Marcos Venícios – editor-chefe do ac24horas
Ray Melo – Editor de Política do ac24horas
Terça-feira, 21 de abril – feriado nacional de Tiradentes – 14:30. Um das ruas do mais luxuoso conjunto habitacional do Acre [Ipê ] está vazia, sem movimentação, ao contrário do início dos anos 90, quando cada palmo nas imediações eram disputados para o estacionamento de carros de luxos, que levavam a casa do governador do Acre. Tinha fila até pra entrar e uma rigorosa revista policial era feita naqueles que tentavam ultrapassar um pequeno portão situado no lado direito da residência. Hoje, tudo mudou. Não há mais o frenesi do lado de fora, carros só os que passam na rua ao lado e na casa só um homem e suas amarguras, sem a grande movimentação de funcionários e de falsos amigos de quando tinha o poder nas mãos.
Foi assim que a reportagem do ac24horas encontrou o ex-governador Romildo Magalhães, sucessor de Edmundo Pinto (assassinado em São Paulo, no Della Volpe hotel no exercício do mandato). Magro, visivelmente abatido e sofrendo com a diabetes e problemas cardíacos, ele próprio recebeu os editores Marcos Venícios e Ray Melo para contar um pouco de seus dias desde que deixou o poder em 1995.
Com 69 anos completados no último dia 9 de abril, Romildo, com a voz inicialmente tremula afirmou ao ac24horas que é obrigado diariamente a tomar 18 tipos de comprimidos e 3 injeções de insulina, antes do café, almoço e janta. Ele confidenciou a reportagem que não conseguia enxergar com precisão os repórteres com quem está conversando por causa do problema de visão ocasionado pela diabetes. “Eu só vejo o vulto”, disse.
Cercado pela esposa Valmira [a terceira] e os filhos Héctor e Samara, com certa dificuldade, o homem que foi considerado o mais poderoso do Acre no inicio da década de 90 teve dificuldades para se acomodar na cadeira localizada na varada da casa, local da entrevista.
Romildo não é mais o mesmo, como ele mesmo faz questão de frisar. Apesar de ter se convertido ao evangelho a quase duas décadas e ter lançado oito CD’s com testemunhos de vida e hinos, ele revela e demonstra uma mágoa muito grande das pessoas a quem ele estendeu a mão enquanto governador, mas que o esqueceram após sua saída do Palácio Rio Branco. Mesmo assim, o ex-governador garante que já perdoou todos. Mas se sente incomodado pelas injustiças que sofreu nos últimos anos.
Romildo Magalhães da Silva foi prefeito Feijó, em sua cidade natal, e tornou-se governador do Acre em 17 de maio de 1992, com o assassinato de Edmundo Pinto, do qual era vice. Governo até dezembro de 1994.
ENTREVISTA
ac24horas: Como o senhor anda de saúde?
Romildo: Eu vou indo…tomo 18 pílulas e me aplicam três injeções de insulina todos os dias. Eu tô com um problema nas pernas [neuropatia diabética], não ando mais como antes, falta circulação, nem dirijo mais, tenho problema na visão por causa da diabetes.
ac24horas: Romildo, vamos tentar ir direto ao assunto… espero que o senhor esteja disposto a falar, eu sempre ouço por ai que o seu governo foi um dos piores na questão corrupção, o que o senhor tem a falar sobre isso
Romildo: Eu vejo que quando a pessoa assume o cargo de governador, ele assume a responsabilidade de dar conta de tudo, de cuidar e zelar pelo patrimônio. Eu tenho quase certeza absoluta que eu cometi alguns erros, mas as minhas virtudes foram maiores. Fiz um governo sem perseguição, sem maldade. Trabalhei até certo ponto discriminado pela bancada federal que não me ajudou. Tentei de todas as formas buscar um entendimento, mas não deu pra fazer tanto. Mas ta ai, tá feito o que o Romildo deu pra fazer, usando recursos próprios do Estado, as minhas obras foram mais com recursos próprios. E eu fiz o que pude pelo Acre. Assumi o Estado num momento difícil, conturbado, mataram o governado titular, o Edmundo Pinto, e eu tive que assumir.
ac24horas: O fato de você ter assumido após a morte do Edmundo Pinto lhe trouxe muitos problemas?
Romildo: Trouxe, porque eu não tive a tranquilidade para escolher a minha equipe de governo. Mantive quase toda a equipe do finado Edmundo Pinto de uma maneira, que eu não me diria prejudicado, mas não tive a minha liberdade como chefe do executivo de escolher uma equipe que pudesse me ajudar.
ac24horas: O senhor acha que pelo fato de não ter tido a liberdade para escolher a nova equipe, foi o seu principal erro?
Romildo: Sim, não tenho duvida disso. Mas o que eu fico preocupado é que dizem por ai que houve muita corrupção, mas porque que o Ministério Público não prendeu ninguém até hoje? Eu faço essa pergunta, porque isso me deixa intrigado.
ac24horas: Teve corrupção no seu governo?
