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Indios dizem que asfaltamento da BR-364 causou aumento da violência nas aldeias

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A BR-364 é uma importante rodovia do Brasil que liga a capital do estado do Acre a Cruzeiro do Sul, passando Pelos municípios de Sena Madureira, Manoel Urbano, Feijó e Tarauacá, com cerca de 648 km de via terrestre, mas sua construção gerou uma série de conflitos que vão além da esfera política e econômica. Na visão ambiental, os impactos que um empreendimento deste porte podem ocasionar são inúmeros, tanto à floresta quanto as comunidades que nela e dela vivem.


A exemplo destes impactos, a Terra Indígena dos Katukina do rio Campinas foi diretamente atingida. A aldeia é cortada em toda sua extensão leste-oeste pela BR-364. Nesta TI distribuem-se cinco aldeias: Campinas, Varinawa, Samaúma, Masheya e Bananeira. Este povo teve seu modo de vida impactado e vem enfrentando mudanças ocasionadas pós-asfaltamento, como também aproveitado os benefícios gerados.



Próximo dos Katukinas, no munícipio de Feijó, residem os Kashinawa , embora boa parte deles vivam às margens do Rio Envira, e não da estrada, este povo também tem sentido as mudanças e buscado compreender e adaptar-se a elas.


Diante desta problemática o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, IPAM, sob coordenação da pesquisadora Elsa Mendoza, realizou nos municípios de Cruzeiro do Sul e Feijó, o Diagnóstico dos Impactos da Pavimentação da BR-364, para identificar as mudanças nos fatores sociopolíticos, econômicos e ambientais pós-pavimentação da estrada, a partir da percepção dos povos indígenas.


O diagnóstico propõe o reconhecimento territorial para identificação dos benefícios, problemas e soluções ocasionados pelo asfaltamento da estrada, onde os povos tradicionais das aldeias Katukina, Campinas, Varinawa, Samaúma, Masheya, Bananeira, Morada Nova, Paredão, Cardoso e outros, participaram fazendo os apontamentos.


Mudanças ocasionadas pelo asfaltamento da BR-364:


Segundo o Cacique geral do povo Nupikuin, Fernando Katukina, o diagnóstico realizado foi de grande importância para o seu povo.


“Nós colocamos aqui o nosso ponto de vista, contando com a vivencia nossa aqui nessa terra, falamos dos muitos problemas de cultura, educação, meio ambiente e outros. Também falamos das coisas boas que vieram, como a saúde indígena. Hoje colocamos nossas impressões ruins e boas, e nossa expectativa de futuro, como ajudar nosso povo que é de aproximadamente 845 pessoas divididas em 5 aldeias, com 5 lideranças. Esse diagnóstico foi muito importante por ter tido a participação da comunidade, não foram só as lideranças que se fizeram presente”. Ressalta o Cacique.



Sobre a estrada que corta a Terra Indígena o líder indígena enfatiza os benefícios e impactos sofridos pelo seu povo. “Nós temos sofrido muito com os impactos ambientais, mas não podemos deixar de ver as coisas boas que a estrada trouxe como escoamento de nossa produção, a comunicação, energia elétrica, equipamentos tecnológicos. O lado ruim desta construção trouxe aumento da violência, invasões da TI, falta de caça e pesca, diminuição do valor da nossa cultura e prática dela, ou seja muitos problemas para o povo Nupikuim, o que me parece algo que teremos que trabalhar e compreender por que estamos vivenciado isso. Hoje estamos avaliando essas situações para saber como nos defender e como trazer benefícios para nossos irmãos queridos aqui da terra indígena”.


Histórico do trabalho de diagnóstico dos impactos da Pavimentação na Amazônia


O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Ipam, vem realizando este trabalho desde 2002, quando fez o Diagnóstico do Uso da Terra Associado aos Impactos da Pavimentação da Interoceânica através de uma expedição nesta estrada realizada pelos pesquisadores do Instituto (Daniel Nepstad, Ane Alencar, Elsa Mendoza, Foster Brown, Maria del Carmen Dias). Já em 2004, o trabalho se concretiza através do primeiro diagnóstico realizado na região MAP, (Madre de Dios – Perú, Acre – Brasil e Pando – Bolívia), período que antecedeu a construção da interoceânica.


O diagnóstico tem um importante papel de subsidiar políticas governamentais, que deverão ser usadas no intuito de minimizar os impactos negativos decorrentes do asfaltamento e maximizar seus benefícios.


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