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Comissão da Amazônia discute problemas de estudantes brasileiros na Bolívia

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A comitiva de parlamentares da Comissão da Amazônia que visitou as cidades de Santa Cruz de La Sierra e Cochabamba, ambas na Bolívia, e que abrigam milhares de estudantes brasileiros, principalmente nos cursos de medicina, mostrou-se surpresa com o que viu: faculdades estruturadas para as necessidades e uma preocupação com a formação de seus alunos para ingressarem no Mercosul. Viram também que, em qualquer lugar, inclusive no Brasil, existem exceções e faculdades sem a mínima estrutura que tentam vender sua grade curricular como boa. Os dois maiores problemas que os estudantes brasileiros enfrentam na Bolívia são a saudade da família e a falta de um apoio maior das autoridades brasileiras.


A delegação parlamentar formada pelos deputados federais Gladson Cameli, Presidente da Comissão da Amazônia (PP-AC), Raul Lima, vice-presidente da comissão (PSD-RR), Magda Mofatto (PDT-GO), Marcos Rogério (PDT-RO) e o vereador Alisson Bestene (PP-Rio Branco), acompanhada da Diplomata Lara Lobo e do Tenente Coronel da Força Aérea Marcelo Mendonça, teve como ponto inicial a cidade de Santa Cruz de La Sierra. Na tarde de quinta-feira, 24, foram recebidos na Universidade Privada Franz Tamayo, a mais nova das faculdades bolivianas voltadas para esse público internacional, e prova que o mercado está crescendo a cada dia.

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Abel Agreda, arquiteto chileno, presidente da Unifranz, depois de mostrar as instalações à delegação, salientou que a maior preocupação do momento é a “acreditação em mercosul”, o equivalente à validação do diploma no Brasil, que tornará seus alunos e os das outras faculdades que forem “acreditadas”, aptos a exercerem a profissão em todo o Mercosul, menos no Brasil, por enquanto por causa da questão da revalidação dos diplomas.


Na segunda faculdade visitada, a Universidade de Aquino – Udabol, a recepção inicial foi feita por alguns alunos exaltados que exigiam uma posição das autoridades brasileiras com relação ao órgão de imigração boliviana que estaria dificultando a vida dos estudantes, no tocante ao visto de saída para passarem as férias no Brasil. Logo depois o vice reitor Erick Chávez apresentou as instalações da universidade à delegação.


No início da noite, já no Consulado Brasileiro em Santa Cruz, uma reunião com estudantes representantes das universidades, Ecológica, Ucebol, Unifranz, Udabol e Católica, foi traçado um perfil da situação dos estudantes e as principais reinvindicações que farão parte do relatório da comitiva parlamentar, e que será mostrado mais à frente nessa reportagem.



Cochabamba


Já na manhã de sexta-feira (25), a comitiva se deslocou para a cidade de Cochabamba, considerada a segunda cidade universitária do País e, devido à exiguidade do tempo, já que o retorno para o Brasil seria na tarde do mesmo dia, foi feita uma reunião no auditório da maior universidade daquela cidade, a Universidade Privada del Valle – Univalle, onde as reclamações, sugestões e saudades foram as mesmas.


Problemas e Soluções


Em um pré-relatório, o presidente da Comissão da Amazônia, Gladson Cameli, ressaltou vários aspectos para serem debatidos com as autoridades brasileiras e com o cônsul boliviano no Brasil, no sentido de tentarem melhorar esses pontos negativos na vida acadêmica dos brasileiros naquele país.


Em todas as reuniões, o que Gladson e os demais parlamentares detectaram como ponto primordial para os estudantes que estudam na Bolívia é um tratamento igualitário com relação às provas para revalidação dos seus diplomas.


Rafael Oliver e Mary Andrade, representantes dos estudantes, pediram a Gladson que intercedesse junto ao Ministério da Educação para que as provas sejam feitas voltadas para a formação geral da medicina e não para especialistas como está sendo feito. Mary relatou que até mesmo especialistas brasileiros que tentaram fazer a prova se deram mal, devido ao excesso na complexidade dos temas abordados.

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Rafael Oliver, mais conhecido como “tererê”, também salientou a grande contribuição financeira que estão dando à Bolívia. Segundo ele, são cerca de 5 milhões de dólares por mês que são gastos somente em Santa Cruz, pelos cerca de 10 mil estudantes brasileiros. Isso deveria – segundo ele – ser um motivo para um melhor tratamento das autoridades bolivianas. A queixa é que a documentação exigida para as diversas necessidades, além de cara, muda a cada semana ou humor das autoridades de lá.


Um ponto que ficou acertado entre os estudantes e o Cônsul brasileiro em Cochabamba, Fernando Vidal, é que o consulado se fará mais presente na vida acadêmica, com visitas periódicas às universidades. A proposta foi batizada com o nome de “consulado itinerante” e foi bem aceita entre as partes.