Romildo: É o que dizem por ai. A oposição na época, comandada pelo PT, sempre taxou isso, que meu governo era corrupto, fizeram até juras para me jogar da ponte, mas graças a Deus minha consciência sempre foi tranquila. Eu sai consciente e tranquilo do meu dever.
ac24horas: O senhor tinha total controle do seu governo, como era sua relação com os secretários?
Romildo: Eu não tinha a minha equipe na mão. Eu confiei muito. Eu confiei de uma maneira que eu jamais deveria ter confiado e foi cegamente. Eu dei liberdade pra caramba. Eu lembro do meu discurso de posse lá na Eletroacre que eu disse que “eu não vou roubar e não vou deixar ninguém roubar”. Eu não roubei, mas não sei se roubaram.
ac24horas: O senhor não sabe?
Romildo: Quem deveria saber é o Ministério Público.
ac24horas: E até hoje, existe algum processo de quando o senhor foi governador?
Romildo: Existe processo de prestação de contas, de alguns convênios, que também não fui eu que movimentei. Eu só assinei o pelo lado inatitucionalda coisa, mas muitos dos meus naquela época, como o Fernando Moitinho, hoje estão trabalhando com o PT. Eu tenho que citar o nome porque eu tenho que citar. Aquele outro do planejamento também, me esqueço o nome. Eu não sei porque não prestaram contas. Eu só sei que a responsabilidade caiu sobre mim e hoje tô pagando caro. Já perdi todo o meu patrimônio.
ac24horas: O senhor perdeu muita coisa? O que o senhor tinha antes de ser governador, ganhou mais ou perdeu mais?
Romildo: Quando eu não era governador eu tinha a fazenda Felisbela, lá na estrada de Plácido de Castro. Quando era vice, vendi a fazenda e comprei a chácara do Quinari e comprei o haras na Transacreana. Eu tinha um apartamento em Fortaleza. Tudo isso antes de ser governador. Tinha esse casa aqui do Ipê, que eu comprei quando fui deputado, mas acharam que devia tomar tudo o que era meu.
ac24horas: Porque tomaram?
Romildo: Tomaram alegando um monte de coisa. Tomaram a minha chácara alegando uma questão de reforma agrária, só três hectares. Engraçado que só tomaram a minha e de mais ninguém da região. Bem, ainda não tomaram, mas é uma questão que está na justiça, espero que Deus me dê vitória nisso. Já quando perdi o meu Aras, a juíza deu parecer a favor de um cidadão. Eu só sei que quando mataram o Edmundo Pinto, devem terem dado a ordem para matar o Romildo também. Eu sei que esse povo fez o diabo comigo para eu perder até as calças.
ac24horas: O senhor foi muito perseguido?
Romildo: Continuo sendo, rapaz. Todos aqueles amigos, que se diziam amigos, me viraram as costas.
ac24horas: Como era a movimentação da sua casa na época que o senhor era governador?
Romildo: Minha casa, durante o café da manhã, tinha que servir a mesa umas oito vezes. As vezes era trinta, sessenta e até 100 pessoas para tomar café, almoçar e jantar. Na hora do almoço não cabia todo mundo em casa, tinha que distribuir o povo pelo terreiro. Eu me decepcionei muito com o cargo de governador.
ac24horas: Com a política ou com o cargo de governador?
Romildo: Com o cargo de governador. Você perde muita liberdade, tem que fazer conchavo com esse negócio de partido, porque senão o partido não apoia, não vota. Tem que dar secretaria tal, tem que dar os cargos de confiança tais e tem que dar emprego…é um negócio complicado, é uma exigência absurda.
ac24horas: E se o senhor não desse nada disso que lhe pediam?
Romildo: Se não dá, vai pro pau! Agora eu fui um governador, apesar de não ter tido formação superior e ter estudado só até a quarta série, eu sou um cara, e graças a Deus, eu herdei muitas coisas de meus velhos pais. Apesar de ser pobre, principalmente nos estudos, eu aprendi a ser uma pessoa de caráter. Eu prometi como político e honrei. Cumpri rigorosamente, mas me decepcionei muito. Eu busquei de todos os lados, usando de todos os meios, para ter um bom relacionamento com o Ministério Público, com o Tribunal de Contas , com o Tribunal de Justiça, com a Assembleia Legislativa, mas infelizmente eu fico pensando como mudam as pessoas. Quando eu me lembro que todo esse pessoal vivia dentro da minha casa, batendo tapinha nas minhas costas… [neste momento ele faz uma pausa, coloca a mão na cabeça e gira o pescoço de um lado para o outro num gesto que representa não]
ac24horas: O senhor se sente esquecido?
Romildo: Me sinto esquecido. O homem só vale o que tem. Eu hoje não valho mais nada não [Neste momento o ex-governador fica emocionado e com dificuldade para falar] Eu valho ainda alguma coisa para a minha mulher, para os meus filhos, mas amigo eu não tenho mais.
ac24horas: O senhor conta nos dedos os seus amigos?
