A pluviosidade da madrugada deste domingo (27) com 118 milímetros de chuva em menos de três horas foi à maior dos últimos cinco anos e a mais devastadora já registrada na capital do Acre, Rio Branco, neste ano de 2011. Aproximadamente 250 famílias do bairro Boa União, na Baixada da Sobral, foram direta ou indiretamente atingidas pela alagação provocada por uma sucessão de fatores, que vai do acúmulo de lixo em bueiros à quantidade exorbitante da precipitação das águas, os números foram informados pelo técnico da Defesa Civil de Rio Branco, George Carlos.
O agente penitenciário Atila Cruz da Costa conta que perdeu “tudo que foi construindo em 15 anos de trabalho” com as águas fétidas que invadiram a sua casa. O bueiro entupido pelo lixo que continha até uma geladeira velha, fica nas proximidades do quintal da residência do servidor público, pai de dois filhos, Atila da Costa, afirma que na sexta-feira (25) – último dia útil antes da alagação – foi até a prefeitura de Rio Branco com fotografias do bueiro para que providências fossem tomadas com a urgência necessária a evitar desastres. “Estava temendo que algo pudesse acontecer, eles foram alertados inúmeras vezes, mas não fizeram nada. Vou acionar a prefeitura na Justiça”, disse.
Moradora da Rua 25 de Fevereiro, a técnica de enfermagem Geisiane Oliveira Gonçalves, que perdeu móveis e eletrodomésticos como camas, colchões, armários, geladeira, poupa o poder público e as chuvas pelos danos lhes causados pelas águas. “Essa foi uma situação provocada. Não há necessidade de jogar tudo no esgoto. Isso não é culpa do poder público, é culpa da comunidade. Falta de consciência, todo mundo tem televisão, todos têm acesso à informação, à educação, o que falta é consciência do povo”, insiste.
Revoltados, durante a madrugada os moradores interditaram a Estrada da Sobral em protestos contra a demora no socorro aos alagados. “Ligamos pra tudo quanto é poder público, Bombeiros, Defesa Civil, Polícia Militar, mas o socorro só foi chegar ao amanhecer do dia”, conta Williane Rafaela dos Santos.
O Major Charles, dos Corpo de Bombeiros, defende a corporação e alega que o atendimento teria iniciado por volta das 2h30. “Foram mais de 250 famílias atingidas e necessitando de atendimento ao mesmo tempo”, disse.
Dono da Marcenaria Silva próxima ao córrego, Antônio Ferreira, defende-se de acusações de autoridades públicas presentes no local de que sua empresa seria responsável por parte do entupimento do esgoto que represou águas da chuva. “Todos os anos isso entope, tempos atrás não existia a marcenaria e entupia do mesmo jeito. O problema é que eles [poder público] fizeram um trabalho mau feito. Era pra fazer uma galeria e eles fizeram um bueiro. Esses dias a Prefeitura de Rio Branco mandou roçar e não retirou o capim. Qualquer foto vai mostrar o tanto de capim que estava na boca do bueiro”, assegura.
Outros moradores confirmam o depoimento do dono da marcenaria e reafirmam que a prefeitura teria sido comunicada do problema. Imagens feitas pela reportagem mostram, além do capim, pranchas de madeira que foram retidas do córrego. Antônio Ferreira alega que todos os resíduos de sua empresa são retirados por uma companhia terceirizada.
Sem energia elétrica, roupas, alimentos e local para dormir a maioria dos moradores alegam não saber como irão viver nos próximos dias. O pastor evangélico Cabral do Brasil afirmou a reportagem que a partir da noite desde domingo (26) fará uma campanha junto à sua igreja para arrecadar donativos para as vítimas da alagação.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, outras quatro enchentes teriam atingidos a capital, um desses lugares teria sido o bairro São Francisco.
Veja mais fotos AQUI
Texto e fotos: Edmilson Alves, de Rio Branco-Ac
[email protected]
Redação de ac24horas