Para muitos o momento é de meditação e oração, já para outros o rito ecumênico não tem sequer fundamentação bíblica. A programação, que tem como objetivo central chamar os fiéis para a remissão dos pecados e festejar a ressurreição de Cristo, teve início em Roma, no século IV e foi instituída pela Igreja Católica no ano 325 (D.C) Depois de Cristo.
Uma pesquisa intitulada ‘Novo Mapa das Religiões’, publicado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2009, revelou de 45 a 54% da população acriana era composta por católicos (entre praticantes e não praticantes) e outros 36,64% evangélicos. Desse total, 24,18% pentecostais e outros 12,46% de diversas denominações evangélicas. Os índices representam uma estimativa de 90,64% da população dividida entre católicos e evangélicos.
A reportagem do ac24horas para conhecer um pouco mais sobre o significado da Semana Santa, buscou duas pessoas (católica e evangélica) para saber como vivem e praticam sua fé não somente na Semana Santa, mas no decorrer do ano.
Representando a igreja católica, entrevistamos a advogada Debora Maria Pinto Braidi, 43 anos, casada há 19 anos, mãe de três filhos e membro ativa juntamente com seu esposo, Cleber de Morais Moura, na Paróquia Imaculada Conceição. O casal coordena o Encontro de Casais com Cristo (ECC) em quatro Paróquias (Imaculada Conceição, São Miguel, Arcanjo e São Pedro Apostolo de Boca do Acre).
Ela é ministra da Eucaristia e participa da programação da Igreja Católica ao lado do marido que é ministro da palavra, juntos eles realizam pequenas celebrações, visitam os lares, enfermos. Os ministros, na igreja católica, são leigos, devidamente instruídos, que recebem a missão de levar a palavra de Deus.
Débora Braidi explica que a Semana Santa é o momento de recolhimento, onde o fiel católico tem como objetivo central tentar reviver o sofrimento e refletir sobre o sacrifício de Cristo.
“Na Semana Santa, vivemos o que chamamos de semana maior, que consiste em três momentos importantes: A missa dos Lavas pés (quinta); Procissão do Calvário (sexta); em seguida entramos num momento de recolhimento, que consiste na prática de oração, jejum, caridade e reflexão sobre o sacrifício de Cristo na cruz do Calvário. No sábado participamos da Vigília Pascal (missa com duração de aproximadamente duas horas). Na madrugada do domingo temos a Missa do Alvorecer, onde celebramos a Festa da Ressurreição, que representa o novo tempo para homens e mulheres”.
Advogada ressalta que mudanças requerem maior aproximação de Deus
De família católica, Débora relembra que vivenciou muitos dos costumes antigos, mas com o passar dos anos se foi perdendo alguns deles, mas permanece ainda a abstenção a carne vermelha. Ela explica que não se trata de punição e, sim, de sacrifício em se abster de algo que se gosta ou faz corriqueiramente.
“Desde quinta-feira estamos sem comer carne. Mas o melhor é quando o sacrifício vem do coração, da inciativa em substituir esse sacrifício por boas obras, como por exemplo, visitar aos doentes e praticar a caridade. Acredito que o ato de doar aos necessitados nós aproxima de Deus, quando se doa, se encontra a Cristo no outro! Isso traz mudança interior, muda o rumo da nossa vida, faz nascer de novo, isso é que precisamos: viver de novo. Deixar de cometer os mesmo erros”.
A advogada ressalta a importância da constância na pratica da oração e relata que a cada ano busca apresentar a Deus um propósito para que haja mudança interior.
“Busco essas práticas ao longo do ano, não somente nesse período. Recomendo à todos que façam o mesmo para que possam ter uma interação maior com Deus. Anualmente, quando entramos no período da quaresma apresento um propósito a Deus para mudar algo em mim. Eu era uma pessoa que tinha muita dificuldade de relacionamento em casa, com minha família e esposo. Era raivosa, vivia de cara amarrada. Eu me sentia mal com certas atitudes e pedi para que Deus mudasse. Posso falar que Deus atendeu minhas orações, Ele foi me transformando e hoje tenho outro comportamento. Para 2015, estou pedindo mais compreensão, calma e paciência com os meus e com o próximo”, conta.
O Evangélico e a Semana Santa
Representando a comunidade evangélica, a reportagem entrevistou o pastor presidente da Assembléia de Deus Ministério Madureira (campus São Mateus-SP), Isac Mendes, 48 anos, casado há 22 anos, pai de três filhos. Natural de Governador Valadares (MG). Ele conta que nasceu em berço evangélico e mantém a fé há 31 anos e há 15 anos reside no Acre, onde presidente o ministério no Estado.
Ao falar sobre a Semana Santa, Isac Mendes é categórico ao afirmar que do ponto de vista bíblico a festividade não possui qualquer fundamento. Ciente do fator cultural, o pastor pondera ao relatar que muitos evangélicos aderem aos costumes, como por exemplo, o consumo de peixe na Semana Santa.