Romildo: Contos nos dedos de uma mão só e digo agora o nome de dois aqui: Coronel Jair e o Rocha que foi meu ajudante de ordens, o resto desapareceu. Esses dois até hoje vem aqui na minha casa. No meu aniversário, que foi no dia 9 de abril, eles estavam aqui festejando comigo, comendo feijoada. O resto nem um telefonema para saber se eu já morri, faz. Quem vale hoje para essa mesma turma é o Tião Viana. Quando ele sair do poder, talvez ele vá passar pela mesma situação, mas Deus queira que não. O poder é assim mesmo.
ac24horas: E algum dia você chegou a procurar algum desses amigos que sumiram?
Romildo: Uma vez eu procurei “um amigo”, me resguardo a citar o nome [a reportagem descobriu que o a pessoa em questão é Zezé Gouveia que foi chefe de gabinete do ex-prefeito Irnad Leite], para arrumar um emprego para um neto meu, o Fabricio. Tu me acredita que ele me negou? O cara que eu ajudei quando eu era governador, hoje ele é rico, rico mesmo, milionário, dei inclusive DAS para a mulher dele. Ele me disse que não tinha como me ajudar e ainda tascou que o meu tempo era o outro tempo. Ele falou que hoje é outro momento. Eu sai de lá com a cara e o rabo entre as pernas.
ac24horas: Isso lhe magoa muito?
Romildo: Magoa demais. A ingratidão é a coisa pior que tem, meu irmão. Rapaz, se tu me faz o bem, eu não posso ter motivo para te fazer mal. Tu me fez um bem, tu me prestou uma palavra amiga , isso pra mim vale mais do que dinheiro. Essa palavra amiga desapareceu.
ac24horas: Nesse período que o senhor foi detentor de poder, você se arrepende de alguma coisa?
Romildo: Me arrependo de não ter escolhido o meu governo, de não ter tomado as rédeas. Mas eu confiei em todos os meus secretários, em toda a equipe de governo. Deixei todo mundo liberado para fazer o melhor pelo Acre, a buscar as soluções para os problemas do Acre, mas infelizmente foi ao contrário. Não deu certo não. Então eu me arrependo por isso. Se eu tivesse segurado nas rédeas, eu vou te falar que o negócio tinha sido melhor, mas ao mesmo tempo que não fico arrependido. O que eu fiz no Acre, o cara tem que ser muito doido para fazer sem dinheiro. Só com o dinheiro dos impostos, não vinha dinheiro de fora.
ac24horas: Em relação a esses secretários que tiveram liberdade para trabalhar, hoje o senhor mantém algum tipo de contato?
Romildo: Muito difícil. Quando eu passo por perto no máximo rola um oi e pronto. Tem vez que eu vou me aproximar para cumprimentar, o cara foge, vira as costas. Já tive perto de alguns que aconteceu isso. É complicado, mas é a realidade.
ac24horas: O que o senhor se orgulha mesmo do seu governo?
Romildo: Me orgulho por eu não ter roubado e do meu programa favorito, o Sopão Enche o Bucho. Eu matei a fome de muitas crianças e hoje estão todos adultos. Eu fico feliz demais. Eu encontro tanta gente que me fala desse projeto, que falam que tomavam, que levava a panela. Que aquela sopa era tão boa, que quando a pessoa chegava em casa, ela podia colocar mais água que ela rendia para não sei quantas pessoas. Sem contar também o programa de leite e pão que a gente dava no café da manhã para as famílias carentes. Esses programas sociais me orgulham muito. Se eu fosse governador novamente, que eu não quero mais nunca na minha vida, eu voltava com essas coisas. [Na época quem fornecia o sopão era a empresa do secretario da fazenda de seu governo, o empresário George Pinheiro, que num período de 2 anos e meio conseguiu pagar um dívida milionário contraída por empréstimos bancários]
ac24horas: Então o senhor que fugir de política?
Romildo: Eu quero. Na verdade, eu só tenho um candidato que é o Tião Viana. No Tião eu voto de qualquer jeito. Se ele disser que não precisa do meu voto, ele vai ficar com raiva, mas eu voto de novo. Só por um gesto de gratidão dele. Quando eu mais precisava de uma mão amiga, nenhum dos meus “amigos” apareceram, nem mesmo meus ex-secretários. Só apareceu a mão de Tião Viana, se colocando a minha disposição. Eu fui infartado daqui para Goiás e ele me ofereceu para ir para o Incor, com a junta médica do Dr. Jatene. Eu agradeci, mas não usei porque eu tenho plano de saúde, e foi tudo pago direitinho, mas agora eu corro risco de perder esse plano, caso a pensão seja cancelada. Mas foi um gesto bonito. A gente era adversário político, mas ele era meu amigo. Ele era médico da minha falecida esposa, a Toinha.
ac24horas: Hoje o senhor tem contato com o atual governador?
Romildo: Não tenho porque eu evito para não causar ciúmes ou problemas político para ele.
ac24horas: Ciúme de quem?
