O médico e apresentador Dr. Fabrício Lemos entrevistou no programa Médico 24 Horas exibido nesta segunda-feira (3) pelo ac24horas.com e nas redes sociais oficiais do jornal, a médica gastroenterologista, Dra. Raisa Ribeiro, numa conversa esclarecedora sobre os principais problemas do aparelho digestivo enfrentados pela população do Acre.
De acordo com Raisa, as síndromes dispépticas, que englobam gastrite, refluxo e doenças funcionais do estômago, estão entre as queixas mais frequentes nos ambulatórios acreanos. “Também temos observado muitos casos de diarreias prolongadas, doenças inflamatórias intestinais e doença hepática gordurosa”, explicou. A síndrome dispéptica, destacou ela, reúne sintomas como azia, empachamento, náuseas, vômitos e dor no estômago. Já a gastrite pode variar de leve a intensa, mas a gravidade nem sempre está relacionada à intensidade dos sintomas. “Mesmo uma gastrite leve pode causar desconforto importante, enquanto outra mais exuberante pode ser quase assintomática”, disse.
Um dos pontos centrais da entrevista foi a infecção por Helicobacter pylori (H. pylori), bactéria presente em mais da metade da população mundial e uma das principais causas de gastrite. “Além da inflamação, ela pode causar úlceras e até câncer gástrico. Por isso, hoje o protocolo é tratar todos os pacientes diagnosticados”, ressaltou.
A médica alertou que a contaminação ocorre principalmente por água e alimentos contaminados e por contato oral, inclusive boca a boca. Ela também chamou atenção para a necessidade de confirmar a cura após o tratamento, já que o uso excessivo de antibióticos durante a pandemia aumentou a resistência da bactéria.
Foto: Iago Nascimento/ac24horas
Refluxo, automedicação e importância da endoscopia
Dra. Raisa explicou que o refluxo gastroesofágico ocorre quando o ácido do estômago retorna ao esôfago, que não é preparado para receber substâncias ácidas. “Isso causa azia, queimação e gosto amargo na boca”, detalhou. O diagnóstico pode ser feito por endoscopia ou pH-metria, exame que mede o nível de acidez no esôfago.
Ela alertou sobre o uso indiscriminado de omeprazol e outros antiácidos, comuns na automedicação. “O ideal é investigar antes de tratar. A dispepsia pode ser uma simples gastrite, mas também pode indicar algo mais grave, como um câncer gástrico”, reforçou.
Doenças inflamatórias intestinais e o papel da alimentação
Outro tema em destaque foi a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, principais enfermidades inflamatórias do intestino. Ambas têm origem multifatorial, com influência genética, ambiental e alimentar. “A ocidentalização da dieta, com muitos ultraprocessados, açúcares e corantes, tem relação com o aumento desses diagnósticos”, explicou.
A médica também destacou a constipação intestinal funcional, causada principalmente pela falta de água, fibras e atividade física. “Esses três pilares são essenciais para o bom funcionamento intestinal”, orientou.
Foto: Iago Nascimento/ac24horas
Diverticulite e hábitos intestinais
Sobre a diverticulite, Raisa esclareceu que são pequenas bolsas formadas na parede do intestino, comuns em idosos e em dietas pobres em fibras. Elas podem inflamar e causar dor abdominal, febre e sangramento. Segundo ela, evacuar de duas a três vezes por dia até três vezes por semana é considerado normal.
Água, saneamento e parasitoses no Acre
A médica também abordou a relação entre as doenças gastrointestinais e o saneamento básico no Acre. “Políticas públicas de saneamento precisam ser prioridade. A água que consumimos precisa passar por tratamento adequado”, afirmou. Questionada sobre as principais parasitoses encontradas no estado, citou a amebíase e a ascaridíase (lombriga) como as mais frequentes, ambas relacionadas à água contaminada.
Assista a entrevista completa pelo link abaixo:
