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Paulinho: várias camisas e um destino: fazer gols e infernizar a vida dos zagueiros

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Manoel Façanha

Franzino e de baixa estatura, o menino Paulo Ayrton Rosas Rodrigues, o Paulinho, teve dificuldades para conseguir um clube dos chamados “federados” que topasse investir no seu futebol. Ele sempre jogou o fino da bola nas categorias infantis, pela Rodoviária, do professor Rivaldo Melo, e pelo Independente, do professor Joca, mas para jogar nos juvenis, muitos achavam que ele não tinha corpo.


Chaguinha e Paulinho com a camisa de juvenis do AC Juventus, em 1976. Acervo: Paulinho Rosas

Um dia, porém, em 1975, pouco depois de completar 16 anos (ele nasceu em 26 de janeiro de 1959), Paulinho foi visto batendo uma pelada pelos irmãos Maurício e Bulico Generoso. Oriundos da mesma cidade, Cruzeiro do Sul, os conterrâneos prontamente o convidaram para fazer um teste nas divisões de base do Juventus. Paulinho topou o desafio, foi aprovado e virou um dos maiores artilheiros do clube.


“Apesar do convite feito pelo Maurício e pelo Bulico, eu cheguei no Juventus praticamente só com a cara e a coragem. Eu não tinha, sequer, um par de chuteiras para treinar. Quem me socorreu, emprestando as chuteiras dele, foi o Carlitinho, que já era um dos titulares do time juvenil. Mas depois do teste tudo mudou de figura e a direção do Juventus me integrou imediatamente à equipe”, explicou Paulinho.


Três anos depois, em 1977, o técnico Aníbal Tinoco requisitou Paulinho para o time principal do Juventus. “Eu fui chamado para ocupar o lugar do Anísio, que havia se machucado. Mas depois que o Anísio voltou, o nosso técnico deu um jeito de encaixar nós dois no mesmo time. Aí o ataque passou a ser eu, o Anísio e o Julião. Era um ataque mortal, um inferno para os zagueiros adversários”, garantiu Paulinho.


Sete anos de artilharia no Juventus


Juventus – 1979. Em pé, da esquerda para a direita: Emilson, Neórico, Maurício, Mauro, Baiano e Normando.Agachados: Julião, Anísio, Paulinho, Carlinhos e Antônio da Loteca. O radialista é Raimundo Nonato (Pepino) – Acervo Francisco Dandão

Paulinho defendeu o Juventus até 1983. Tempo suficiente para se transformar no segundo maior artilheiro da história do chamado Clube da Águia. “De acordo com dados levantados por um antigo jornalista que torcia pelo Juventus, hoje falecido, o único jogador que fez mais gols do que eu com a camisa juventina foi o Nemetala. Embora esses dados não sejam oficiais, eu fiz muitos gols mesmo”, disse Paulinho.


Independência FC – 1985. Em pé, da esquerda para a direita: Paulo Roberto, Klowsbey, Jaime, Paulão, Erivaldo e Merica. Agachados: Isaac, Cardosinho, Carlinhos, Mariceudo e Paulinho – Acervo Francisco Dandão.

Em 1984, Paulinho recebeu uma boa proposta financeira do Independência e entendeu que estava na hora de mudar de ares. Se mandou para o Marinho Monte onde, em 1985, junto com craques do quilate de Carlinhos Bonamigo, Paulão, Jaime, Merica, Klowsbey, Paulo Roberto, Isaac, Cardosinho e Erivaldo, entre outros, ajudou o Tricolor de Aço a sair de um incômodo jejum de títulos que já durava dez anos.


Paulinho concedendo entrevista para um jornalista equatoriano. Acervo: Paulinho Rosas.

Depois de três temporadas defendendo as cores do Independência, sobreveio uma aventura internacional. Por iniciativa de um ex-atleta chamado Rosalvo, que havia jogado no Atlético Acreano e depois migrara para o Equador, Paulinho foi convidado a assinar contrato com o Esmeralda Petrolero, daquele país. A transferência, porém, não foi fácil, porque o Independência relutou para liberá-lo.


“Felizmente, o Emílson, que era um dos diretores do Tricolor, entendeu que ali poderia estar a minha grande chance para ganhar um bom dinheiro com o futebol e me liberou. Eu fiz um ótimo contrato. Fui ganhando oito mil dólares por mês, mais casa e comida. Lá eu fui vice-artilheiro do campeonato nacional. Só voltei para o Acre, no ano seguinte, porque a saudade da família falou mais alto”, contou Paulinho.


Fim de carreira precoce


Depois da aventura no Equador, Paulinho voltou para o Independência, onde mais uma vez sagrou-se campeão. Um título para a história, uma vez que fechou a era do amadorismo do futebol acreano. No ano seguinte, o primeiro do futebol profissional, o atacante migrou para o Rio Branco. Ficou duas temporadas no Estrelão. Daí, ele foi para o Atlético Acreano, em 1991, para ganhar mais um título.


O último clube na carreira do artilheiro Paulinho, que então estava com 33 anos, foi o modesto Andirá, em 1992. O Morcego da Cadeia Velha resolvera apostar em jogadores consagrados e montou um time onde sobressaíam, além de Paulinho, os craques Anderson, Kleber Café, Renísio e Jorge Luís Jacaré. “Era um time bom, mas não deu liga. Na verdade a gente só queria mesmo era se divertir”, afirmou Paulinho.


Andirá – 1992. Em pé, da direita para a esquerda: Kléber, Jair, Anderson, Boreira, Cid e Nilson. Agachados: Sola, Dida, Paulinho, Jorge Luiz e Renísio – Acervo Jorge Luiz.

Mas a arte de Paulinho não se resumiu apenas ao futebol de campo. Ele também brilhou no futebol de salão, esporte pelo qual defendeu os times do próprio Juventus, da Colonacre (empresa estatal onde o craque trabalhou durante algum tempo) e Contag (neste ele jogou futebol de campo e futebol de salão, inclusive em disputas nacionais). Em todos, com a mesma técnica e o mesmo faro de gol apurado.


Hoje, aos 56 anos, Paulinho ganha a vida como auditor-fiscal da Prefeitura de Rio Branco. Nas horas vagas entra em campo pelo time de masters da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). Joga até campeonatos regionais e nacionais da categoria. “O emprego quem me deu foi o ex-prefeito Adalberto Aragão. E a bola, essa eu não posso deixar jamais, é paixão mesmo pra toda vida”, finalizou Paulinho.


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