Romildo: Dos próprios membros do PT. Eu não quero causar nenhum constrangimento a ele para dizer por ai “ah, o Tião tá recebendo o ex-governador Romildo Magalhães que era ladrão”. Eu não quero passar por isso. Eu não procuro de jeito nenhum. Outro dia eu estava com um problema ai para apresentar, uma reinvindicação, e eu fui por intermédio do chefe de gabinete dele, mas eu não falei com ele. Só levei a demanda. Mas as vezes, quando eu caminhava aqui pelo Ipê eu sempre o via e ele me cumprimentava e na época da campanha a gente sempre se fala, se colocando a disposição e pedindo voto. Eu sempre falo pra ele que pode deixar comigo, aqui em casa todo mundo é Tião. Não vou deixar de votar nele nunca, não tem outra coisa, é só por isso. Não é porque ele é bonito, bom administrador ou qualquer outra coisa, mas sim pelo homem que ele é.
ac24horas: E o PT?
Romildo: Eu não sou PT de jeito nenhum. Eu sou Tião. Teve um dia que ele veio me pedir voto para o Jorge Viana, eu disse que só votava nele, não no Jorge.
ac24horas: E quando a gente fala em PT, resgatamos um pouco do passado, principalmente dos seus opositores. Antes de vir aqui, eu fiz uma pesquisa onde o senhor afirmava a sua pior opositora foi a então deputada Naluh Gouveia, que era do PT e hoje e Presidente do Tribunald e Contas, como era isso, qual é o sentimento de hoje?
Romildo: Era Naluh mesmo, mas também tinha a Marina, que era danada. Naquele tempo elas usavam mais maldade do que verdade. Eu não era nada daquilo que eles pintavam de mim. Eles passavam de uma forma totalmente fora do conceito. Eu era o cão pra eles. Eu não sei porque isso. Não sei se foi porque vim de vereador, prefeito e deputado….pois na história do Acre não existe ninguém que galgou todos esses cargos além de mim. E isso tem mexido muito com as pessoas, não só com o PT não, mas com a maior parte dos políticos do Acre. Imagina só; o cara que vem lá de Feijó, é vereador três vezes, prefeito duas vezes, deputado duas vezes e chegou a ser governador, com apenas um quarto ano do primário…
ac24horas: O senhor se orgulha dessa sua trajetória?
Romildo: Ah, não tenha a menor duvida. Me orgulho e debito toda essa estrela a minha falecida mãe Mocinha Magalhães. A minha mãe era politica. Esse Acre não tem uma mulher desse nível e vai ser muito difícil criar. Aquela ali era líder, sabia fazer liderança e não era com dinheiro não. Minha mãe fazia liderança prestando serviço, ajudando, fazendo bem, sem olhar a quem. Andando em ramal no inverno para pegar menino que estava nascendo, ia curar outra que tinha sido picado por uma cobra.
ac24horas: Pelo visto, você e sua família sempre foram focados ao assistencialismo, o senhor acha que atualmente falta mais isso?
Romildo: Eu acho que hoje para se fazer uma liderança política, o assistencialismo não faz mais não. Hoje o que vale mesmo é o dinheiro.
ac24horas: E Romildo, e naquela época que você foi governador, se o senhor tivesse acesso a esses empréstimos que o atual governo tem, dava para ter mudado o Acre?
Romildo: Teria sido bem diferente. Administrar igual a mim eu quero é ver. Eu digo que sou administrador porque eu sou. Eu sou presente nas obras que eu fiz. Mesmo sem ter dinheiro eu tava lá, olhando pedaço por pedaço das obras. Eu acompanhava. O pouquinho que tínhamos estava lá sendo investido. Quando eu era prefeito de Feijó era a mesma coisa. Quando o motorista do caminhão tava cansado, eu falava sai de cima que eu dirijo. Eu ia puxar barro, puxar tijolo, puxar areia, trabalhar de manhã, tarde, noite e madrugada. Eu fazia tudo isso. Se eu tivesse dinheiro, como os outros tem por ai, meu irmão, as coisas teriam sido diferentes.
ac24horas: O senhor se orgulha de ser honesto? Como o senhor sente quando alguém lhe taxa de algo negativo?
Romildo: Eu me orgulho de ser honesto, não tenha duvida. Eu não admito que ninguém tenha nem duvida da minha honestidade. Tanto é que ta ai a prova, estou com 22 anos que deixei o governo e graças a Deus minha vida está ai aberta Você não vai encontrar um real que não seja meu. Lembrei agora de uma: Teve uma época que o Sergio Taboado e o Nilson Mourão pediram para ir num banco da Suíça para saber se eu dinheiro lá. Eles inventaram um história de um Hotel em Palmas, no Tocantins, que tinha 250 apartamentos e que era meu também. Disseram que eu era o Rei da Gasolina pois tinha não sei quantos postos aqui. Tudo isso tramado, levantado pelo PT, mas graças a Deus eu não tinha nada não. O que eu consegui na minha vida como político, não foi como governador. Como governador, todo o salário que eu tinha, eu ajudava os pobres.
ac24horas: O senhor se arrepende disso, de ter ajudado as pessoas?
Romildo: Não me arrependo. Eu só sei que não juntei nada. Pode MP pedir contas, extratos e o que quiser. Eu não roubei nada. Durmo tranquilamente todas as noites.
ac24horas: Como era a sua relação com a classe empresarial naquela época?
