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O político engoliu o pastor?

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Da Redação

A ser verdadeira a máxima de Stendhal, segundo a qual “Todas as religiões são fundadas sobre o temor de muitos e a esperteza de poucos”, o pastor Jamyl Asfury tem motivos de sobra para se orgulhar do sua posição na hierarquia evangélica. E a prevalecer sobre Stendhal, o axioma de Montesquieu, que diz “Para [se] obter êxito no mundo temos de parecer loucos, mas sermos espertos”, o político Jamyl leva vantagem sobre o pastor.


Político de um único mandato, o deputado Jamyl Asfury (PDT), que atualmente ocupa uma cadeira na Aleac por arranjo do padrinho Sebastião Viana, tem dito por onde passa que quer o esclarecimento de todos os detalhes sobre a questão que o rifou do cargo de diretor da Secretaria de Habitação do governo do Acre. Entre o discurso e a prática, porém, estende-se o abismo.


Na terça-feira, 21, Jamyl Asfury ajudou a enterrar a CPI da Sehab, proposta pelo deputado Gerlen Diniz (PP), que queria escarafunchar as traficâncias em que se meteram dois de seus antigos colaboradores. Estes, observe o leitor, remanescem do período em que Jamyl foi deputado estadual eleito pelo Democratas.


A boa vontade do cidadão – que se inclina a crer mais na conduta pastoral de Jamyl do que em suas habilidades como político – pode considerar que ele nada tem a ver com as fraudulências de dois de seus antigos homens de confiança. Já o observador atento não deixa passar que o discurso que pede investigação minuciosa é logo contraditado pela prática inversa.


Jamyl Asfury, que nestas eleições se prepara para lançar a mulher como candidata a vereadora da capital, deve explicações à sociedade quando resolve demarcar a retórica com as balizas das ações contrárias ao que diz.


Ou seria admissível que o pastor de tantas ovelhas pudesse pregar o Evangelho, ao mesmo tempo em que, no dia a dia, desrespeita os ensinamentos de Cristo?


E antes que algum defensor do deputado venha dizer que estamos a misturar coisas diferentes, que trate de lembrar que foi o próprio quem cingiu sua atuação na Igreja Batista do Bosque aos negócios que o enredam em uma trama pra lá de suspeita.


O jornalismo não cria fatos, ainda que a partir deles tenha a legítima prerrogativa de fazer ilações. A impertinência não está em cobrar dos homens públicos postura ilibada e alguma coerência, mas em cometê-las a despeito da vigilância do primeiro.


Para dizermos o mínimo, Jamyl Asfury tem a obrigação de penitenciar-se admitindo que suas palavras se tornaram vazias na medida em que se mostra disposto a impedir que uma CPI investigue fatos gravíssimos que lhe pesam sobre os ombros.


E precisa escolher de que lado quer ficar em sua biografia.


 


 


 


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