Já estávamos chegando a mais um paraíso natural do nordeste brasileiro. A empresa de turismo que contratamos oferecia um guia, um moderno micro- ônibus e uma overdose de músicas no DVD daqueles cantores que já acham que são famosos, mas que, o resto do país nunca ouviu falar.
Uma holandesa sentada ao lado voltou-se para mim e me perguntou em um espanhol engraçado: como que vocês toleram isso?
Ela se referia àquelas caras feias de meninos pobres e desnutridos que fingiam combater, com algumas enxadas “cegas”, as dunas que deixavam as estradas intransponíveis.
Olhei para cima, levemente constrangido, e mordi os lábios. Não sabia ou talvez nem quisesse respondê-la. Mas para ela, orientada em outras regiões, forjada em outra realidade, aquela pergunta tinha o maior dos sentidos. Possa ser que naquela pergunta resida uma diferença grave entre nos brasileiros e eles: educação política.
No meio de tantas carências de mais de 500 anos, imagino seja essa mais uma a nos fazer tímidos frente às questões de maior pontualidade e interesse das nossas vidas.
Minha irmã, que mora fora do Brasil, me diz que lá o cidadão naturalmente aborda o deputado na rua e busca saber quais os interesses dessa ou daquela lei aprovada. O cidadão lá se aproxima mais daqueles que ele elegeu e acompanha atento o que eles estão fazendo com o sacrifício econômico do povo.
Aqui não! Aqui as coisas gostam de ser diferente. Qualquer tentativa de querer saber mais do mundo político, já é vista com atenção e desconfiança. Qualquer artigo, opinião ou ponto de vista questionando o governo, já vem de alguém que prega a mentira contra a verdade. Qualquer crítica justaposta é armação e deve ser sufocada a bem do interesse do intocável.
O resultado disso é o desprestígio de muitos a uma área que deveria ser vista com muita responsabilidade. A abstenção das eleições municipais passadas bateu recorde, mostrando que o povo está distante, e que há razões pra isso.
Devido a certas condutas daqueles que elegemos, fazer política no Brasil tornou-se base, matéria para as piadas e casos engraçados, prato cheio para o repúdio e descrédito da população. Entre risos infindáveis a certeza: verdadeiro vômito recíproco.
Nossas autoridades não entendem que criticar o errado não é negar o que se fez e o que se faz certo. Discordar não é um tiro de rifle no que é bom para o Acre. Na verdade, aceitar essa postura, saber ouvir a diferença, mostra que ninguém é Deus, por mais que alguns possam pensar isso.
Queremos nos aproximar desse tema que marca nossa vida! Queremos educação política! Queremos entender o que é feito! Queremos saber mais de vocês. Somos nós que ficamos três horas numa fila para exercer um direito que vos sustenta. É o nosso voto que alimenta toda essa engrenagem que não pode ser reduzida a arte do se dar bem.
Mostrem-se! Expliquem-se! Qual é o medo? Qual a razão para ter medo? Temos muito a perguntar.
Não queremos saber sobre os sobrenomes de vocês. Não queremos saber o que fazem quando a luz do quarto apaga. Não queremos saber em que festa estavam, em que revista sairão ou em que praia estarão no final do ano. Os vossos times do coração não nos interessa. O nosso alvo é o papel, a figura política que tem, e deve ter, a obrigação de prestar contas.
Por que não sabemos melhor quanto e como é gasto o dinheiro público dos parlamentares acrianos? O sítio da Assembleia Legislativa, por exemplo, na internete, não é tão claro e demonstrativo como o do Poder Judiciário ou do Ministério Público. Qual mistério, qual o segredo? São os intermináveis auxílios que recebem? São os altos salários pagos? Onde está a transparência. Digam-nos! O voto é secreto, os atos públicos, não.
E no executivo, por que temos de aceitar o pagamento de pensão vitalícia a ex-governador que passa quatro anos no poder e se aposenta com 48 anos, em total afronta à crua normalidade dos comuns? Justifiquem-se!
E o antecessor desse a quem me refiro, hoje vice-presidente do senado, ganhando também essa pensão “eterna”, não temos o direito de indagar isso? Temos de ficar calado, como se fôssemos fieis em uma missa rezada em latim?
Por que a TV do governo não é pública? Por que não dá voz ao contraditório e para de ser uma mera caricatura arranhada do Diário Oficial? A liberdade de expressão não pode ser o carrasco terminal.
Onde estão os líderes sindicais que espocavam suas gargantas e quaravam ao sol em prol de melhorias para suas respectivas categorias, em frente aos órgãos públicos, com jargões e desfiles gestuais altaneiros? Por que se acalmaram tanto? O Cristo já desceu?
Que diabo é essa “florestania”, implantada no papel há quase vinte anos nesse estado tão dependente das verbas federais, submisso à lógica dos repasses da União? Inovaram na semântica, mas permanecemos engessado na realidade de índices sociais vergonhosos.
Queremos saber, senhores! Isso é educação política. Não queremos rir da incompetência de vocês. Não queremos fazer piada dos escândalos rotineiros. Não queremos sacanear os condenados empossados. O que queremos é fazer parte. Parte da política, inserir-se no que tanto nos afeta. Se nos querem de olhos fechados, amordaçados e submissos, rotos aos frutos da ausência de cidadania, sinto dizer: vão pra merda. Ou melhor, venham pra ela. Seguiremos juntos.
Por FRANCISCO RODRIGUES PEDROSA [email protected]