Romildo: O que tinha de obras para dividir, eu dividia com os daqui, só os daqui. Era pouquinho, mas todo mundo ficava satisfeito. Pode perguntar para esse pessoal da Federação da Indústria.
ac24horas: E por falar empresariado, quem foi George Pinheiro para o senhor?
Romildo: George Pinheiro foi bom. Para mim eu achei que ele foi bom, mas eu fiquei até certo ponto precisando de algumas explicações de algumas coisas, que na hora que eu mais precisei, ele não compareceu. Ele deveria ter comparecido, ele, Abdel, Fernando Moitinho, todo esse pessoal. Quando viram que eu estava respondendo todos os processos, os atos de alguém que fez algo errado, ninguém se ofereceu. Eu quero dizer que as coisas acontecem e a gente se decepciona com muitas coisas.
ac24horas: Foram essas decepções que fizeram o senhor se aproximar mais de Deus?
Romildo: Sim, com toda a certeza. Eu sou Evangélico há 17 anos, graças a Deus. Isso foi a transformação da minha vida como homem cristão. Isso é o que me alimenta. Eu sou um homem alimentado. O que o mundo tá me negando, que é o reconhecimento, que é a consideração, o respeito, até certo ponto as amizades, eu tô recebendo lá de cima. Deus tem sido maravilhoso em minha vida. Deus é bom e é bom demais. Eu fui curado de certos problemas de saúde. Hoje eu sou um homem dedicado a Deus, a minha família está sendo restaurada , então eu me considero um homem feliz. Essa aproximação com Deus veio me segurar. Enquanto alguns jogam pedra, nós, eu e minha família, estamos aqui nos defendendo espiritualmente, em oração.
ac24horas: O senhor tem algum tipo de contato com a viúva de Edmundo Pinto, a dona Fátima Almeida? Aliás, naquele momento da morte do governador, o senhor se tornou uma pessoa próxima da família?
Romildo: Da família do Edmundo Pinto eu só tinha contato com o seu Pedro Veras, o pai do governador. Nós sempre nos comunicávamos, visitei ele algumas vezes na casa dele e também ele trabalhou comigo até eu sair do governo, mas a Fatima mesmo eu não tive noticias. Não sei nem se ela tá morando aqui ainda, mas é uma pessoa que sempre teve o meu respeito, lamentei, dei condolências pela morte do Edmundo. Não era aquilo que o Acre queria, não era isso que eu queria. Nós estávamos afinados, consciente de que ele sairia candidato ao senado e eu assumiria o governo de qualquer maneira.
ac24horas: Em alguns momentos, você e o Edmundo tiveram divergências, correto?
Romildo: Sim. Mas foram problemas quando ele escolheu umas pessoas da equipe dele, tipo o Pitiman, o Mario Emilio Malaquias… falo em questão desse pessoal. Sempre fui contra. Eu dizia para ele que esses caras iam estragar o governo. Eu acho que estragou.
ac24horas: O senhor acha que dentro do seu governo tinha muito fogo-amigo, as pessoas mesmo da sua equipe trabalhavam contra o senhor?
Romildo: Hoje eu acho que tinha. Na época eu nem imaginava, mas hoje eu penso que sim. Eu acho que tinha e me reservo a falar um nome, mas todo mundo sabe, meus amigos sabem, minha família sabe que eu tive várias ações na justiça e tive até como ganhar, mas eu perdi todas elas por falta de cumprir prazos. E esse cara foi meu advogado e fez parte do meu governo. Eu acho que ele fez de propósito, ele fez para acabar comigo. O motivo eu não sei…e essas coisas nos decepcionam. Como o homem é pobre quando não tem caráter, não tem personalidade. Como eu te disse, política pra mim, só é o Tião Viana. No dia que ele não se candidatar mais, eu rasgo o titulo.
ac24horas: Em nenhum momento o senhor pensou em ter um herdeiro político?
Romildo: Meus filhos não querem saber de política. Teve um momento, depois de eu ser governador, que se eu lanço um deles candidatos a vereador ou até deputado estadual, poderíamos até ter ganhado. Eu não tenho herdeiro político, tô fora disso.
ac24horas: Eu vejo que você é muito ligado a sua família e sei também que você perdeu um filho de forma trágica. Esse foi a pior do que o senhor já sentiu fora do governo?
Romildo: É…[fica pensantivo] Nós estávamos trabalhando no sábado no Haras e no domingo mataram meu filho. Eu sinto e choro isso todos os dias. Na verdade falar disso me incomoda. A perda de um filho é irreparável. Filho é sempre filho. È muito dolorido, principalmente da maneira que mataram o meu filho. Foi algo covarde e isso eu não consigo esquecer…essa ferida não sara, ela não fecha de jeito nenhum.
ac24horas: Eu soube que o senhor perdoou os assassinos de seus filhos, mas o senhor perdoa todos os oposicionistas que fizeram a sua vida durante o governo num inferno?
