Aos 25 anos, o indígena Luciano Ariabo Kezo vai concluir em 2015 o curso de letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e quer fazer mestrado. Em 2012, escreveu um livro que ajuda a ensinar a língua umutina-balatiponé, relatada pela Unesco como “extinta”, e programa a segunda obra. Na próxima semana, vai integrar a comissão brasileira no Fórum Permanente sobre Questões Indígenas da ONU, no qual discursará em inglês e espanhol sobre o direito dos povos indígenas no Brasil e no mundo, abordando problemas como o suicídio e a automutilação, e desconstrói estereótipos.
Ele concedeu a entrevista ao G1 durante a I Semana dos Estudantes Indígenas da UFSCar, em São Carlos (SP), realizada como contraposição ao 19 de abril. “Queríamos aproveitar esse momento, em que as escolas estão chamando, e mostrar que não existe ‘Dia do Índio’. Parece que só somos lembrados nessa data. Estamos na história do Brasil até hoje, todos os dias. Vê-se o índio no pretérito. Para ser índio, tem que ser o que era no século 16, e essa imagem do passado também é uma construção”.
Sentado ao lado da quadra de esportes em que ocorria o encerramento do evento, ele mostrou objetos e adornos. Um instrumento feito de casco de anta se sobressaía no cesto e Ariabo contou que a carne do animal é consumida na reserva de onde veio, em Barra do Bugres (MT), a 1.459 km de São Carlos (SP), onde hoje vive com a companheira e os dois filhos. “Minha vó fazia na brasa, retirava pedaços aos poucos e amassava no pilão para fazer uma paçoca com farinha”, disse ele, que sente falta da comida e das pessoas.
Desde que entrou na universidade, em 2010, Ariabo vai para a casa da mãe apenas nas férias de fim de ano e tem vontade de voltar, como muitos indígenas que deixam suas aldeias. Nos eventos, esses jovens que saíram de casa se conhecem, estudam propostas para o ensino superior e se fortalecem politicamente. “Muitos entram, chegam para atender necessidades do povo, adquirir as armas do sistema para defender e preservar”, explicou.
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