Em toda a minha trajetória como jornalista – que este ano completou mais de duas décadas e meia de pequenas alegrias e grandes amarguras – nunca tinha me deparado com um político tão inacessível quanto o atual prefeito de Cruzeiro do Sul, Ilderlei Cordeiro, do PMDB.
Tenha sido como repórter, articulista, colunista político ou assessor de imprensa, convivi e conversei, breve ou longamente, com vereadores, deputados estaduais e federais, senadores, prefeitos e governadores de Estado. De alguns deles virei amigo. De outros levei rasteira. Mas com frequência conseguia acesso a todos eles sempre que a necessidade profissional exigia.
Com o Sr. Ilderlei Cordeiro é diferente. Desde que assumiu o município de Cruzeiro do Sul, não obtive dele um único feedback a tantos já necessários à minha atuação profissional no Juruá. Foi assim quando tentei obter uma declaração sobre a necessária criação do Procon na cidade, meta que não obstante constar no seu programa de governo continua a ser apenas uma antiga reivindicação dos moradores de Cruzeiro do Sul.
Também não consegui acesso ao peemedebista durante as muitas matérias que fiz sobre a grave situação da malha viária do município, da qual reclamam os motoristas e se ressentem pedestres e ciclistas – estes por temerem que a necessidade de uma manobra abrupta, por parte dos primeiros, lhes custe ferimentos graves ou até mesmo a vida.
Nesta sexta-feira, 19, fiz nova tentativa de ouvir Ilderlei sobre a grave crise no governo federal, cujo timoneiro Michel Temer, seu correligionário, ameaça afundar o navio do PMDB, e com ele o que sobrou de um país vilipendiado pelo Partido dos Trabalhadores. E é claro que a inclinação ao silêncio do prefeito cruzeirense se manifestou novamente em forma de surdez.
Avesso à imprensa, já que não é visto nas emissoras de TV e nem ouvido pelas ondas das rádios locais, Ilderlei parece ter maior aversão ainda ao público que o elegeu. Dias desses mandou afixar nas paredes da prefeitura o antipático aviso de que ali não havia “vagas de emprego”.
O mesmo fez com os vereadores de sua base de apoio na Câmara, numa decisão desrespeitosa e inédita – pelo menos para mim –, na qual lhes comunicava, também através de um cartaz, quais os dias destinados à audiência com o chefe do Poder Executivo.
Das quatro reuniões que marcou com os membros do sindicato dos taxistas de Cruzeiro do Sul, o prefeito não compareceu a nenhuma. E nem sequer lhes deu satisfação.
De vice-prefeito do município, que rompeu com a titular, Zila Bezerra, por questões nebulosas, a deputado federal de um só – e medíocre – mandato, Ilderlei Cordeiro foi alçado ao cargo não por méritos próprios, e nem pelas realizações (inexistentes) de sua curta carreira política. Guindado ao posto pela expressiva força do padrinho e ex-prefeito Vagner Sales, parece agora, já no começo do mandato, enfastiado com as atribuições que o cargo requer.
O comportamento de Ilderlei, óbvio, reflete no desempenho pífio da maioria dos seus colaboradores, que acabam por imprimir um ritmo lento à máquina administrativa. E com isso são sempre adiadas as respostas às urgentes necessidades do cidadão comum. Disso tudo decorre, claro, a impaciência do cidadão cruzeirense, que se queixa diariamente da iluminação pública, da inexistência de medicamentos nos postos de saúde, da falta de merenda nas escolas na zona rural e da água que não chega nas torneiras – já que parte do sistema de abastecimento continua sob a responsabilidade do município.
Focado em aprovar a criação de mais de 600 cargos comissionados para abarrotar ainda mais a prefeitura, no que consistiu – pasme o leitor! – no seu ato de número “02” após a posse, Ilderlei tem alardeado, diante das justas reivindicações coletivas que lhe chegam, que o município não dispõe de recursos. Ocorre, porém, que as mencionadas contratações terão impacto anual de R$ 8,6 milhões no orçamento municipal, segundo cálculos feitos por vereadores de oposição.
De um parlamentar da base aliada na Câmara Municipal, cujo nome sou obrigado a omitir, ouvi que a meta de Ilderlei é voltar à Câmara Federal. Isso explica muita coisa e outras que ainda virão – todas elas, suponho, em detrimento dos que lhe confiaram cargo tão importante e até daqueles que o rejeitaram nas urnas.
O lobo Ilderlei, sedento pela vida outrora mansa que gozou em Brasília, por ora anda apenas disfarçado de prefeito.
Este artigo é de responsabilidade do jornalista Archibaldo Antunes, correspondente do site ac24horas.com no Vale do Juruá
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