Romildo: Claro, perdoei. Se eu não perdoar, como vou para o céu. A bíblia diz que se você quer ser perdoado, você tem que liberar perdão, isso tá na palavra. Nós, para sermos perdoados, diante do senhor que nós servimos que é Deus, nós temos que liberar perdão, meu irmão. Se você guarda consigo a raiva, o ódio de alguém, você tá alimentando e satisfazendo a vontade do diabo , porque quem não libera o perdão é o satanás, mas quem é cristão, é filho de Deus, nunca vai deixar de liberar perdão. Então eu lhe digo, liberar perdão é buscar salvação. Todos esses ai que me causaram danos, até posso dizer danos morais, tá liberado o perdão para eles. Eu tô pagando caro, mas tá liberado o perdão e que seja feita a vontade de Deus. Eu durmo tranquilamente.
A angústia de perder a pensão
Atualmente recebendo cerca de R$ 30 mil por mês, Romildo Magalhães é um dos 14 beneficiados do Acre que recebem pensão vitalícia do Estado. O beneficio, que vem sendo questionado, deve ter um capitulo final nos próximos meses no Supremo Tribunal Federal (STF), deixa o ex-todo poderoso do Acre e sua família angustiados.
Romildo revela que mesmo recebendo o beneficio a mais de duas décadas, nunca conseguiu viabilizar um negócio, um meio de vida, por ter ficado doente. Ele revela que se perder o beneficio, dependerá apenas dos seus filhos.
Ao ac24horas, Romildo diz que só com remédios, tirando o plano de saúde, gasta cerca de R$ 1.500 todos os meses e afirma que terá dificuldades para se adequar a nova realidade que se aproxima. Ele ainda diz que apesar das pessoas dizerem por ai que vida de ex-governador é fácil, destaca que boa parte de seus vencimentos é usado para ajudar familiares doentes que precisam de ajuda.
Afirmando se apegar a Deus, Romildo afirma deixa a decisão de seus últimos dias na mão dele e diz: “Que seja o que Deus quiser”.
ac24horas: E sobre o risco de perder a pensão para governador que está sendo questionada na justiça?
Romildo: Eu tô ai. Se eu deixar de receber, eu vou depender dos meus filhos. Eu não tenho outro meio de vida.
ac24horas: O senhor não conseguiu se viabilizar nesses anos todos que recebe essa pensão?
Romildo: Não. A minha conta no Banco do Brasil tá ai aberta para quem quiser ver. Logo que sai do governo eu fiquei muito doente. Eu fui operado do coração, fiz três pontes de safena, três angioplastias, sete cateterismo, sou diabético e sofro ainda de pressão alta, alta mesmo, além desse problema da falta de circulação nas pernas. Eu era pra tá andando de muleta, mas eu tomo 18 comprimidos por dia e mais três injeções de insulina. Isso é todo o dia, pelo resto da minha vida. Já pensou o cabra passar o dia todim com dor, como eu fico? Sem contar que já perdi não sei quantos por centos da minha visão. Se vão tomar a minha pensão, toma. Que seja feita a vontade de Deus.
ac24horas: Mas hoje a sua família, a sua casa depende disso, dessa pensão?
Romildo: Depende. Se acabar eu vou ter que sentar com a minha mulher e refazer tudo de novo. Vai ser um caos, mas eu quero te dizer uma coisa, com toda a sinceridade do meu coração, perder eu não quero perder, mas eu queria que fosse vista essa minha situação, não só minha, mas como de outras pessoas que são estritamente dependentes desse beneficio, mas se isso acontecer, eu só posso me apegar a Deus mesmo. Eu só tenho ele e a minha família. Amigo eu não tenho, nem mesmo o cara que eu fiz ele ficar rico, mas Deus eu tenho de forma abundante.
ac24horas: O senhor acha correto uma pessoa ser governador por 4 anos e logo em seguida receber uma pensão?
Romildo: Eu não acharia correto se não tivesse a pensão para presidência da república. Todo mundo é beneficiado. Agora se não tivesse, eu também concordo, corta de todo mundo. Agora da mesma maneira que um presidente da república tem com ele os segredos, o sigilo de Estado, do seu país, o governador também tem os segredos do seu Estado. Se eu colocasse a boca no trombone e revelasse segredos de Estado, o negócios ia virar uma farinhada. Eu guardo segredo de todo mundo e vou levar pro tumulo. Eu guardo segredo de muita gente que se diz a grande reserva moral da política, a grande reserva moral da honestidade. Honestidade, ó! [Romildo cruza os braços e dá uma banana]
ac24horas: como senhor analisa a atual situação política?
