger, Franklin J. Schaffner e Frank Darabont.


O escritor Paulo Coelho escreveu um conto de fadas baseado em história real que fala da transformação de Maria, uma brasileira que sai de casa ainda jovem determinada a entender o papel do sexo nas relações amorosas e, principalmente, em sua própria vida. O autor narra o “sentido sagrado do sexo”.

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Em onze minutos os detentos conseguem estabelecer, segundo depoimentos de policiais penais, o momento de relação mais intima com suas espoas ou namoradas em espaços separados nas selas com cortinas feitas de lençóis, chamadas tihanys.


O que tudo isso tem a ver com a fuga da FOC?

Primeiro que saímos do imaginário cinematográfico e dos contos de fada de Paulo Coelho para uma dura realidade que tomou de conta dos presídios em todo o Brasil. As fugas dos maiores presídios, alguns de segurança máxima, envolvem uma rotina dentro e fora dos presídios, relacionada ao tráfico de drogas. Essa é a principal relação entre os fatos registrados em Rio Branco, no Acre, no Presídio Francisco de Oliveira Conde (FOC) e na Penitenciária Regional de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, que fica na fronteira com a cidade brasileira de Ponta Porã (Mato Grosso do Sul), todos fugitivos são integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC).


Descobrir se existe intercâmbio entre os dois episódios e se houve, no caso de Rio Branco, cumplicidade entre policiais penais é o trabalho que vem sendo feito pelo Ministério Público Estadual, que na última semana, ouviu servidores públicos que estavam de plantão na FOC no dia da fuga, e um a um, os dez presos recapturados pelo serviço de inteligência.


Segundo o que a reportagem apurou, os lençóis da “suíte” usada para momentos íntimos no pavilhão L foram os mesmos usados na fuga cinematográfica dos detentos considerados de alta periculosidade no dia 20 de janeiro no maior presídio do Acre.


Existe a suspeita de que, o buraco cavado na parede do presídio tenha sido construído durante os cultos frequentes no pavilhão, os detentos aproveitavam os momentos de oração para intensificar o furo na parede – nada comprovado ainda. O que existe de concreto com base nas imagens gravadas e no que já foi ouvido das testemunhas, tem relação com a rotina dentro dos presídios e o controle político entre os grupos do sindicato dos policiais penais.


A construção do buraco e a noite da fuga

Segundo um policial penal que pediu para não ser identificado, quatro agentes deveriam estar de plantão no momento da fuga na noite de domingo, dia 19 de janeiro. “Dois fazendo ronda e dois em pontos estratégicos fixos”.


“Estranhamente, segundo imagens que os promotores tem acesso e que vazaram durante a semana, nenhum agente estava na ronda no momento mais crítico da fuga, um deles aparece no final do episódio”, revela o policial penal.


660 segundos é o tempo estimado em que os 26 presos de alta periculosidade empreendem fuga. Com ajuda de “Maria Tereza” (lençóis amarrados) eles pularam um muro de 10 metros e saíram correndo por rumos ignorados.


O policial penal seguiu narrando para a reportagem que, os presos do Pavilhão L, assim como os demais, conhecem toda a rotina que existe por dentro dos muros do presídio Francisco de Oliveira Conde. “Eles sabem quem estar de plantão, mesmo os policiais usando fardamento camuflado, conhecem cada um pelo andar”, acrescentou.


O que o agente deixou nas entrelinhas é que naquele plantão, a turma era conhecida na gíria dos presidiários como “relaxada”. Há uma versão que afirma que os policiais poderiam estar dormindo. O vídeo mostra a chegada de um plantonista no final do momento mais estressante.

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O comando dos policiais

Grupos distintos atuam hoje dentro do Sindicato dos Policiais Penais do Estado do Acre. A política sindical que deveria focar nas condições de trabalho e qualidade de vida dos servidores está comprometida com a atuação das principais lideranças do movimento.


Há informações de que a turma de plantão na noite da fuga em massa tem sérias divergências com a gestão do Instituto Penitenciário (IAPEN). Até que ponto essa rivalidade pode ter contribuído com o episódio, somente as investigações apontará.


As investigações em curso

Enquanto nada científico é apresentado à opinião pública, as declarações dos gestores envolvidos ecoam na mídia. O secretário de justiça e segurança pública, Coronel Paulo César, chegou a levantar suspeitas na atuação dos policiais penais que estavam de plantão na noite da fuga.


Em nota, a associação dos policiais penais além de repudiar as declarações do comandante da segurança no Acre, afirmou que na tentativa de dar respostas a sociedade, o coronel Paulo César tenta fazer dos corajosos Policiais Penais “boi de piranha”. A associação cobra ainda, melhores condições e equipamentos de trabalho.


“Só quem conhece a realidade do controle da segurança e vigilância de 1.500 presos condenados, são nossos policiais que trabalham sem quaisquer condições, numa unidade prisional aonde faltam algemas, rádios HT, iluminação, cadeados, viaturas e principalmente mais servidores”.


Elementos soltos são de alta periculosidade – Somadas as penas dos 26 detentos que fugiram da FOC, chegam a mais de mil anos de prisão. Os elementos são de alta periculosidade, entre eles, e apontado como o mentor da fuga está o assaltante cruzeirense José Valdenes Viana da Silva, vulgo Rambo, que assassinou um policial militar durante latrocínio em Cruzeiro do Sul.


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