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Anjos e Demônios

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NA MERCEARIA EM UM BAIRRO QUALQUER DA CIDADE


– Seu chiquim, tem pão?

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-Tem sim. Tua filha tá bem? Nunca mais apareceu. Fala pra ela que ela ta devendo 90 reais…  já tá com dois meses. Assim me quebra, compadre. Vou mais vender fiado pra ela não.  Se eu continuar desse jeito, vou vender bombom na feira ou “pastorar” carro na Catedral.


-Ela tá desempregada… tá procurando emprego. Ela vai te pagar. Um pouco de paciência, seu chiquim.


– Paciência? Nos meus problemas ninguém pensa.


Não posso pensar nos dela. Se não pagar a conta nessa semana, não vendo mais… vá procurar outro canto pra comprar sem pagar.


Chega outro cliente


– Tem manteiga?


– Lá no fundo. Três reais.


– Onde? Não to achando. Perto do sabão?


– Tá cego é? Uns olhos desse tamanho não consegue ver “as coisa”. Olhudo.  Eu com esses olhos eu via um mucuim de noite dormindo lá em Porto Velho, na balsa do rio Madeira. Não pisca forte não, se não vai rachar a parede aqui da mercearia.


– Três reais nesse potinho? Essa manteiga só dá “prum” pão. Tá roubando forte hein seu chiquim! Deus me livre! Que pressa é essa pra enricar tão rápido? Tu vai queimar no inferno. Se aproveita que só tem o senhor aqui perto pra meter a faca na gente. Tudo custa o olho da cara. O Caladinho ainda será um bairro grande e bonito.


– Bom, se for os olhos da tua cara, só os preços dos produtos de todas as fábricas dos Estados Unidos pra custar igual… e olhe lá. Se não quiser comprar, não compra. Num gosto de conversar com liso não. Se não levar, deixa do jeito que tava.


– Ainda quer que eu limpe o quintal?


– Ah! Sim, sim. Vai fim de semana. Tem um negocio lá. A mulher tá fazendo aniversário. Leva a tua.

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-Beleza! Tô lá.


Outro cliente


-Seu chiquim, tem sandália? Meu cachorro rasgou a minha toda. Aquele pirento!


– Aqui do lado da conserva tem.


– Tem numero maior? Só achei 41, queria um maior. Essa ficou apertada.


– Também com um pé desse! Haja borracha pra fazer sandália! Me conta, quantos dias o cachorro passou pra rasgar essa sandália. Vamos colocar no jornal, pois até onde eu sabia, eles não vivem mais que vinte anos. Pra fazer um trabalho desse, o teu deve ter passado uns cem.


– E pro senhor, já acharam material pra fazer um chapéu? Por isso que essa “birimboca” não tem muita mercadoria. Fica faltando as coisas. Essa cabeçona ocupa quase todo o espaço do estabelecimento.


-Seu pesão! Em Manaus tem umas balsas boas. Quem sabe não tenha uma pra esse teu pé. Dois passos com essas pranchas tu chega lá.


– Mas olha esse cabeção! Tomara que o senhor não tenha piolho. Tenho uns sobrinhos lá no Km 125 da BR. Com toda essa cabeça, o senhor pode passar pra eles daqui mesmo. Só basta da uma sacudida de leve.


– Fresco! Vai lá em casa domingo! Vou fazer um churrasco. Leva aquele teu amigo que toca as antigas do Marazona.


– Beleza! Tô lá. Vou procurar um canto que tenha meu número de sandália.


-Vai precisar de um avião supersônico. Vai ter que rodar o mundo. Pensa que é fácil?


– Vai se f…. Falou!


-Falou!


NA LOJA QUE VENDE CELULAR


-Bom dia! Em que posso ajudar?


– Bom dia. O celular de minha esposa caiu numa poça d’água… acho que não presta mais não…o visor tá ceguinho. Quero fazer uma surpresa, ela vai gostar.