Romildo: É um mar de lama a nível nacional . Ainda bem que o Tião não tá envolvido nessas coisas…
ac24horas: Mas ele tá sendo investigado na Lava Jato…
Romildo: Bem, eu espero que não esteja mesmo [envolvido]. Mas a esculhambação é grande. Isso ai tá uma roubalheira desgraçada. Eu nunca vi uma época para ter tanto ladrão como agora. Esse povo de agora rouba porque sabe roubar. E o pior que eles tem o descaramento de dizer que são honestos. Nosso país virou uma vergonha e eles ficam se preocupando com a pensãozinha do governador doente, operado do coração, diabético, lascado da vida e ficam preocupados com isso. Nesse país não se sabe mais falar R$ 100 mil, R$ 200 mil, agora é do milhão, bilhão e dai para a frente. Quebraram a calculadora. Ai os honestos estão lá dentro do Tribunal de Contas, estão lá dentro do Ministério Público, os honestos estão lá dentro do Tribunal de Justiça, os honestos estão na Assembleia Legislativa, na Câmara de Vereadores, os honestos estão lá dentro da prefeitura, do governo do Estado. Só quem é ladrão na cabeça desse povo são os ex-governadores. Com esses, tem que acabar com a pensão, tem que acabar com tudo.
ac24horas: Fora da política, com problemas de saúde, o senhor resolveu ser recolher, sair dos holofotes . Eu noto que o Nabor Junior, ex governador, sempre é requisitado em alguns momentos, a família do Orleir Cameli, como ele não está mais vivo, é sempre requisitada, e o Romildo, como fica nessa história?
Romildo: O Romildo não existe. Eu não recebo convite aqui pra nada não. Eu vivo para dentro da minha casa. Agora eu não dou nenhum motivo para ninguém vir me atacar, que eu sou isso ou aquilo, eu sou da minha família. Eu abandonei a política e não fiquei puxando o saco de ninguém não. Eu não fiquei pedindo esmola pra ninguém não. Eu vou passar por necessidade, eu sei passar. Eu sei enfrentar também os momentos difíceis. Eu tenho um Deus no qual eu confio, a quem eu acredito, a quem entrego o meu fardo pesado.
ac24horas: Como é a sua rotina de vida?
Romildo: A minha rotina é assistindo tv, assistindo um futebol, um jornal, sou vascaíno, meus filhos também são, só não minha mulher que é flamenguista, mas ela sofreu no último domingo [Risos]. Quando eu saio, só se for com o meu filho, pois não dirijo mais. Eu também crio galinhas e codornas.
Criação de aves pode ser o único meio de sustento de Romildo e sua família
Usado inicialmente como um hobbie, a criação de galinhas e codornas no amplo quintal da casa do ex-governador pode ser nos próximos meses o único meio de sobrevivência da família. O filho de Romildo, Héctor Magalhães, explica que a pequena granja do pai trabalha apenas com galinha caipira do ovo azul e dois tipos de codorna, o codornão e a codorna normal.
Mais a vontade na entrevista, o ex-governador brinca e afirma: “Isso aqui não é hobbie não. Se acabar a minha pensão, eu vou ter pelo menos ovos pra comer”.
Apesar do processo de produção ser pequeno, a família espera que o negócio prospere. A expectativa é que nasçam cerca 500 codornas nos próximos dias.
Em determinado momento da prosa, Romildo Magalhães pega uma carinhosamente uma codorna e começa a fala: “Essa daqui é quem vai dar um ovinho para eu comer se a pensão acabar. É você minha filha que vai me servir. 10 ovos seus me rende um almoço tranquilo”, diz um dos homens mais poderosos do Acre no inicio da década de 90.
Depois de mostrar as codornas, Romildo levou a reportagem para conhecer a sua criação de galinhas num terreno ao lado. Com um pouco de xerém de milho, ele deixou o ac24horas registrá-lo dando de comer as aves. Ele afirma que boa parte do seu dia é dedica a cuidar das aves que cria.
Com a prosa ultrapassando mais de uma hora e mais sereno, Magalhães revela que o dinheiro que ganha não serve só para ele, mas sim para toda a família. “Todos dependem de mim, eu não sou homem de mentir e vou te falar uma coisa, de todo esse dinheiro que eu ganho, eu não gasto muita coisa comigo não, a não ser com os meus remédios, que esses custam caro”, diz.
Valmira Magalhães, que está casada com Romido a quase duas décadas, informou a reportagem que somente de remédio, tirando o plano de saúde, R$ 1.500 são gastos todos os meses. Ela revela que parte do salário do ex-governador é usado para custear o tratamento de parentes que estão doentes.
Voltando a falar sobre medicamentos, Romildo diz que só recebe grátis dois remédios do governo, que custam no mercado entre R$ 6 e R$ 8, sendo que o mais caros é a aposentadoria que paga. “ Eu só sei que se eu perder isso, vou tentar pelo menos conseguir me aposentar pelo Funrural, pelo menos a um salário mínimo eu devo ter direito”, comenta.
Ex-governador brinca com o dia que fez um banquete de sardinha para seus secretários e integrantes da imprensa
Conversado com a reportagem, Romildo pergunta se o jornalista Roberto Vaz, presidente do Conselho Editoral do ac24horas, ainda exerce a profissão. Com a afirmativa dos repórter Marcos Venicios e Ray Melo, o ex-governador sorrir e diz que tem algo interessante para contar.
“Certa vez organizei um almoço, uma peixada para os meus secretários, diretores e os donos dos jornais. E nesse dia, o Roberto Vaz apareceu. Não só ele, como os demais chefes de jornais da época. Eu lembro da cara do Roberto, ele olhava para mim, mas quando eu olhava para ele, ele já mudava de posição, fingindo não me ver”, diz.
