“O Brasil tem jeito, e o prefeito de Montes Claros, meu marido, Ruy Muniz, é um exemplo de gestão”, Deputada federal Raquel Muniz.
Ao declararem seus votos, quando da seção da Câmara dos Deputados que definiu a admissibilidade do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a grande maioria dos senhores deputados federais, salvo honrosas exceções, aproveitaram os exíguos dez segundos que lhes foram franqueados, e ao invés de se aterem aos assuntos pautados, os utilizaram para homenagear seus familiares, alguns dele ainda por nascer, seus deuses e tudo que lhes viessem à telha. Quanta desfaçatez!
Das tais pedaladas fiscais e dos tais decretos orçamentários, os crimes de responsabilidades que justificariam, ou não, o pedido de indiciamento da presidente Dilma Rousseff, tanto de um lado quanto do outro, raramente se ouviu algumas referências. Foi um fla-flu legislativo, no qual seus jogadores e suas respectivas torcidas foram orientados por dois únicos bordões: “impeachment-já” e “impeachment é golpe”.
Claro que impeachment não é golpe, até porque, se a nossa constituição o estabelece, sobre sua legalidade, não há o que se discutir. Ocorre que, para legitimá-lo, em primeiríssimo lugar, tanto os jogadores quanto os torcedores do impeachment-já, por nenhuma hipótese, poderão deixar de apoiar o futuro presidente Michel Temer, até porque, será o êxito de sua gestão, que irá conferir legitimidade ao próprio processo de impeachment que o levou ao poder.
Em síntese: os 367 deputados federais que votaram a favor de impeachment-já, assim como, a maioria dos senadores que por certo irão avalizá-los, jamais poderão negar seus apoios ao governo Michel Temer, em particular, quando ele propuser ao Congresso Nacional a aprovação das emendas constituições do inescapável e inadiável ajuste fiscal. Do contrário, o impeachment não terá valido à pena.
De mais a mais, lembramos: ao assumir o poder, diferentemente dos que contam com a soberania popular, o presidente Michel Temer não terá lua de mel e nem direito a errar. Particularmente, chego a apostar que, se não lhes negarem apoio, até que chegue às eleições de 2018, o presidente Michel Temer dará conta da missão que lhes será confiada, conquanto que, os deputados federais e senadores que votaram “sim” pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, votem “sim” as antipopulares reformas constitucionais que precisam ser aprovadas, do contrário, nossas crises só se aprofundarão, e o chavão “impeachment é golpe”, com certeza, irá recrudescer.
Votar a contra ou a favor do impeachment de um governante é uma coisa, e se responsabilizar pelo seu voto é outra coisa. Por exemplo: a deputada federal Raquel Muniz fundamentou o seu voto, dando como exemplo à honradez e a dignidade do seu esposo, Rui Muniz, enquanto gestor dos recursos públicos, este por sua vez, prefeito do município mineiro de Montes Claros, e na manhã do dia seguinte o seu esposo foi preso pela Polícia Federal, acusado de corrupção. E o que se dizer do deputado federal Jair Bolsonaro que dedicou o seu voto, “in memoriam” a um notório torturador?
Por fim: impeachment é um instrumento absolutamente legal, mas sua legitimidade precisa ser demonstrada.
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