“Reconheço que algumas denominações evangélicas seguem a recomendação de não comer carne vermelha, como penitência. A restrição ao consumo de carne vermelha em substituição, à época, pelo Bacalhau, assim como o consumo de ovos de páscoa escondem interesses comerciais e, com o passar dos anos, acabou se tornando tradição. Até hoje tem ainda por trás disso toda uma questão cultural, mas é importante destacar que o que existe é uma festa, uma tradição puramente e exclusiva da Igreja Apostólica Romana. A igreja protestante não segue esse calendário instituído pela igreja católica que cultua a morte de Jesus, expressada por tristeza, luto e festa da ressurreição. A bíblia não diz nada sobre isso. Nos evangélicos não seguimos essa linha, que consiste em doutrina dos homens, tampouco, na bíblia ampara ou ensina qualquer restrição a algo. Por isso, o evangélico não comete pecado ao ingerir carne vermelha, pois não há qualquer recomendação bíblica”.
Para fundamentar o que diz, o pastor cita a passagem bíblica de Colossenses 2. 16. “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”. Segundo o pastor, as práticas durante a Semana Santa não traz benefício espiritual, pois para obtenção do mesmo é necessário a pratica da oração, jejum e caridade todos dos dias.
“Tudo isso são ordenanças segundo preceitos e doutrinas do homem, todavia não tem valor algum. Trata-se meramente de um bem estar carnal, pois a maioria deles (católicos) só fazem isso na Semana Santa, nos demais dias do ano seguem sem reverência a Deus e voltam as velhas práticas. Devemos buscar uma vida de piedade, santidade e busca a Deus todos os dias. Não devemos observar a dias, mas, sim, tornar isso diário. O evangelho consiste na prática com obediência e temor a Deus”, explica o pastor.
Para encerrar, Isaac Mendes deixa outro versículo bíblico: Mateus 15: 7, onde Jesus diz: “Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo:
Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens”.
A origem da Semana Santa
Segundo relatos históricos, a origem da Semana Santa foi estabelecida, em Roma, no século IV e recebia o nome de Hebdomada paschalis (semana pascal). No ano de 325 depois de Cristo, o Concílio de Niceia, presidido pelo Imperador Constantino e organizado pelo Papa Silvestre I, instituíram a doutrina da Igreja Católica e entre outras, estabeleceram as datas religiosas que até hoje integram o calendário cristão, incluindo a Semana Santa, que tem início oficialmente 40 dias após a quarta-feira de Cinzas (término da festa da carne – Carnaval). Esse período é conhecido também como quaresma que representa os 40 dias que Cristo passou no deserto sem comer ou beber, resistindo às tentações.
Segundo a doutrina católica, cada dia da Semana Santa representa os últimos dias que antecederam a morte e ressurreição de cristo. O Domingo de Ramos representa à entrada do Rei, o Messias, na cidade de Jerusalém. Na segunda-feira foi o dia em que Maria ungiu Cristo; na terça-feira dia em que a figueira foi amaldiçoada; a quarta-feira é conhecida como o dia das trevas; a quinta-feira foi a última ceia com seus apóstolos, mais conhecida como Sêder de Pessach.
A sexta-feira foi o dia do seu sofrimento, sua crucificação. Sábado é conhecido como o dia da oração e do jejum, onde os cristãos choram pela morte de Jesus. E, finalmente, o domingo de páscoa, o dia em que Jesus Cristo venceu a morte, por meio da ressurreição.
Costumes e tradição católica
Nos tempos de nossos avós era comum na Semana Santa as famílias entrarem num processo de penitência ‘rigoroso’. Os mais antigos (nossos pais, avós e outros) adotavam além do jejum, (no máximo duas refeições por dia) com objetivo de purificação dos pecados, também outros ritos. Na sexta-feira da Paixão era terminantemente proibido comer carne vermelha, como forma de penitência e também era proibido tomar banho, o objetivo era obter um tom de pele cinza semelhante a cor do barro, do qual o homem, segundo relato bíblico, foi feito.
Além disso, outros costumes eram adotados pela população que acabou passando de geração em geração, como por exemplo, a orientação de não varrer casa durante a Semana Santa, a fim de promover o ócio e, com isso, refletir sobre o sacrifício de Cristo, por meio de oração e jejum.
Muitos faziam, inclusive, votos de silêncio, evitavam comportamentos ‘mundanos’, não falavam palavrões e pensamentos ou atitudes fora do padrão moral. Na noite de sexta para sábado era muito comum o roubo de galinhas em simbologia a traição de Judas, que traiu Jesus por uma saco de moedas. No sábado de Aleluia era o dia de refletir sobre a traição do apóstolo.
Mas com o passar dos anos, os costumes foram ficando para trás. Em 1983, houve a promulgação de novo código de Direito Canônico (1251), que trata, por exemplo, da abstinência de carne vermelha: a rigor todo fiel católico poderia, a partir daquele Decreto, substituir a penitência por uma obra de caridade, um ato de piedade ou ainda trocar a carne vermelha por outro alimento.
Acre lidera entre os estados com maior número de evangélicos, mas católicos são maioria
Segundo o Novo Mapa das Religiões, publicado pela Fundação Getúlio Vargas, o Brasil é o país com o maior contingente de católicos. Em 2000, pesquisas publicadas no estudo revelavam que 73,89% dos brasileiros se intitulavam católicos, já em 2009, esse número caiu para 68,43%.
No Acre, no mesmo período (2009), entre 45 a 54% da população afirmavam ser católicos (entre praticantes e não praticantes) e outros 36,64% afirmaram serem evangélicos. Desse total, 24,18% pentecostais e outros 12,46% de diversas denominações evangélicas. O índice assegura ao Acre o 1º lugar no ranking nacional dos Estado com maior porcentagem da população evangélica.