Nesse almoço, Romildo conta queria dar uma lição em sua equipe e mandar recado aos donos de jornais. “ Eu pedi para convidarem o presidente da Aleac, que era o Bestene, mas o fela da mãe não foi, convide todos os secretários, diretores e a imprensa em peso. Vou fazer uma peixada lá em casa, hoje às 13 horas”.
Romildo conta que ao chegar em casa, viu muitas pessoas. Todo o primeiro escalão de seu governo estava presente. “Até os que não tinham sido convidados apareceram”, brinca Magalhães.
“Eu lembro que uma pessoa que foi deputado nesses últimos tempos [Walter Prado] sentou bem do meu lado da mesa. Eu fui e pedi para que o Oscar, um dos meus ajudantes, trouxesse a peixada. O Oscar trouxe uma bacia enorme cheia de sardinha frita. Eu lembro que na época eu comprei duas caixas de sardinha, onde cada caixa tinha 45 latinhas sardinhas. Aquilo ali rendeu uma bacia enorme. Eu pedi ainda que fizessem um arroz bem liguento, daqueles que você joga na parede e gruda. O Oscar sabia que eu estava fazendo isso para sacanear”, explica.
Na hora de servir, Romildo pegou um prato de um dos convidados e começou a servi-lo. E logo em seguida, pediu que os demais se servissem também. “Nessa brincadeira, todo mundo ficou estranhando, olhando um para o outro e eu dizendo bora comer que o negócio tá delicioso. Terminando o almoço, teve gente que teve coragem, um puxa-saco, que ainda falou: Tava delicioso, governador. Eu cá comigo, quanta falsidade”, conta Romildo soltando gargalhadas.
Romildo revela que a pessoa que elogiou o cardápio foi obrigada por ele a comer mais uma vez uma pratada de arroz com sardinha. “Dizem que esse rapaz depois foi correndo para o banheiro passando mal, mas eu não vi”, afirma.
O ex-governador afirma que “ficou muito feliz por um bom tempo” depois que fez isso. “Até hoje é um alento”, diz Magalhães sorrindo.
Romildo revela o “real motivo” do atraso dos salários dos servidores
Mais descontraído, Romildo contou ao ac24horas a nebulosa manobra que fez com que os salários do servidores públicos ficassem atrasados no Acre. Sem papas na língua, o ex-governador fala que sempre quis “repor a verdade”, mas que a oposição na época capitaneada pelo PT, sempre tentou “deturpar tudo”.
“Eu vou dizer para você porque atrasou o salário. Eu chego de Belém (PA) e eu sabia que tinha uma reunião marcada no Deracre. Então do Aeroporto eu já fui para lá. Nessa reunião tava a Naluh, Francisca Marinheiro, tava a Almerinda, tava o PT em peso, até mesmo O Nilson Mourão e o Sergio Taboada, mas também tinha uma turma minha, o George Pinheiro, o Severiano, todos imprensados pela turma do PT que exigia reajuste no funcionalismo público. Isso já era no último semestre do meu governo, já ia entregar o cargo meses na frente. Eu fui abri o Caixa pra eles e disse que não dava pra dar aumento”, revela Romildo.
Nesta reunião, o ex-governador diz que a então deputada Naluh Gouveia se exaltou, cobrando o reajuste. “Ela foi a que deu a ideia de que eu mexesse no fundo previdenciário. EU perguntei para a minha equipe se isso poderia ser feito. Eles disseram que não. Eu sei que na discussão, lá vai eu, já tava pra deixar o cargo mesmo, concordo em retirar R$ 2 milhões do fundo previdenciário para dar aumento aos servidores. Isso pra época era um aumento de 59%, eu quase que dobrei a folha salarial. Eu sei que disse que se era pra ser assim, vamos todos nós assinar um documento e todos os petistas concordaram. Ai eu bati o aumento e disse que daria, mas afirmei que o pagamento iria atrasar. Eu sei que fizeram uma minuta, bateram o documento e eu combinei para que todos fossem para o Palácio para assinar. O fato é que ninguém apareceu, nem mesmo a Naluh que deu a ideia, nem Marina, nem Nilson Mourão, nem o Taboada. Eu sei que só tinha eu e o Elieser do judiciário para assinar e nós assinamos e eu dei a ordem parra baixarem o decreto. Quando foi no outro dia, depois que efetivei o aumento, eu encontro a Naluh nas escadarias da Aleac. Ai eu perguntei: “Naluh, cadê o documento?”. Ela respondeu: “Ah, o pessoal disse que não vai assinar não”. Ai eu encasquetei e chamei todo mundo de covarde, mas que “algo bem legal” iria acontecer, o atraso no salário. Ai eu sei que eu dei a ordem para tirar R$ 2 milhões do FPE para cobrir o buraco do fundo previdenciário e o Orleir, meu sucessor, não resolveu isso e deixou a divida com os servidores acumularem. Do jeito que eu te conto aqui, eu não aumentei e não inventei não. Foram com essas palavras mesmo”, diz o ex-governador.