Categories: Crônicas de um Francisco

Sexo na adolescência

Por
Roberto Vaz

Estudei parte de minha infância em uma escola no centro da cidade. Chamá-la-ei de ETCA, pois me recuso o nome oficial. Prefiro esse apodo, siglas, união de consoantes e vogais, ao de um presidente linha dura que fazia do Brasil um grande Maracanã.


Tenho saudades daquela escola. De todos que lá conheci. Do final do ano letivo, quando com a farda toda pintada, autografada e rasgada, vibrávamos em melar alguns dos nossos com ovos e maisena. Nossa! Era uma espécie de alegria e melancolia.


Tenho saudades do “Seu Bené” e seus picolés, vendendo-os na linguagem universal, o dinheiro. A diretora Eumira, com sua voz de cantor de opera italiano, buscando a ordem e a disciplina. A professora Esmelina que me fez amar a língua portuguesa e as canções de Chico Buarque. A professora Artemisa que me levou à formação em História. O professor Rivaldo de matemática, que me tirava da sala por não ter feito a “atividade para casa”. A paciência do professor João Lima em nos ensinar “Desenho Geométrico” (Quem tem menos de trinta e cinco anos pode nem imaginar o que é isso). Em fim, são muitos que em palavras posso esquecer, mas que fizeram parte de minha vida.


Saudades! Muitas saudades! Saudades mesmo. Jamais me esquecerei de vocês, meus amigos. Jamais me esquecerei dos senhores, meus mestres. Jamais me esquecerei do que vivi.


Estudar no coração político da capital nos forneceu alguns privilégios. Acho que isso me pôs mais próximo de muita coisa relevante que ocorria no estado. Naquela época, escolas localizadas nos bairros mais abastados do centro da capital não tinham tanto acesso às informações esporádicas dos burburinhos políticos, que aqui existe desde a época em que Manoel Urbano passou por aqui.


Tínhamos a Câmara Municipal à nossa frente, o badalado Banacre ao nosso lado, a Secretaria de Educação um pouco adiante e o Palácio e a Assembleia em seguida. Eram muitos convites para vivenciarmos o que havia de agitação, protestos e manifestações, embora nossos pontos de encontro ao sairmos da escola eram, geralmente, apreciar na Galeria Meta o que não podíamos comprar; bem como mendigar a quadra esportiva do Banco Real, Polícia Federal, Banco Itaú ou a da PM. Nesta, sempre conseguíamos quando um senhor gentil e muito simpático, “Seu Major Loriato”, permitia-nos o desporto.


Do Banacre não gostávamos, local de barulho, greves, sindicalistas repisando o termo “companheiros” quinze milhões de vezes em seus discursos, quase prestes a morrer da garganta (hoje, muitos deles alojados em algum “importante” cargo devem gritar apenas no trânsito, na hora do gol, com o cachorro ou com os empregados) e filas. Nossa! Quantas filas. Não havia ainda as disposições de pagamentos que temos hoje fora dos bancos. Eram horas e horas para pagar o mais pequeno valor.


Sociedade pré-código de barras.


Na Câmara, vivíamos a implorar que alguns dos nossos vereadores nos contemplassem com um “completo” para o time de futebol da escola. Tudo em vão. Nunca fomos satisfeitos em nossa causa de pedir. Oh povinho muquirana aquele! Talvez pela idade, não vissem sentido no presente. Caixa d’água, dentadura, remédio, milheiro de tijolo, ordem de emprego, eram pólvoras para serem queimadas com quem garantisse o “voto de confiança”.


No pátio do Palácio e da Assembleia, ali em frente ao saudoso Cine Rio Branco com suas sessões de Kung Fu domingo à tarde, era onde ocorriam as maiores manifestações que pude presenciar.


Vi gente, que hoje se esconde em condomínios de luxos, convocando a todos os presentes a invadirem o palácio. Vi gente, que hoje chama a oposição de irresponsável, clamando para que tocassem fogo na Secretaria de Educação. Alguns outros gritando diziam que a solução definitiva era pegar em armar, destruir a burguesia da praça da bandeira e, assim, instalar a “ditadura do proletariado”. A ideia de um banho se sangue servia como urso de pelúcia para os “meninos” da esquerda.


Não os reprovo por mero capricho. Eram realmente trogloditas intelectuais. Filhos tortos de Stalin, viúvas de um marxismo canhoto. Não sabiam nem por que o dólar subia.


Para muitos que nos viam nas praças, assistindo aos comícios, depoimentos, explanações e reclames, e que diziam que éramos o futuro do país, motivando-nos a tomar fileira nessa luta gremista e amadora, diríamos apenas uma coisa. Sim! Podemos dizer com toda segurança que vocês, pelo que fazem hoje, foram o pior passado que tivemos.


No Alasca uma tribo nativa chamada Kutchin nos faz refletir. Lá quando as pessoas não se consideravam mais uteis, sentindo-se um peso para a sociedade, pediam para serem mortas. Não precisa tanto. Extremos não fazem bem aos seres humanos. Vivam! Gozem boa saúde e desfrutem essa benção de Deus. Porque aqui seremos nós que perceberemos o fardo que são e a pouca utilidade que vocês têm para o Acre.


Não sentiremos saudades de vocês!


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Roberto Vaz

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