Internato


Outro ponto anotado por Gladson Cameli e que o vereador Alisson Bestene também vai assumir como bandeira, é a possibilidade de internação dos estudantes em hospitais brasileiros. A internação do curso de medicina boliviano é o equivalente ao sexto ano de medicina no Brasil, onde os estudantes tem que fazer um rodízio nas diversas especialidades, sob supervisão para serem aprovados. Os hospitais bolivianos, por decreto de Evo Morales não aceitam mais os estudantes das universidades privadas para esse “internato”.


Para Gladson  e Alisson, a sugestão do estudante Marcos Vinícius, de Cochabamba, é altamente viável e já está sendo discutida no Estado do Pernambuco. Governos estaduais e até os municipais poderiam absorver esses estudantes como voluntários para seus hospitais, pelo período de um ano sob supervisão do CRM. Terminado o internato e sendo aprovados, receberiam um atestado para apresentarem nas faculdades bolivianas para o recebimento dos diplomas e isso serviria também como bônus para a revalidação dos diplomas, já que demonstraram aptidão profissional.


No caso da Univalle, o estudante só recebe o certificado depois de cumprir um ano de serviços sociais no hospital da própria faculdade, e atendimento às áreas carentes do distrito, nas diversas especialidades. A Univalle é a única que não enfrenta o problema do internato por possuir hospital próprio.


Na opinião de Cameli e Bestene, o sistema da Bolívia é ainda mais rígido que o brasileiro, já que o aluno não recebe seu certificado se não houver cumprido esse ano nas diversas especialidades, e, principalmente, em trabalho social.



Revalidação


Sobre o processo de revalidação dos diplomas pelo Brasil, Gladson Cameli levou aos estudantes a notícia de que o Ministério da Educação estará lançando nos próximos dias o novo Programa Revalida. A diferença para o atual é que as provas serão unificadas e as datas de provas divulgadas com antecedência. Serão feitas duas provas no ano e a grade curricular que vai ser cobrada no exame será especificada.


Gladson disse ainda que fará gestões junto ao Ministério da Educação para que o nível das provas seja para clínicos gerais e não o de especialistas, como vem sendo feito, segundo reclamação dos estudantes.


Gladson disse uma frase que sempre costuma usar com estudantes, que em todos os locais do mundo, uma boa capacitação depende 80 por cento do próprio estudante. No caso das universidades visitadas na Bolívia, ele disse que os outros 20 por cento estão sendo muito bem oferecidos, pois a estrutura apresentada supera a grande maioria das universidades brasileiras. Quem vai lá pra comprar notas, está se enganando e enganando a seus pais, mas quem vai para se preparar para o futuro, tem condições para isso.


O presidente da Comissão da Amazônia voltou a afirmar que existem, sim, universidades ruins e péssimas na Bolívia, como em qualquer outro canto do mundo, e fez um apelo aos pais que pretendem mandar seus filhos para estudar na Bolívia: que vão lá para verem de perto as condições de ensino, a estrutura física e até mesmo a vida social de seus filhos, pois a solidão muitas vezes empurra o jovem para caminhos errados.


Um bom exemplo de estrutura para o aprendizado, vista pelos parlamentares, foi a da Universidade do Valle, que possui laboratórios complexos para suas faculdades, onde até mesmo uma pequena destilaria de petróleo foi construída para os experimentos.


Gladson disse que vai continuar na luta pela melhoria da qualidade de vida dos estudantes brasileiros na Bolívia e que no próximo ano, quando reiniciar o período letivo, ele e o vereador Alisson Bestene deverão formar uma comitiva do Acre para visitar as faculdades da fronteira.


Gladson Cameli agradeceu a participação dos membros da Comissão da Amazônia na comitiva e, em especial, todo o apoio do Itamaraty, da Força Aérea Brasileira que além de ceder a aeronave para a viagem colocou o Tenente Coronel Mendonça à disposição da comitiva e ainda o Cônsul Fernando, de Cochabamba e Roberto Vecchio, vice-cônsul em Santa Cruz de La Sierra.


Alysson Bestene destaca compromisso com os estudantes


O vereador Alysson Bestene, do PP, também esteve presente na comitiva da Comissão da Amazônia, e disse durante a viagem que a iniciativa de representantes do Congresso Nacional, do Ministério da Justiça e do Ministério da Educação em visitar os estudantes brasileiros foi mais do que necessária haja vistas a importância de conhecer de perto a realidade em que vivem os brasileiros em terras bolivianas e sua batalha pela conquista de um diploma de medicina.


Alysson, que é dentista, se surpreendeu com a garra e o compromisso por parte dos brasileiros e das autoridades bolivianas em formar profissionais qualificados e compromissados com a vida, mesmo que para isso tenham que vencer os mais diversos obstáculos.


Segundo ele, o Acre e o Brasil precisam desses estudantes formados devido a alta carência de profissionais na área de medicina, principalmente no setor público.


“Existem várias questões burocráticas que prejudicam esses alunos. Eles precisam da nossa atenção e do nosso apoio, por isso mesmo estaremos mais unidos para trabalhar pela solução de problemas que surgem ou porventura surgirão ao longo dessa caminhada. A viagem que fizemos foi muito positiva e certamente mudará para melhor a situação dos nossos estudantes na Bolívia”, disse Bestene.


David Casseb – Santa Cruz e Cochabamba


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