Quando começou a cursar a licenciatura em Teatro pela Universidade de Brasília (UnB), pelo programa Universidade Aberta do Brasil (UAB), Maria de Nazaré Marques não imaginava o que encontraria pela frente. Professora do ensino médio, ela ainda usava mimeógrafo para copiar as provas que aplicava aos alunos de Cruzeiro do Sul, no Acre. O computador foi o primeiro desafio que ela enfrentou na educação a distância. Quatro anos depois, tem e-mail, Facebook, Skype e ainda usa a internet para paquerar. “Hoje sou uma mulher conectada”, diz.
Nazaré, como é chamada pelos colegas de curso e professores, foi a única aluna que se formou em Teatro na primeira turma da UAB oferecida pela UnB. Dezessete colegas desistiram pelo caminho. “Ninguém sabia nada de computador, ainda não tinha pólo, a gente dependia de salas de aula das escolas”, conta. “Nós, professores, ainda copiávamos prova no mimeógrafo e não usávamos o computador como recurso didático”.
Nas primeiras noites em frente ao computador, chorou, xingou, jogou o teclado no chão e, finalmente, desistiu de brigar com a máquina. “Um dia eu decidi que ia aprender a lidar com tudo isso. Aprendi sozinha a mexer no Word. Meu sobrinho pequeno me ajudou muito”, lembra. “A educação a distância veio tirar as pessoas do analfabetismo digital. Ampliou os meus limites e aumentou as possibilidades. Esse contato exercita a criatividade”.
Hoje ela fica acordada até tarde, navegando pela internet. Fez amigos e já até aprendeu algumas expressões em outras línguas. Tudo a partir do curso que fez pela UnB. “A UnB mudou a minha vida totalmente. Mudou a minha visão de mundo”, afirma. “Eles acreditaram na gente, acreditaram que a gente é capaz e isso mudou a minha relação com os meus alunos. Hoje acredito neles e posso dar o meu próprio exemplo na sala de aula, quando eles acham que não conseguem fazer alguma coisa”.
Parceria
Dez licenciados em Música e cinco em Artes Visuais formaram-se com Nazaré no dia 8 de fevereiro de 2012, em Cruzeiro do Sul, no Acre. A turma faz parte do programa UAB 1, que começou em 2007, quando 1.080 alunos ingressaram na UnB virtualmente, por meio do ensino a distância. Em Acrelância, município a 117 quilômetros da capital do Acre, Rio Branco, cinco licenciados, em Artes Visuais e Música, receberam o canudo da UnB.
Para o secretário estadual de Educação, Daniel Zen, a parceria entre a Universidade de Brasília e o Governo do Acre, por meio do Governo Federal, traz aos municípios que têm a oportunidade de participar da UAB a oportunidade de preencher os cargos de professores com recursos humanos qualificados. “Ainda mais em uma área sensível como as artes. Muitos desses formandos ainda não são professores, mas entrarão em nossos próximos concursos”, afirma. Ele disse que haverá uma prova ainda este ano ou no ano que vem. “Ensino a distância é a alternativa mais viável para democratizar o acesso ao ensino superior”.
Democratização
Segundo o secretário, todos os anos, 9 mil alunos concluem o ensino médio e esse número deve chegar a 15 mil em quatro anos. “Se somarmos as vagas da Universidade Federal do Acre (UFAC), do Instituto Federal e das instituições particulares, temos 5 mil vagas para 9 mil formandos. Temos uma demanda gigantesca por ensino superior. Estamos tratando de uma demanda reprimida”. Atualmente, o Acre conta com 94% dos professores da rede estadual com ensino superior e parte dessa conquista deve-se ao ensino a distância.
Para o professor Rui Seimertz, coordenador operacional adjunto de Ensino de Graduação a Distância da UnB , que representou o reitor José Geraldo de Sousa Junior na cerimônia de colação de grau em Cruzeiro do Sul, os novos professores foram persistentes. “Eles acreditaram bastante que essa era a chance”, diz. Casos como o de Nazaré, de alunos que não tinham intimidade com o computador, foram muito constantes ao longo do curso. Este é um dos motivos de tanta evasão — de 1.080, apenas 242 chegaram ao fim dos cursos. O professor atribui o sucesso do diploma a uma preocupação dos alunos com os estudos. “A maioria deles já tinha concluído um curso ou, pelo menos, começado. Quem chegou até o fim tinha o hábito do estudo”.
Para Rui, a Universidade de Brasília precisa criar um programa de acompanhamento do aluno egresso. “Com isso, teremos uma ideia da valorização do trabalho das pessoas formadas em educação a distância e o impacto que elas geram no local onde vivem”, diz. “Também precisamos envolver mais professores nessa modalidade de ensino, que acrescentem, contribuam. Temos de vencer a resistência acadêmica de alguns colegas. Os resultados mostram que dá certo”.
FONTE – UnB Agência
Thais Antonio – Jornalista