Para Alexandre Mendonça de Barros, é “equivocado” dizer que a questão de crédito está “tranquila” apenas por conta do aumento de recursos ofertados pelo Plano Safra.
O economista Alexandre Mendonça de Barros, sócio-diretor da MB Agro (braço da consultoria MB Associados) demonstrou ontem preocupação com o custo do crédito agrícola no país, que dobrou de 2014 para 2015.
Para ele, é “equivocado” dizer que a questão de crédito está “tranquila” apenas por conta do aumento de recursos ofertados pelo Plano Safra. “Me parece equivocada essa leitura”, afirmou o economista ao Valor, após palestra no 14º Congresso Brasileiro do Agronegócio em São Paulo.
O problema, em sua avaliação, é o aumento da fatia dos juros livres do Plano Safra, em detrimento dos juros controlados. “O que estamos vendo no campo é que os bancos estão fazendo um mix de oferta de juro livre com juro controlado”, disse ele. Nesse contexto, o juro ao produtor agrícola, na média, “praticamente dobrou”, acrescentou.
Além disso, também houve redução na oferta de crédito de pré-custeio antes de julho – início oficial da safra 2015/16 -, e essa menor oferta gerou “problemas de fluxo de caixa não desprezíveis”, afirmou Mendonça de Barros. Há, ainda, problemas decorrentes das provisões que os bancos estão fazendo nas áreas de construção e de petróleo, afirmou o economista, em alusão aos impactos da Operação Lava-Jato. “O crédito privado também se retraiu”.
O sócio-diretor da MB Agro considera que a desvalorização do real em relação o dólar foi benéfica para os produtores brasileiros de soja, algodão e carnes, entre outros. Mas os de açúcar e café não foram favorecidos pelo câmbio porque houve a queda dos preços em dólar correspondente à desvalorização do real. Isso ocorreu porque, nos dois casos, o Brasil é o grande produtor global e há forte correlação entre os preços e a cotação do real.
Questionado sobre a recuperação das exportações de carne bovina, que amargaram queda de quase 20% no primeiro semestre deste ano, Mendonça de Barros previu que a retomada será “lenta”. Segundo ele, os principais mercados que o Brasil exporta hoje são dependentes do petróleo e tiveram seu poder de compra afetado pela queda das cotações do combustível fóssil.
No médio prazo, porém, ele se disse mais otimista por conta das recentes aberturas de mercados – Estados Unidos e China – à carne in natura brasileira. “Vai demorar um pouco para [esses mercados] pegarem volume. Mas se olhar 2016 e 2017, apostaria em recuperação bastante positiva”, disse.