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Cruzeiro do Sul

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“o que distingue a cidade da aldeia não é a extensão, nem o tamanho, mas a presença de uma alma da cidade, ( … ) a coleção de casas, cada uma com a sua própria história, converte-se num todo conjugado. E este conjunto vive, respira, cresce, adquire um rosto peculiar, uma forma e uma história internas.” – Oswald Splenger.


Da sacada, a visão é a Catedral, o antigo Fórum e o rio Juruá mais ao fundo, com a ponte estaiada e o movimento dos barcos e voadeiras. Já faz alguns anos que me hospedo no morro da Glória para ter essa vista, ao menos no café da manhã. Cruzeiro do Sul tem um ‘sei lá o que’ de cativante, talvez a tal alma traduzida na citação do filósofo.

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Me hospedo no Morro também porque aqui fico perto de tudo. Com um escorregão, chego ao centro da cidade. Ao lado do hotel estão diversas opções para o lanche, de ceviche a hotdog, e o melhor boteco da cidade para passar o tempo vago olhando o movimento da rua.


O traçado da cidade, tentando manter uma regularidade de tabuleiro de xadrez, acentua o relevo e as ladeiras, forçando até que em alguns locais a calçada seja substituída por escadarias que, se condenadas nos manuais da acessibilidade, dão um charme a mais à paisagem urbana. Dizem também que são as ladeiras as responsáveis pelas pernas bem torneadas das moças da terra.


O trabalho, vez por outra, me traz por aqui. Desde o tempo que trabalhei na COHAB, buscando soluções para um conjunto habitacional repleto de defeitos que a empresa construiu nos anos 80; depois realizando um projeto de sinalização viária, no início dos 90; participando de atividades da UFAC, por volta dos 2000 e, mais recentemente, fazendo perícias e outros serviços de engenharia. Sempre que venho, descubro algo de novo para conhecer.


Há os lugares comuns, como uma caminhada no final da tarde pela Av Mâncio Lima e comer um churrasquinho mais a noite na praça da Rodrigues Alves. Ou ainda um passeio no mercado pela manhã e depois tomar um banho no Igarapé Preto, com direito a moqueca de pirarucu no almoço.
A cidade é conhecida por seus excelentes cozinheiros. Come-se muito bem por aqui. Foi num restaurante ao lado da catedral que o saudoso Cláudio Nobre me apresentou a uma caldeirada de Jundiá, num almoço com o queridíssimo e também saudoso professor Flávio Bonilha, jundiaiense como eu, que se dividia entre coordenar o projeto Rondon de dia e dançar no clube do Magid a noite.


Missões de campo na PF me fizeram andar por estradas rurais e, o melhor, subir e descer o Juruá, o Moa e diversos de seus afluentes com paisagens e lugares únicos. Passeios que transformam o trabalho em um quase lazer, não fossem as tralhas e a responsabilidade carregadas junto. Para os turistas de verdade, as opções vão de festivais em aldeias indígenas a caminhadas e banhos no paraíso fluvial.


Terra de artistas, a cidade tem uma arquitetura peculiar, representada pela catedral monumental sobre um pátio de arcadas e a praça de táxi, em abóbadas turcas. Também tem uma construção em formato de cogumelos verdes que apelidei de casa do Papai Smurf.


A qualidade dos profissionais locais que trabalham a madeira pode ser apreciada na movelaria, carpintaria, construção de embarcações e na marchetaria. Uma visita imperdível para quem vem a cidade é o ateliê do Maqueson, onde você conhece todo o processo de escolha e preparação das lâminas, o recorte e a composição dos mosaicos do autor.


Mas o Mercado Público é imperdível. Quem vem a Cruzeiro não volta para casa sem um pacote de biscoitos de goma e um saco de farinha de mandioca. A produção local é variadíssima, desde o pó de guaraná mais puro, o açúcar mascavo, chamado aqui de gramichó, os temperos e os feijões. São mais de vinte variedades de feijão catalogadas*. Minhas preferidas são o gurgutuba vermelho, o ‘arromba homem’, que dá um caldo encorpado bom para cozinhar com jabá, o peruano branco, para o cassoulet, o manteiguinha, para saladas e o de corda para o baião de dois. Vale a pena separar o espaço na mala para alguns quilos dessas iguarias.
Seja também bem vindo a Cruzeiro do Sul.


* E-book Feijões do Vale do Juruá – Ifac
https://bit.ly/35QtuXP


Roberto Feres escreve às terças feiras no AC24Horas.


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