– Nossa que azar… sinto muito… é uma pena. Parabéns pelo ato. São essas coisas que mantem firme um casamento. Esses valores tão se perdendo. Mulheres gostam de surpresas. Por isso há tanta separação. Os homens não são mais carinhosos.


Quer dar uma olhada nos novos modelos? A Loja tá com uma super promoção de lançamento. Temos os melhores preços para o senhor. Ela vai adorar!


– Vamos lá!


– Senhor, esses chegaram ontem. “Tá” o maior sucesso. É o sonho de qualquer mulher.


– Achei feio…quanto custa? Ah tá aqui o preço… nossa  500 reais tá caro.


– Se preferir, temos outros modelos com preços que possam combinar com seu orçamento. Aqui nessa vitrine tem uns muito bonitos. O senhor vai adorar. Também temos ótimas facilidades de pagamento ,senhor. Queremos sempre levá-lo a fazer um bom negócio.


– Não gostei. Vou dar mais uma volta. Se não achar o que quero, venho aqui contigo? É comissão?


– É sim senhor, mas mesmo que eu não esteja, dá um pulinho aqui com a gente. A Loja terá o maior prazer de ter um cliente como o senhor. Estamos aqui sempre para servir. Espero que encontre o celular. Se não encontrar, passa aqui. O senhor não pode fazer uma desfeita dessa pra sua esposa. Não é mesmo? Tenha um excelente dia.


– Obrigado! Você é muito gentil!


Outro cliente


– Aqui vende óculos?


– Não senhor …  não temos. Mas o senhor pode encontrar na segunda rua a direita. Lá há uma ótica. Quer que eu o acompanhe até lá?


– Não obrigado. Grato pela gentileza.


DE NOITE EM CASA


– Chiquim, perdi o ônibus, cheguei tarde, não deu tempo de fazer a janta. Espera um pouco pra “mim” preparar alguma coisa?


– Relaxa minha velha! Vamos lá na esquina. O Babá ta fazendo um churrasquinho muito bom. Vamos dá uma variada hoje. Todo dia você faz comida. Cansa né. Vamos lá!


– Depois vamos tomar uma geladinha? Seria bom.


– Opa! Bem lembrado, segunda feira….ótima idéia… boa ocasião, bom motivo pra melar o bico.


– Depois… a  gente conversa melhor.


– Safado! Quero ver se vai dá conta.


– Duvida é?


– Não, não…  te conheço bem.


-Vamos !


– Vamos.


DE NOITE TAMBÉM EM CASA


-Novaes, o gás acabou, eu tentei te ligar, mas teu celular não atendeu. Imaginei que você estivesse ocupado com algum cliente. Estamos sem janta. Não quer ir comprar a botija não?


– Porra, é uma merda mesmo. Por que não me ligou? Chego em casa morrendo de fome. Passo o dia todinho em pé e quando chego, ouço uma notícia dessa! Que merda! Era pra ter me ligado, sua anta de batom. Já não me basta o que passo… ainda tenho de aturar uma lerda aqui em casa.


-Mas eu tentei. Teu telefone que não atendeu. Olha aqui! Doze ligações. Eu não tenho dinheiro! Você não me deixa trabalhar. Compra lá o gás que eu faço rapidinho. Não se estressa não.


– Cala a boca sua matraca! Fica calada sua burra! Vai pra…que pariu, sua lerda. Vou comer fora hoje. Amanhã eu compro o gás. Se quiser jantar, faz assado de água. Come qualquer coisa aí se tiver. Gente preguiçosa tem que comer é bolacha seca.


– Vai chegar cedo?


– É detetive agora? Agora eu vi! Por que quer saber? Sou “de maior”! A hora que saio, a hora que chego não te interessa. Vai cuidar da tua vida. Cada coisa!  Bem que a mãe dizia. Anta preguiçosa.


– Já vai?


– Vou… eu vou.


Por FRANCISCO RODRIGUESf-r-p@bol.com.br


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